Da Redação
Com Lusa
Nesta quinta-feira, o primeiro-ministro frisou que os “parceiros naturais” do Governo socialista estão à esquerda do PS, mas considerou que “dramatizaram excessivamente algumas perdas eleitorais” nas últimas legislativas e erraram na análise sobre a vontade dos portugueses.
António Costa falava na Assembleia da República, depois da proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2020 ter sido aprovada, tendo ao seu lado o ministro de Estado e das Finanças, Mário Centeno, e o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro.
Questionado sobre a saúde da relação política entre o PS a as forças à sua esquerda, que desta vez optaram pela abstenção (e não pelo voto favorável) para a viabilização da proposta orçamental, o líder do executivo começou por referir que Bloco de Esquerda e PCP “fizeram toda a última campanha eleitoral com o objetivo de impedir uma maioria absoluta” dos socialistas.
Depois, reconheceu diferenças na relação atual do PS com o BE e PCP face à anterior legislatura e situou as causas nos resultados das últimas eleições.
Para António Costa, face aos resultados verificados nas últimas eleições legislativas, Bloco de Esquerda e PCP poderão não ter feito a análise política mais correta sobre a vontade manifestada pelos portugueses.
“Desde a noite das eleições não tive dúvidas sobre o que significavam os resultados eleitorais, com os portugueses a dizer que desejavam que a geringonça continuasse agora com um PS mais forte. Mas acho que os nossos parceiros dramatizaram excessivamente algumas perdas conjunturais que terão registado e interpretaram erradamente com uma vontade dos portugueses de não darem continuidade à geringonça, ou de que esta solução política lhes tivesse sido prejudicial. Mas essa não é de todo em todo a nossa análise”, contrapôs.
Pelo contrário, segundo António Costa, nas últimas eleições legislativas, “a direita teve a maior derrota eleitoral de sempre, pulverizou-se e está hoje mais fraca – e isso foi fruto do sucesso da governação dos últimos quatro anos”.
“Os portugueses desejam continuidade da governação dos últimos quatro anos e que este quinto Orçamento confirma isso”, defendeu.
Perante os jornalistas, António Costa também recusou acusações de que o PS e o seu Governo estão agora nesta legislatura menos abertos ao diálogo político.
“Sempre dissemos que, com ou sem maioria absoluta, iríamos negociar – e assim temos feito, já que tanto o programa do Governo, como este Orçamento após a especialidade, apresentam diferenças resultantes das negociações com o Bloco de Esquerda, PCP, PAN e Livre. Nós não vamos andar aqui nesta legislatura numa lógica de ziguezague à procura de quem quer casar com a carochinha”, advertiu.
Neste ponto, o primeiro-ministro salientou que “há um programa do Governo que todos conhecem”.
“E temos parceiros que são os nossos parceiros naturais. Os nossos parceiros naturais estão à esquerda e não em outro lado”, acentuou, antes de voltar a rejeitar uma lógica de “Bloco Central” no país – PS/PSD.
Neste ponto, o primeiro-ministro reafirmou a sua ideia de que a democracia portuguesa “ganha muito em ter soluções políticas devidamente ancoradas à esquerda com um Governo polarizado pelo PS e uma alternativa polarizada à direita pelo PSD”.
Costa também acusou o presidente do PSD de ter utilizado o debate orçamental como instrumento da sua “campanha eleitoral interna” e considerou mesmo que os sociais-democratas protagonizaram “cenas patéticas” na questão do IVA da eletricidade.
“É manifesto que o doutor Rui Rio foi utilizando as sucessivas etapas deste debate orçamental como um instrumento da sua campanha eleitoral. Já tinha sido assim no debate na generalidade e culminou nestas cenas patéticas a que assistimos nos últimos dias de avanços e recuos absolutamente irresponsáveis em matéria de IVA da eletricidade”, acusou o primeiro-ministro.
Essa linha, segundo António Costa, foi usada por Rui Rio “seguramente para poder tentar exibi-la como uma grande atuação política no congresso deste fim de semana” do PSD em Viana do Castelo.
“Agora, com toda a franqueza, quem quer fazer política tem de estar na política com responsabilidade. Não podemos estar a fazer política para a bancada, um Orçamento do Estado não é propriamente um outdoor, onde se afixam promessas eleitorais, devendo ser antes um instrumento de responsabilidade”, contrapôs.