Por Francisco Seixas da Costa
Leem-se por aí comentários críticos da cena em que o presidente Rebelo de Sousa conversa com a rainha britânica sobre temas leves e, muito em particular, da vênia e do beija-mão que a antecederam. Não nego a cada um tem o direito de dizer o que lhe apetecer e, no caso vertente, de aproveitar esta oportunidade “soberana” para exercitar o seu jacobinismo.
Por mim, que também tenho esse direito, e que talvez saiba alguma coisa “da poda”, gostava de deixar claro que me pareceu perfeitamente adequado o comportamento do chefe de Estado português. E, mais do que isso, não considerei que o meu feroz republicanismo tivesse ficado minimamente afetado pela cena, onde não vi a menor sujeição de um regime sufragado a uma magistratura hereditária e não eleita. Mas, enfim, eu não sou do “Podemos”…
Marcelo Rebelo de Sousa, num gesto de educação e de respeito pelas regras do protocolo, fez uma vénia ao saudar a senhora e beijou-lhe a mão. Recordo-me do “escândalo” também provocado em algumas almas, já há alguns anos, quando Obama teve uma atitude precisamente similar. O nosso presidente esteve bem no gesto. Ponto.
Quanto ao facto da conversa ter assentado no pormenor das visitas da raínha a Portugal, e a circunstância de Rebelo de Sousa ter mencionado que foi testemunha presencial das mesmas, só quem não conhece o ambiente destes encontros se pode espantar com o facto deste tipo de interlocução tratar de minudências irrelevantes. A soberana britânica não se ocupa das questões políticas, sendo, no plano dos poderes formais, aquilo que se costuma designar como “uma raínha de Inglaterra” – sendo, aliás, a própria… A evocação feita pelo presidente foi, assim, em tudo adequada, configurando uma nota de simpatia pela vetusta homóloga de um país com o qual Portugal tem uma relação histórica muito antiga. E os chefes de Estado, sejam presidentes ou reis, são isso mesmo: símbolos da continuidade do passado histórico dos respetivos países.
Por Francisco Seixas da Costa
Diplomata português. Ex-Embaixador de Portugal no Brasil