Presidente do TSE rebate ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral brasileiro

O vice-presidente, Edson Fachin e o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, acompanham o inicio da apuração em telão instalado em frente ao TSE

[ Atualizado 22h ]

“Não é só o real que está desvalorizando. Somos vítima de chacota e de desprezo mundial” criticou Barroso.

Da Redação

Na manhã desta quinta-feira, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, rebateu as críticas do presidente Jair Bolsonaro sobre a confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro, na abertura da sessão virtual da corte.

“Todos sabem que não houve fraude e quem é o farsante nessa história”, afirmou Barroso. “Quando fracasso bate à porta, é preciso encontrar culpados.” O ministro disse que “o populismo vive de arrumar inimigos para justificar o seu fiasco. Pode ser o comunismo, pode ser a imprensa, podem ser os tribunais”.

Para Barroso, começa a ficar cansativo no Brasil ter que “repetidamente desmentir falsidades, para que não sejamos dominados pela pós-verdade, pelos fatos alternativos, para que a repetição da mentira não crie a impressão de que ela se tornou verdade. É muito triste o ponto a que chegamos”, declarou.

Ainda sobre declarações do presidente contra o Judiciário nos atos da última terça-feira, o ministro classificou as falas como “retórica vazia, política de palanque”. “Insulto não é argumento. Ofensa não é coragem. A incivilidade é uma derrota do espírito. A falta de compostura nos envergonha perante o mundo”, criticou.

Na avaliação de Barroso, a “marca Brasil” sofre neste momento uma desvalorização global. “Não é só o real que está desvalorizando. Somos vítima de chacota e de desprezo mundial. Um desprestígio maior do que a inflação, do que o desemprego, do que a queda de renda, do que a alta do dólar, do que a queda da bolsa, do que desmatamento da Amazônia, do número de mortos pela pandemia, do que a fuga de cérebros e de investimentos. Mas pior de tudo. A falta de compostura nos diminui perante nós mesmos. Não podemos permitir a destruição das instituições para encobrir o fracasso econômico, social e moral que estamos vivendo”, afirmou.

Urnas eletrônicas

Ao defender as urnas eletrônicas, Barroso reafirmou que as eleições brasileiras são seguras, limpas, democráticas e auditáveis. Numa referência ao discurso de Bolsonaro a apoiadores no 7 de setembro, quando o presidente defendeu a “contagem pública de votos”, Barroso argumentou que isso seria “como abandonar o computador e regredir, não à máquina de escrever, mas à caneta tinteiro”.

“Seria um retorno ao tempo da fraude e da manipulação. Se tentam invadir o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, imagine-se o que não fariam com as seções eleitorais”, observou o presidente do TSE, lembrando ainda que Bolsonaro não apresentou as provas de fraude nas eleições. “Não apresentou. É tudo retórica vazia. Hoje em dia, salvo os fanáticos (que são cegos pelo radicalismo) e os mercenários (que são cegos pela monetização da mentira), todas as pessoas de bem sabem que não houve fraude e quem é o farsante nessa história.”

Luís Roberto Barroso lembrou ainda que as urnas não entram em rede e não são acessíveis remotamente. “Podem tentar invadir os computadores do TSE e obter dados cadastrais, ataques de negação de serviço aos sistemas, mas nada disso é capaz de comprometer o resultado das eleições”, garantiu.

Luís Roberto Barroso destacou ainda que o mundo vive um processo de “recessão democrática” e que teme que isso afete o Brasil. “É desse clube que nós não queremos que o Brasil faça parte”, afirmou.

Barroso fez ainda uma metáfora com a passagem bíblica João 8:32. “Conhecereis a verdade e ela vos libertará”. “O slogan para o momento brasileiro, ao contrário do propalado, parece ser: “Conhecerás a mentira e a mentira te aprisionará”, ressaltou o ministro.

“A democracia tem lugar para conservadores, liberais e progressistas. O que nos une na diferença é o respeito à Constituição, aos valores comuns que compartilhamos e que estão nela inscritos. A democracia só não tem lugar para quem pretenda destruí-la”, disse Barroso.

Recuo de Bolsonaro

A noite, Bolsonaro recuou das críticas e atribuiu as polêmicas declarações ao “calor do momento, assegurando que não teve “intenção de agredir” os poderes.

Numa “declaração à nação”, Bolsonaro afirmou “reiterar o respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país” e disse estar “disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles”.

O presidente brasileiro manteve críticas ao juiz do STF, Alexandre de Moraes, alvo principal dos seus ataques e a quem garantiu que não mais cumprirá as decisões judiciais por si ditadas.

“Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo juiz Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das ‘fake news'”, começou com dizer Bolsonaro na carta.

“Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de ‘esticar a corda’, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia. Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum”, acrescentou.

“Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais previstas (…) na Constituição Federal”, apontou.

Jair Bolsonaro concluiu a declaração à nação com um agradecimento ao “extraordinário apoio do povo brasileiro”, com quem “alinha” os seus “princípios e valores”, e “conduz os destinos” do Brasil.

As ameaças do mandatário tiveram uma forte e negativa repercussão no país, tendo sido repudiadas por todos os partidos políticos, Congresso e Supremo Tribunal Federal, cujo presidente, Luiz Fux, garantiu que “ninguém vai fechar” aquele tribunal e alertou que o incumprimento de sentenças judiciais é um crime que, no caso de Bolsonaro, pode levar à sua destituição.

O recuo de Bolsonaro foi lançado apenas algumas horas depois de se ter reunido com o ex-presidente do Brasil Michel Temer, em Brasília, onde debateram a crise institucional entre os poderes, segundo a imprensa.

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