Presidente português recebe ukulele em São José e manifesta intenção de visitar Havai

Da Redação com Lusa

Neste domingo, o Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa recebeu em São José, Califórnia, um ukulele oferecido pelo cônsul honorário de Portugal no Havai e manifestou a intenção de visitar este arquipélago onde residem milhares de lusodescendentes.

Marcelo Rebelo de Sousa, que está desde sábado a visitar as comunidades emigrantes portuguesas na Califórnia, assumiu a dificuldade de explicar uma visita ao Havai, considerando que quem vive em Portugal pensará: “Agora o Presidente vai para o Havai, ele fazia ‘surf’, ele gosta do mar, já percebemos”.

“Nós aqui numa grande crise na Europa e no mundo, e a tentar ultrapassar a crise e tentar fazer face à crise depois da pandemia que todos vivemos, e ele vai para o Havai”, prosseguiu, perante centenas de pessoas, no Salão Português da Irmandade do Espírito Santo em São José.

Provocando risos, o chefe de Estado observou: “E vá lá explicar-se que no Havai há uma comunidade que é antiquíssima, antiquíssima, das mais antigas e mais resistentes que vive lá isolada, ainda mais no fim do mundo. É difícil. Eu começo hoje a explicar, para poder ir ao Havai”.

“Portanto, vou ter de esperar que a situação econômica no mundo e na Europa melhore um bocadinho”, considerou Marcelo Rebelo de Sousa. “O que é fato é o seguinte: não só tenciono ir ao Havai como, sobretudo, tenciono voltar cá mais vezes”, afirmou, recebendo palmas.

O cônsul honorário de Portugal no Havai, Tyler dos Santos-Tam, também esteve neste encontro em São José com a comunidade emigrante portuguesa da área da Baía de São Francisco e ofereceu ao chefe de Estado um ukulele, instrumento musical havaiano de quatro cordas, semelhante ao cavaquinho.

“Os emigrantes da Madeira trouxeram este instrumento e agora todo o mundo sabe, todo o mundo conhece este instrumento, é impressionante”, salientou o cônsul honorário, em declarações aos jornalistas portugueses.

Tyler dos Santos-Tam, bisneto de um madeirense que foi para o Havai em 1899, referiu que vivem neste arquipélago “cem mil descendentes de portugueses, em todas as ilhas”, com “orgulho de ser portugueses” e que constituem “uma comunidade bem ativa”.

“A nossa comunidade no Havai é bem forte, nós somos bem ativos, queremos mostrar a portugalidade que ainda está viva no Havai. E acho que é importante que o Presidente da República possa ver a nossa comunidade, possa ver as festas, possa ver todas as coisas que nós fazemos”, acrescentou.

Segundo o cônsul honorário, “a comunidade vai ficar muito feliz” se o Presidente da República for ao Havai: “Vamos fazer uma festa grande, vamos fazer tudo”.

O Presidente passou o domingo na região agrícola do Vale de São Joaquim, um dos centros da emigração portuguesa na Califórnia, e visita nesta segunda a Universidade de Stanford e encontra-se com empresários em São Francisco. Marcelo fala num seminário sobre “Soluções para um futuro sustentável em Portugal e na Califórnia” – que têm semelhanças geográficas e climáticas, com praias, vinhas, temperaturas amenas, mas também situações prolongadas de seca e incêndios florestais de grandes dimensões.

Missa

Neste dia 25, o Presidente foi convidado a tomar a palavra no fim de uma missa numa igreja portuguesa em São José, na Califórnia, e elogiou o “território espiritual” de Portugal formado pelos emigrantes.

A ida à missa na Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas, de 1914, fazia parte do programa privado de Marcelo Rebelo de Sousa, mas acabou por assumir caráter institucional, com uma intervenção aos fiéis na qualidade de Presidente da República, a partir da tribuna, a convite do padre António Silveira.

“Estamos a muitos, muitos quilômetros de distância do território físico do nosso Portugal e numa celebração em que aquilo que nos uniu foi uma preocupação tanto da lei fundamental americana como da lei fundamental portuguesa: a preocupação social pelos que menos têm, os que mais sofrem, os que mais dependem, os que mais são sacrificados”, declarou o chefe de Estado, referindo-se à homilia do padre, sobre a pobreza.

Repetindo uma imagem que usa sempre que visita comunidades emigrantes, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que, embora Portugal esteja fisicamente “muito longe” de São José, na Califórnia, “tem um território espiritual que cobre todo o mundo”.

“Onde esteja um português, está Portugal, e por isso o nosso território espiritual é muitíssimo maior, é muitíssimo mais vasto do que o território físico, formado pelas ilhas dos Açores, pelas ilhas da Madeira e pelo continente português”, reforçou.

Como Presidente da República, deixou palavras de elogio e agradecimento aos portugueses que emigraram para a Califórnia, desde o século XIX, “em condições tão difíceis”, maioritariamente vindos das ilhas dos Açores, mas também da Madeira, e aos seus descendentes: “Esse território espiritual só é possível pelo vosso exemplo”.

O chefe de Estado afirmou sentir que todos os presentes nesta celebração católica vivem “no mesmo Portugal”, mas ressalvou que teria o sentimento “noutra qualquer fé, num qualquer outro encontro, encontro dos que não têm fé” com portugueses fora do país.

Aos jornalistas, à saída da missa, o Presidente da República manifestou-se impressionado e emocionado com “este encontro de portugueses, em língua portuguesa, com os cânticos portugueses, pessoas de todas as gerações, num número tão elevado”, com esta “comunidade tão forte” em São José.

“Mostra por que é que temos um território físico pequeno, mas um território espiritual enorme, ilimitado, por todo o mundo, e agradeci-lhes aquilo que fazem todos os dias e muitos fazem há mais de cem anos, há muitas décadas, para manterem vivo Portugal aqui tão longe, numa costa que é tão pouco visitada e tão pouco está presente na cabeça dos portugueses que lá vivem”, acrescentou.

Da Igreja das Cinco Chagas – onde também esteve o seu antecessor, Aníbal Cavaco Silva, numa missa em 2011 – Marcelo Rebelo de Sousa seguiu para o Salão Português da Irmandade do Espírito Santo em São José, mesmo ali ao lado, para o encontro com emigrantes.

O caminho, porém, foi demorado, com inúmeras paragens para fotografias com dezenas de pessoas que o rodearam à saída da igreja.

“A gente não chega a ele”, queixava-se alguém, enquanto um emigrante português recordava ao chefe de Estado o seu encontro com o anterior Presidente norte-americano: “Eu ia cumprimentá-lo como o Donald Trump, a puxar assim com o braço”. Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: “Ah, eu puxei-o antes”.

Outro emigrante, um pouco à distância, pediu ao chefe de Estado que “ponha o Costa na linha”, logo repreendido pela sua mulher: “Ei, hoje fala o senhor Presidente”.

“Gostei muito de o ver, é um Presidente popular, eu gosto é assim, fala com toda a gente”, disse uma emigrante portuguesa. “É uma honra, muito obrigada, que maravilha”, exclamou outra.

Presidente português na Festa dos Santos Populares de Artesia, Los Angeles. Foto Miguel Figueiredo/PR

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