Presidente diz que Museu de Aristides de Sousa Mendes é lição para o futuro

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com familiares de sobreviventes ajudados pelo cônsul Aristides Sousa Mendes, durante a inauguração do Museu Aristides de Sousa Mendes, na Casa do Passal, Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, 19 de julho de 2024. PAULO NOVAIS/LUSA

Mundo Lusíada com Lusa

 

O Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu neste dia 19 que o legado de Aristides de Sousa Mendes, personalidade “única do século XX”, deixa um legado para o futuro e, também por isso, o museu é universal.

“Ao visitar a casa pude ver de uma forma museologicamente espetacular como era esta família e esta casa no século XIX, princípio do século XX. A vida e carreira de Aristides, o que ele foi e o que ele fez como personalidade única no século XX”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente discursou, entre o português e o inglês, na cerimónia de inauguração do Museu de Aristides de Sousa Mendes, antiga casa da família do cônsul, em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, no distrito de Viseu, que reuniu centenas de convidados.

“Este museu é uma lição para o futuro. Todos os museus deviam ser, mas este é especial. Não tivemos no século XX, em Portugal, tantos heróis assim como Aristides de Sousa Mendes”, defendeu o chefe de Estado.

E “só não foi ele sozinho”, como sugeriu um familiar ali sentado, porque, no entender de Marcelo Rebelo de Sousa “sua mulher e a sua família sempre o apoiaram”, mas, “mesmo que fosse sozinho, foi um herói, único e singular”.

“E queremos que esse exemplo passe a crianças como o João e a Joana”, afirmou, referindo-se a dois descendentes da família de Aristides de Sousa Mendes que o acompanharam na visita ao museu no dia em que se vive “um momento histórico”.

O Presidente contou que viu e apontou para as crianças, no decorrer da visita, para lhes dizer “o que era uma ditadura, o que foi o nazismo, o que foi Portugal durante a ditadura, o que era resistir à ditadura, o que foi salvar judeus que tentavam lutar pela liberdade fora dos seus países”.

Marcelo Rebelo de Sousa contou que ouviu “histórias únicas” de filhos e netos que viveram na casa, agora museu, e destacou a de uma neta que “só percebeu a história da família quando abriu uma mala, com recordações da família”.

“Isto é um museu, que não é local, nem regional, nem nacional. É universal. Este museu diz-nos a todos nós, que aqui estamos, que a luta de Aristides de Sousa Mendes não terminou, começa todos os dias e essa é a lição que ele nos deixa”, defendeu.

Marcelo Rebelo de Sousa citou ainda as mensagens ouvidas anteriormente do papa Francisco e do secretário-geral da ONU, António Guterres, que diziam para “todos os dias construir a paz em vez da guerra”.

“Respeitar a dignidade humana, conviver com todos, ser tolerante, praticar o diálogo, ser contra tudo o que é racismo, intolerância, xenofobia, ódio, aceitar que não há povos eleitos, não há personalidades eleitas, somos todos igualmente seres humanos, esta é a mensagem”, terminou.

No seu entender, “Aristides de Sousa Mendes colocou Portugal no mundo”.

“O seu exemplo deveria ser sempre o nosso exemplo. Viva Aristides de Sousa Mendes, viva Portugal, viva para além de Portugal a mensagem universal de Aristides de Sousa Mendes, viva o diálogo, a tolerância, viva a não-discriminação, viva a justiça, viva a fraternidade, viça a paz, viva um mundo melhor”, terminou já debaixo de palmas.

No início da sua intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa agradeceu ainda ao secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, em nome da “linhagem [socialista] que representa”, lembrando Mário Soares, Maria Barroso, Jaime Gama “e muitos outros”, pela “luta constante pela memória de Aristides de Sousa Mendes e pelo seu reconhecimento nacional e internacional”.

A cerimônia contou com a presença da ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, e do secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, e o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, entre as centenas de convidados de todo o mundo, desde descendentes do diplomata e dos refugiados salvos por ele.

Também marcaram presença embaixadores de França, Luxemburgo, Estados Unidos da América (EUA), Bélgica, Áustria, Alemanha e Israel, assim como representantes de câmaras de cidades onde Aristides de Sousa Mendes foi cônsul.

Emoção

Familiares de Aristides Sousa Mendes e de refugiados da Segunda Guerra Mundial, a quem o cônsul de Bordéus passou vistos, emocionaram-se com a nova “vida” dada à Casa do Passal, depois de anos em ruínas.

“É uma felicidade olhar para todos vós, aqui participantes, e ver uma multidão tão parecida como aquela que o nosso avô terá encontrado, repetidas vezes, em 1940, diante do seu consulado, em Bordéus: as pessoas que estavam à espera de um visto salvador. É como se esta multidão, 85 anos depois, estivesse aqui a dizer obrigado senhor cônsul”, destacou António Moncada, neto de Aristides de Sousa Mendes.

A Casa do Passal, onde há 139 anos nasceu Aristides de Sousa Mendes, o cônsul que ajudou a salvar milhares de refugiados na II Guerra Mundial, foi hoje inaugurada com centenas de convidados de todo o mundo, desde descendentes do diplomata a refugiados que salvou.

O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, enviou um vídeo com uma mensagem gravada e o Papa Francisco enviou uma carta lida pelo porta-voz João Crisóstomo.

O neto do diplomata, António Moncada, recordou o esquecimento e a “morte lenta” a que ficou entregue “o cônsul desobediente”, durante 14 anos, depois de muito protesto e resistência.

“Ficou sozinho no esquecimento, lembro-me muito bem. Só os irmãos e os primos de Mangualde e da região falavam com ele”, lamentou.

Segundo António Moncada, Aristides Sousa Mendes deixou-lhes “a mais bela das heranças, que vale mais do que qualquer fortuna”, evidenciando que recusaram o esquecimento, que culmina com a abertura da Casa Museu com o nome do diplomata.

Outro dos netos, Gerald Sousa Mendes, recordou os anos em que a Casa do Passal esteve em ruínas até ganhar nova “vida”, aproveitando ainda a ocasião para ler a mensagem da sua tia Maria Rosa, a filha mais nova de Aristides de Sousa Mendes, a única dos 14 filhos ainda em vida.

“É para mim uma enorme felicidade partilhar este momento excecional, que constitui a inauguração do Museu de Aristides Sousa Mendes. Tornar a dar vida ao Passal, criando um lugar de memória e cultura, permite imortalizar o ato de coragem do meu pai”, referiu a filha do diplomata, que reside no sul de França.

Também Silvério Sousa Mendes, deixou emocionado a sua gratidão para com os seus avós, Aristides e Angelina, pelo legado que deixam ao mundo e pelo exemplo de abnegação, “sacrificando interesses pessoais, familiares e profissionais”.

“Que este museu sirva de exemplo para a humanidade, permanecendo como pedaço de história viva que engrandece Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, Portugal, o mundo e também a humanidade”, afirmou.

O presidente da Câmara Municipal de Carregal do Sal, Paulo Catalino, frisou que a inauguração da Casa Museu de Aristides Sousa Mendes é “o justo momento de reposição da dignidade e da memória de um homem que teve a lucidez, arrojo e coragem de salvar vidas”.

“Com esse gesto, teve a plena noção que, da sua decisão a vida dos seus mais diretos muito sofreria, deixando-nos seguramente um dos mais belos exemplos de altruísmo e humanidade do século XX”, acrescentou.

No seu entender o dia de hoje é, muito provavelmente, um dos dias mais importantes e marcantes da história do seu concelho, do país e da história do século XXI.

 

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