Presidente português apela aos mais jovens: regras “valem para todos”

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa (C), ladeado pelo Primeiro Ministro Antonio Costa (D) e pelo Presidente da Assembleia da Republica, Eduardo Ferro Rodrigues (E), à chegada para a sessão de apresentação sobre a “Situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal”, no Infarmed, em Lisboa, 14 de maio de 2020. RODRIGO ANTUNES/LUSA

Da Redação
Com Lusa

O Presidente português apelou aos mais jovens para que respeitem as regras de distanciamento impostas pela pandemia de covid-19 e avisou que as normas sanitárias “valem para todos”.

Em declarações neste domingo na Sé de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa reiterou o elogio às várias confissões religiosas em Portugal pelo exemplo que deram nesta pandemia e, em concreto nesta ocasião, à igreja católica.

“A igreja, com uma sabedoria de milênios, deu um exemplo ao povo português”, afirmou.

Questionado sobre as medidas para a terceira fase do desconfinamento anunciadas pelo Governo na sexta-feira, com restrições especiais para a Área Metropolitana de Lisboa, o chefe de Estado dirigiu um apelo aos mais jovens, considerando que os que trabalham diariamente na construção civil, indústria ou comércio “estão expostos naturalmente a riscos de contágio”.

“Agora não faz sentido que os jovens estejam a organizar festas com centenas de pessoas e muito próximas e sem preocupação de distanciamento”, afirmou.

O Presidente da República acrescentou que, se os jovens “têm a sensação de que não correm riscos, podem transportar riscos”.

“As normas sanitárias devem valer para todos, devem valer para os bairros periféricos de Lisboa para impedir riscos de saúde, mas devem valer também em festas de sociedade em que se pede aos jovens que, verdadeiramente sem pensarem nos riscos que acham que não correm, se dispensem de ir longe de mais, depressa de mais, com risco para os outros”, avisou.

Antes de entrar na missa de Pentecostes na Sé de Lisboa – iniciativa que não constava da agenda oficial do Presidente da República -, Marcelo Rebelo de Sousa reiterou o agradecimento que já tinha deixado expresso numa nota no sábado às confissões religiosas pelo sentido de Estado e de “serviço à vida e à saúde” durante os últimos dois meses de pandemia, no fim de semana em que voltaram a ser permitidas as cerimônias religiosas.

O chefe de Estado agradeceu hoje novamente “a todas as confissões religiosas e de uma forma especial ao povo católico, largamente maioritário no povo português” por ter sacrificado a fé praticada “em comunidade”, nomeadamente as cerimônias do 13 de maio em Fátima.

As cerimônias religiosas comunitárias regressaram no sábado após uma pausa de mais de dois meses provocada pela covid-19, com regras excecionais, tendo a Direção-Geral da Saúde (DGS) alertado para o “risco aumentado” de propagação do novo coronavírus.

Imagem do país

O Presidente da República também reiterou neste domingo o apelo à população para que não se passe “do 8 para o 80” nas medidas de prevenção da Covid-19, alertando para os riscos da imagem do país “cá dentro e lá fora”.

Após participar numa celebração religiosa na Mesquita Central de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a dirigir um apelo especial aos mais jovens para que pensem que “um terço da população portuguesa é de risco”, entre pessoas idosas ou com problemas de saúde.

“Até para pensarem no seguinte: nós precisamos de solidificar a imagem cá dentro e lá fora de que este processo é irreversível, não vai conhecer recuos, não levanta dúvidas e objeções, para querermos ter turismo, investimento, para querermos ter pessoas que possam vir e circular cá dentro e lá fora”, salientou.

O chefe de Estado alertou que se Portugal continuar a ter “picos de infectados”, apesar de não se traduzirem em aumento de internados ou de pessoas nos cuidados intensivos, fica “uma imagem que não dá segurança cá dentro e permite lá fora formular juízos que não correspondem ao que tem sido conseguido até agora”.

“É uma questão de bom senso, de não passar do 8 para o 80. É passar do 8 para 16, depois para 24, depois para 48 e por aí adiante até chegar aos 80”, afirmou.

No caso da comunidade islâmica, salientou, estas restrições coincidiram com o período do Ramadão, “um período da fé islâmica que supõe normalmente o encontro, uma dimensão coletiva”.

“Todas essas privações têm um mérito enorme. Como Presidente da República de todos os portugueses queria agradecer nestas duas comunidades o que sei que foi vivido por todas”, disse, considerando que o exemplo deste setor deveria ser seguido por todos.

Como pela manhã, Marcelo Rebelo de Sousa dirigiu um apelo especial aos jovens.

“Sabendo nós que os mais novos nem sempre gostam de ouvir opiniões dos mais velhos. Se pudessem pensar um pouco no risco que há em excessos de confraternização, com dezenas ou centenas de pessoas sem preocupações de natureza sanitária, num país que em temos mais de um terço dos portugueses em grupos de risco”, alertou.

O chefe de Estado considerou que nas próximas semanas – “esperemos que não muitas”, disse – “alguma moderação da parte dos mais jovens seria bem-vinda”.

Questionado sobre como se explica o agravamento dos números da pandemia da covid-19 na Grande Lisboa, o Presidente da República atribuiu-os à maior concentração populacional numa zona onde vivem “milhões de pessoas” e fez questão de separar dois tipos de situações.

“Há uma realidade que são as pessoas que trabalham: trabalhadores precários deslocados das suas origens, que trabalham ou se deslocam em condições que propiciam o contágio. Outra é o clima que tenho testemunhado que é o à vontade com que os jovens, achando que não têm risco pessoal, começam a viver esta fase, como se não se tivesse vivido tudo o que se viveu”, reforçou.

Portugal registra mais de 1.400 mortes relacionadas com a covid-19, e mais de 32 mil infectados, segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde.

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