Primeiro-Ministro expressa “profunda estima” pelo secretário-geral cessante do PCP

Antes, os socialistas estiveram reunidos com a esquerda, com representantes do PCP. António Costa e Jerónimo de Sousa no final do encontro na sede do PCP, 07 outubro em Lisboa. MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Da Redação com Lusa

O primeiro-ministro e secretário-geral do PS, António Costa, expressou neste dia 06 “profunda estima” pelo secretário-geral cessante do PCP, Jerónimo de Sousa, e realçou que foi dele “o primeiro, corajoso e decisivo passo” para a chamada “Geringonça”.

“Antes da dimensão política, evoco a sua cordialidade e empatia e a profunda estima que me liga a Jerónimo de Sousa”, escreveu António Costa, na sua conta na rede social Twitter.

“Saúdo o militante e o dirigente do PCP. E recordo que foi ele que deu o primeiro, corajoso e decisivo passo que, em novembro de 2015, abriu as portas a uma nova relação na esquerda portuguesa”, acrescentou o primeiro-ministro e secretário-geral do PS.

António Costa referia-se à governação entre 2015 e 2021 com apoio parlamentar dos partidos à esquerda do PS, solução que ficou conhecida como “Geringonça”.

Também no Twitter, o secretário-geral adjunto do PS, João Torres, assinalou a saída de Jerónimo de Sousa da liderança do PCP.

“Apesar das diferenças, Jerónimo de Sousa sempre foi capaz de granjear respeito e simpatia pessoal no nosso país. Abre-se um novo ciclo com a saída da liderança do PCP, após 18 anos, de um deputado constituinte que sempre se bateu com firmeza e coerência pelos seus ideais”, considerou o socialista.

No sábado à noite, o PCP anunciou através de comunicado que Jerónimo de Sousa, “refletindo sobre a sua situação de saúde e as exigências correspondentes às responsabilidades que assume, colocou a questão da sua substituição nas funções que desempenha” como secretário-geral do PCP.

No próximo sábado, 12 de novembro, em reunião do Comité Central do PCP, “será feita a proposta de eleição de Paulo Raimundo para secretário-geral do PCP”, lê-se no mesmo comunicado.

Também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, realçou a “cortesia institucional” e “cooperação institucional” de Jerónimo de Sousa como secretário-geral do PCP e desejou felicidades a Paulo Raimundo.

“Tive com o secretário-geral do PCP uma cooperação institucional e ele manteve sempre uma cooperação institucional com o Presidente da República. Independentemente de concordâncias e discordâncias, como aconteceu na votação do último Orçamento do Estado, do penúltimo, que determinou a dissolução do parlamento, foi sempre de uma cortesia institucional e de uma cooperação institucional muito rigorosa”, afirmou.

Marcelo Rebelo de Sousa referiu que conhece Jerónimo de Sousa há cerca de 50 anos, desde o tempo da Assembleia Constituinte, de que ambos fizeram parte, entre 1975 e 1976: “Lembro-me dele na bancada do PCP, muito jovem. Portanto, éramos dos últimos remanescentes desse tempo da Constituinte”.

Sobre Paulo Raimundo, disse que se lembra de ter exercido funções nos órgãos do PCP quando Carlos Carvalhas era secretário-geral: “Penso que era membro de um dos órgãos cimeiros do partido. Isso coincidiu com a fase final da minha liderança do PSD”.

Marcelo Rebelo de Sousa liderou o PSD entre 1996 e 1999.

Saída

Jerónimo de Sousa realçou hoje que sai de secretário-geral do PCP como entrou, no plano econômico-financeiro, e deixou críticas ao PS neste momento final da sua liderança, acusando-o de estar “cada vez mais inclinado à direita”.

A conferência de imprensa em que Jerónimo de Sousa confirmou “de viva voz” que irá ser substituído como secretário-geral do PCP, por “iniciativa própria, depois de uma profunda reflexão” sobre as suas condições de saúde, durou cerca de uma hora.

Na sede do PCP, em Lisboa, Jerónimo de Sousa declarou-se “de consciência tranquila” após 18 anos à frente do partido: “Porque saio como entro, no plano econômico, no plano financeiro, independentemente da atribuição desta ou daquela subvenção, que não é para mim, naturalmente”.

O secretário-geral cessante do PCP defendeu que Paulo Raimundo, nome proposto ao Comité Central para o substituir, “é uma solução segura” para a liderança do partido, “um quadro que naturalmente vai ser testado e temperado em movimento, mas dá garantias de que este partido continuará como Partido Comunista Português”.

A intervenção inicial que fez nesta conferência de imprensa foi sobre a preparação de uma Conferência Nacional do PCP para os dias 12 e 13 de novembro, com críticas à proposta de Orçamento do Estado para 2023 e à atuação do Governo do PS.

Jerónimo de Sousa acusou o executivo chefiado por António Costa de “total inércia” em relação à subida do custo de vida, e em particular à especulação de preços, de estar “cada vez mais inclinado à direita” mostrando a sua “natureza de classe” e de fazer um “corte nas pensões” ao não aplicar a fórmula legal para os aumentos em 2023.

Questionado sobre como recordará a chamada “Geringonça”, entre 2015 e 2021, período em que o PS assumiu a governação e aprovou orçamentos com apoio parlamentar de PCP, Bloco de Esquerda e Partido Ecologista “Os Verdes”, Jerónimo de Sousa respondeu que “é uma experiência que deve ser considerada desde raiz”.

“A direita ficou em minoria na Assembleia da República. A direita foi demitida num entendimento que existiu – foi ali, numa sala aqui ao lado – em que nós consideramos que o PS só não fazia Governo se não quisesse”, disse, referindo-se às legislativas de outubro 2015

Segundo Jerónimo de Sousa, nesse período de governação “avançou-se com coisas muito importantes” em termos de política de rendimentos e serviços públicos como os transportes, apesar de o PS estar “sempre muito contrariado e recuado” em relação às propostas do PCP.

Legislação laboral, salários e saúde foram matérias de divergência e as objeções do PS levaram ao voto contra a proposta de Orçamento do Estado para 2022, há um ano.

“Mas estivemos certos quando se tratou de afastar a direita do poder, estivemos certos nos passos adiante em matérias tão importantes”, considerou.

No seu entender, o PS liderado por António Costa conseguiu “aquilo que sempre desejou, designadamente o processo de eleições antecipadas e a maioria absoluta”.

“E agora, o que é que o PS faz com esta maioria absoluta? O que está a fazer não é brilhante. O que está a fazer merece uma profunda crítica e alerta dos portugueses neste quadro nacional e internacional. Veremos o futuro”, concluiu.

O secretário-geral cessante do PCP ressalvou que “em relação ao PS e em relação ao António Costa não houve um problema de relacionamento institucional”. “As relações pessoais mantêm-se intocáveis, as relações políticas ficaram mais tensas”, resumiu.

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