Mundo Lusíada com Lusa
O presidente do PSD considerou nesta segunda-feira que o Governo português deve “encarar de frente” a temática da imigração, salientando que é preciso haver fiscalização e planejamento, para evitar situações como as que ocorreram em Lisboa, Olhão e Odemira.
“Eu quero aqui fazer dois apelos muito diretos ao Governo. Em primeiro lugar, para não meter a cabeça na areia, e para encarar de frente esta temática. É preciso haver fiscalização, mas é preciso haver planeamento”, disse hoje Luís Montenegro.
O líder nacional do PSD falava hoje aos jornalistas na chegada à Guarda, o sexto distrito escolhido no âmbito da iniciativa “Sentir Portugal”, realizada na sequência do compromisso que assumiu no 40.º Congresso do partido de passar uma semana por mês nos diferentes distritos do país.
Ao abordar questões relacionadas com a imigração, no seguimento do incêndio ocorrido, na noite de sábado, num prédio no bairro lisboeta da Mouraria, que provocou dois mortos, de nacionalidade indiana, e 14 feridos, Luís Montenegro também “lamentou profundamente” que o PS e o Governo “não tivessem aproveitado” o impulso do PSD e não se tivessem colocado ao seu lado na promoção de um programa transversal e universal.
Um programa que, prosseguiu, permitiria “sabermos quem é que precisamos em Portugal, quem é que nós queremos em Portugal e para podermos acolher e integrar esses colaboradores do nosso desenvolvimento”.
“Portugal tem um problema demográfico que é evidente. Todos os estudos apontam para que nos próximos anos nós percamos de 20 a 25% da nossa população. Nós precisamos de reter os nossos jovens, nós precisamos de não os deixar sair do país e de aproveitar as suas qualificações. Mas isso não chega”, disse.
E acrescentou: “Nós precisamos de inverter a tendência da natalidade em Portugal e [de] criar condições para remover os obstáculos daqueles jovens casais que querem ter filhos. Mas isso também não chega. Nós temos de ter políticas de imigração, de acolhimento, de integração de imigrantes”.
“Olhando para Lisboa, eu creio que o dia é para fazermos um grito de alerta ao país e ao Governo, para ter uma política migratória mais eficaz, que não só fiscalize como, pelo contrário, possa planear, possa planificar o acolhimento e a integração de imigrantes”, rematou.
Segundo Montenegro o acontecimento de Lisboa “trouxe à luz do dia uma realidade que infelizmente existe em Portugal e não é só em Lisboa”, em várias regiões, relacionado com a presença de imigrantes que veem ajudar o país a ultrapassar algumas lacunas de recursos humanos.
“Vêm com boas intenções e são sujeitos a condições degradantes do ponto de vista humano”, disse, referindo-se não só ao caso de Lisboa, relacionado com a vertente da habitação, como com reações de grupos “mais ou menos organizados”, como aconteceu em Olhão.
O líder do PSD também lembrou o que ocorreu em Odemira, com trabalhadores imigrantes “a viver em condições absolutamente intoleráveis e a auferir um rendimento baixíssimo”, porque grande parte do rendimento é retido “por redes de mão-de-obra ilegal”.
Para Luís Montenegro, que apresentou o seu pesar relativamente às vítimas do incêndio ocorrido em Lisboa, as situações referidas “têm de ter uma responsabilização”.
A iniciativa “Sentir Portugal” do presidente do PSD arrancou hoje na cidade da Guarda, seguindo pelos vários concelhos do distrito até sexta-feira, com o objetivo contactar com a realidade local e dialogar com os cidadãos, famílias, municípios e instituições.
Investigação
Já o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, afirmou hoje que a investigação em curso sobre o incêndio na Mouraria vai permitir apurar “todas as responsabilidades”.
“Vamos aguardar pelo decurso das investigações que estão a ser desenvolvidas pela Polícia Judiciária, porque naturalmente todas as responsabilidades serão apuradas no quadro da investigação que está em curso”, sustentou.
Nesta manhã em Coimbra, José Luís Carneiro lamentou a morte dos dois homens, bem como as condições desumanas em que viviam.
Questionado sobre a quem compete fiscalizar e assegurar proteção neste âmbito, o representante do Governo sublinhou que as questões de dimensão municipal “têm uma responsabilidade de nível local”.
“Portanto, é aí que se deve procurar averiguar o que de facto se passou. Julgo que as investigações estão em curso”, acrescentou.
Em comentários a tv SIC, a ex-eurodeputada Ana Gomes declarou que a “tragédia” que pôs em perigo todo o prédio e a rua em si, “revela mais uma vez a incúria do Estado e da Câmara Municipal de Lisboa”.
“Habitação a preços excessivos por causa de políticas desastrosas, que fomentam os vistos gold e dão borlas fiscais aos fundos imobiliários”, declarou a antiga diplomata socialista, concluindo “estamos a vender o país de forma inacreditável”.