Visita oficial: Presidentes no Mosteiro dos Jeronimos. MARIO CRUZ/LUSA
Da Redação
Com Lusa
O Presidente português recebeu nesta quinta-feira, na praça do Império, em Lisboa, sob uma forte chuvada e com dezenas de turistas a assistir, o chefe de Estado angolano, no início da sua primeira visita de Estado a Portugal.
A forte chuvada que caiu na capital durante a manhã apenas parou à chegada de João Lourenço, pelas 11:00, poucos minutos depois de o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, ter assistido ao hino nacional, junto ao Mosteiro dos Jerónimos, debaixo de chuva.
Estiveram no local dezenas de turistas, em grupos, nomeadamente asiáticos, que foram surpreendidos com o início das 21 salvas de canhão, e pelos atiradores especiais colocados em vários pontos estratégicos do Mosteiro dos Jerónimos.
Além do Presidente angolano, e da primeira-dama, Ana Dias Lourenço, ambos recebidos por Marcelo Rebelo de Sousa, acompanham o chefe de Estado em Portugal vários ministros de Angola, como das Relações Exteriores, das Finanças, do Interior, das Obras Públicas e da Cultura, entre outros membros do Governo.
No primeiro momento da visita, os dois chefes de Estado passaram revista às tropas em parada, formadas na Praça da Império. Já depois de Marcelo Rebelo de Sousa deixar o local, o Presidente angolano e a primeira-dama colocaram, conforme previsto no protocolo, uma coroa de flores no túmulo de Luís de Camões, no interior do mosteiro.
Já em Belém, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recebeu o seu homólogo angolano cerca das 12:00.
João Lourenço anunciou que o Presidente de Portugal vai visitar Angola no próximo ano, numa “data a acertar pelas diplomacias”, anunciou o chefe de Estado angolano.
“Vamos assinar 12 instrumentos de cooperação, apenas 12 porque não pretendemos esgotá-los enquanto o Presidente Marcelo não visitar Luanda”, disse João Lourenço durante a sua intervenção no Palácio de Belém.
“Estamos a dar oportunidade de, durante a sua visita a Angola no próximo ano, em data que as diplomacias vão acordar, podermos também assinar instrumentos de cooperação que venham consolidar os nossos laços de amizade e cooperação econômica”, acrescentou João Lourenço.
Nesta tarde, o chefe do Estado angolano e o presidente do parlamento, Ferro Rodrigues, discursam numa sessão solene da Assembleia da República e João Lourenço segue depois para a Câmara Municipal de Lisboa, onde irá receber a chave da cidade das mãos do presidente da autarquia, Fernando Medina.
João Lourenço iniciou a sua primeira visita de Estado a Portugal com a normalização das relações entre os dois países e a regularização das dívidas às empresas portuguesas em pano de fundo.
O programa prevê, durante três dias, deslocações ao Porto e à base naval do Alfeite, além de Lisboa, sendo a primeira deslocação oficial a Portugal de um chefe de Estado angolano em praticamente dez anos.
Em fevereiro de 2009, José Eduardo dos Santos, então Presidente angolano, foi recebido em Portugal pelo chefe de Estado, Cavaco Silva, que um ano depois, em julho de 2010, retribuiu a deslocação e viajou para Luanda.
Os dois chefes de Estado acordaram então as bases de uma parceria estratégica que nunca saiu do papel, em grande medida devido ao desconforto de Angola com as investigações da Justiça, em Portugal, a elementos da elite angolana, próximos de José Eduardo dos Santos.
A crispação subiu de tom em 2017, ao avançar a acusação em Portugal contra Manuel Vicente, à data vice-Presidente da República de Angola, por suspeitas de corrupção sobre um magistrado português, quando era presidente da petrolífera Sonangol.
O desanuviamento das relações entre os dois países, e do episódio que ficou conhecido como o “irritante”, só chegou em maio deste ano, com o Tribunal da Relação de Lisboa a enviar o processo de Manuel Vicente, que agora é deputado, para as autoridades judiciárias angolanas, como era pretensão do próprio chefe de Estado.
Na antecipação da visita, o ministro das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto, anunciou na quarta-feira, em Lisboa, que o Governo angolano já certificou dívidas às empresas portuguesas no valor de 200 milhões de euros e, deste valor, já pagou 100 milhões.