Da Redação com Lusa
O Presidente português considerou hoje que o desafio que se coloca aos portugueses, depois de terminar a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), é saber qual foi a projeção do evento e como tirar proveito dele.
“O desafio que se coloca aos portugueses é perceberem o que é que funcionou bem, qual foi a projeção e como tirar proveito disto, não só em termos de inspiração, de animação, de mobilização, mas também de atos concretos”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa à chegada ao Parque Eduardo VII para a celebração da Via-Sacra com o Papa Francisco.
E acrescentou: “Vamos ver se isso acontece”.
Enquanto subia o parque e ia sendo abordado pelos jovens portugueses e estrangeiros que lhe iam oferecendo prendas, o chefe de Estado assumiu que a JMJ é, no seu gênero, o maior acontecimento da democracia.
“Antes da democracia não tenho experiência, mas também não estou a ver um milhão de jovens livres em ditadura”, referiu.
Na sua opinião, a JMJ está “realmente a ultrapassar as expectativas até agora”.
“Tem sido um crescendo e o importante, de facto, é a presença da juventude de todo o mundo que, aqui, está misturada ao contrário da JMJ no Panamá onde os jovens estavam organizados por países”, sublinhou.
Marcelo Rebelo de Sousa revelou ter andado a percorrer as ruas de Lisboa à noite e a animação “tem sido espantosa”.
Questionado sobre a mensagem do Papa Francisco, o Presidente da República considerou que ele tem a “capacidade de tocar as pessoas”.
Segundo o chefe de Estado, o Papa “vive muito preocupado com a justiça social, com as desigualdades, com a guerra e com o problema da proximidade em relação às pessoas”.
“Ainda hoje de manhã visitou uma instituição social a apelar muito a isso, ou seja, não há pessoas em abstrato, mas pessoas concretas com problemas complicados que é preciso ouvir”, lembrou.
Já sobre a missa para o Dia Mundial da Juventude, que acontece domingo, no parque Tejo, Marcelo Rebelo de Sousa assumiu que a “grande interrogação é saber como é que a multidão se vai deslocar para o Parque Tejo”.
“Não estou preocupado, estou curioso para ver porque eu estive lá, mas com tudo vazio”, frisou.
O Presidente da República entendeu que o Parque Eduardo VII, onde têm decorrido as principais cerimônias até agora, é próximo do centro e, por isso, fácil de lá chegar, ao contrário do Parque Tejo onde é “mais difícil de chegar”
O Papa está desde quarta-feira em Portugal para presidir à JMJ, onde são esperadas mais de um milhão de pessoas.
Em Lisboa, as principais iniciativas da jornada decorrem no Parque Eduardo VII, na zona de Belém e no Parque Tejo, um recinto com cerca de 100 hectares a norte do Parque das Nações e em terrenos dos concelhos de Lisboa e Loures.
Jovens
O Presidente defendeu que é preciso dar aos jovens um “papel político muito maior”, salientando que isso “desencadearia mudanças” e assinalando que a juventude tem “um capital de futuro que mais ninguém tem”.
Em declarações aos jornalistas no Parque Eduardo VII, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que as palavras do Papa Francisco sobre a juventude aplicam-se à Igreja Católica, mas também “à política, à economia, à sociedade e às comunidades mais variadas”.
“Têm de mudar e dar um papel muito mais importante à juventude. Eu contra mim falo – não sou jovem, longe disso – (…) mas verdadeiramente aquilo que constitui o fermento das sociedades e da mudança, respeitando os outros que têm um papel a desempenhar, é a juventude”, disse.
Para o chefe de Estado, “a juventude tem uma força, uma esperança, um capital de futuro que mais ninguém tem”.
“A democracia foi feita por jovens: as gerações tinham 20 anos, os de 30 anos já eram um bocadinho velhinhos e os de 40 anos eram muito velhinhos. Isso aconteceu em todos os momentos de rutura e de mudança na sociedade”, sustentou.
Rodeado por jovens de vários países, e assinando bandeiras e camisetas, Marcelo acrescentou que, “por definição, a juventude nunca é conservadora”, salientando que, há 20 ou 30 anos, “ninguém diria que a juventude, tanto a católica como outra, seria tão ecológica, tão de rutura em muitos aspetos como é a atual”.
“As respostas a dar passam por isto, que é desde logo os jovens terem um papel político muito maior porque, se tiverem, isso naturalmente desencadeia mudanças. Se forem minorias nos centros de poder durante muito tempo, a transformação é mais lenta”, disse.
Cruzando-se com o autarca de Lisboa no caminho, Marcelo Rebelo de Sousa deu o exemplo de Carlos Moedas, salientando que se trata “de um jovem que o foi até há muito pouco tempo, e mantém o espírito jovem”.
Questionado se há lugar para todos na Igreja Católica portuguesa, o Presidente da República respondeu que sim, salientando que Portugal, como diz a Constituição da República, “é um país democrático e livre”.
“Pode-se ser crente ou não ser crente, ser-se católico ou ser-se crente cristão não católico ou não católico. E, dentro da Igreja Católica, o Papa disse-o, há lugar para todos: tal como as pessoas são e não como os outros querem que elas sejam”, referiu.
Marcelo indicou que o Papa deu o exemplo de que a Igreja Católica deve ser “aberta e englobante” e citou uma passagem de um evangelho na qual Jesus Cristo diz “na minha casa há várias moradas”, o que o Presidente da República entendeu significar que “cabem lá todos, chegando de formas diferentes se quiserem”.
Nestas declarações aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa foi ainda questionado sobre as palavras do Papa Francisco sobre a Europa, tendo respondido que a questão do alargamento da União Europeia vai ser um “tema fundamental” para o futuro.
“Haverá um debate sobre o alargamento da Europa: esse é um grande debate e uma decisão fundamental e é um processo que vai andar, mas obriga a Europa a mudar muito. Uma coisa é uma Europa a 27, outra coisa é uma Europa a 36, e é fundamental que essa Europa corresponda às expectativas de todos”, disse.
Marcelo foi ainda questionado sobre quais foram as palavras que disse ao Papa Francisco quando este aterrou e que provocaram gargalhadas, tendo explicado que, quando conversou com o líder da Igreja Católica no aeroporto, este demonstrou que “sabia tudo sobre Portugal”.
“Eu disse ‘o Santo Padre tem aqui alguém que está a espiar’ e, no meio das pessoas que nos rodeavam, apareceu uma que ele sabia, e eu sabia, que era ‘o espião’, isto é a pessoa que estava a acompanhar muito bem o que se passava em Portugal. (…) E eu disse ‘este é o espião, tem de confiar que é o espião’, e ele desatou-se a rir”, explicou.