Da Redação com Lusa
O Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, disse que um governo com maioria absoluta não é um governo sem problemas, já que estes existem na sociedade e são colocados ao executivo para serem resolvidos.
A posição de Marcelo Rebelo de Sousa foi transmitida aos jornalistas, na Feira do Livro de Lisboa, quando questionado sobre as polêmicas em torno do Governo, tendo em conta o resultado eleitoral alcançado.
“Um governo com maioria absoluta não quer dizer um governo sem problemas. O Governo tem maioria absoluta no parlamento, mas depois existe a sociedade, e a sociedade tem problemas”, disse o chefe de Estado.
Marcelo Rebelo de Sousa reiterou que já houve “várias maiorias absolutas e o fato de haver maioria absoluta não significa que a sociedade não tenha problemas que se colocam, também, às maiorias absolutas para serem resolvidos”.
Questionado sobre as declarações do coordenador da comissão de acompanhamento da resposta de urgência em obstetrícia, que considerou que a falta de especialistas nos hospitais públicos pode obrigar ao encerramento de maternidades, Marcelo Rebelo de Sousa disse preferir “que houvesse uma visão global sobre a matéria, uma vez que, porventura, o que é preciso fazer são várias coisas ao mesmo tempo”.
O Presidente da República considera que, por um lado, é preciso introduzir alterações orgânicas, por outro, olhar para o número e distribuição dos especialistas.
Marcelo também defendeu equilíbrio no pacote de apoio às famílias que o Governo irá anunciar para responder à inflação, considerando que é preciso atuar com urgência, mas que as medidas devem ser ajustadas mês a mês.
Questionado sobre o pacote de medidas de apoio às famílias que o executivo irá anunciar na segunda-feira, o chefe de Estado escudou-se nos comentários do governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, que na quinta-feira defendeu que não se adotem medidas pró-cíclicas.
“Foi o que disse o governador do Banco de Portugal. Há que ter, por um lado, uma intervenção choque para compensar a situação vivida nos últimos meses e neste momento, e por outro lado, há que acompanhar – eu tenho repetido isto – a inflação. Há quem pense que a inflação pode descer a partir de outubro, novembro”, disse.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, as medidas que serão anunciadas terão como objetivo um “efeito choque imediato”, mas é preciso ter presente que se a inflação descer a pique a partir do final do ano estas “têm de ser reajustadas”.
“Obviamente que energia toca toda a gente, mas classe média em particular e outros custos da inflação atingem a classe média, nomeadamente reduz a classe média, esvazia a classe média. Em todos os países da Europa é uma preocupação”, disse.
Saúde com problemas
Nos últimos meses, diversos hospitais do país têm enfrentado dificuldades em organizarem escalas completas de especialistas, o que tem obrigado ao encerramento ou ao funcionamento condicionado dos serviços de urgência de obstetrícia e de blocos de partos.
Essa situação levou mesmo o Ministério da Saúde a criar a Comissão de Acompanhamento da Resposta em Urgência de Ginecologia/Obstetrícia e Bloco de Partos, mas os constrangimentos têm-se mantido em vários hospitais ao longo das últimas semanas.
De acordo com o primeiro levantamento da comissão, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) necessita de mais cerca de 200 especialistas.
Segundo o médico Diogo Ayres de Campos, a primeira versão do documento a apresentar ao Governo está numa fase muito adiantada, mas “precisa ainda dos comentários dos membros todos do grupo de trabalho”.
“Temos uma reunião do grupo no dia 14 e, se não houver comentários adicionais, estamos prontos para entregar ao Governo no dia 15, mas o mais provável é haver comentários e sugestões”, explicou.
De acordo com o coordenador da comissão, entre o dia 15 e o final do mês, o documento deverá ser enviado ao executivo de António Costa, que “tomará as decisões que entender” sobre esta matéria.
A falta de especialistas em ginecologia e obstetrícia é mais evidente em Lisboa e Vale do Tejo, Algarve a Alentejo, adiantou ainda Diogo Ayres de Campos.
Segundo o especialista, as alternativas ao encerramento de maternidades nessas regiões “implicam medidas do Governo que são mais difíceis” de implementar.
Uma dessas alternativas passa pela contratação de mais especialistas para o SNS, o que “implica, do ponto de vista salarial, tornar as carreiras mais interessantes”, adiantou o coordenador da comissão, ao recordar que a diferença de vencimentos entre os setores privado e público “é muito grande”.
Diogo Ayres de Campos admitiu algum “grau de incerteza” sobre o futuro do trabalho da comissão devido à demissão da ministra da Saúde, Marta Temido.