Mundo Lusíada com Lusa
O Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa defendeu neste dia 26 que há urgência na reunião da Aliança das Civilizações da Organização das Nações Unidas (ONU) realizada em Portugal, num mundo “dominado pelo egoísmo”.
Marcelo Rebelo de Sousa falava no Centro de Congressos do Estoril, no concelho de Cascais, distrito de Lisboa, na abertura do 10.º Fórum Global da Aliança das Civilizações.
O chefe de Estado português deu “as boas-vindas a Portugal” aos participantes neste fórum, destacando as presenças do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, do monarca espanhol, Felipe VI, e do Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, entre outras.
Numa curta intervenção, feita em português, o Presidente da República defendeu “a urgência da reunião de hoje, de uma aliança inspirada pelas Nações Unidas e pelo secretário-geral António Guterres”.
“Esta urgência é especialmente relevante num mundo que, mais uma vez, se encontra dominado pelo egoísmo, pela arrogância, pela intolerância, pelo isolacionismo”, acrescentou.
Perante os participantes neste fórum, Marcelo Rebelo de Sousa apresentou Portugal como um país que constitui “uma ponte única entre oceanos e nações”. “País pequeno em dimensão territorial, mas imenso na nossa plataforma continental, a maior da Europa, e uma das maiores do mundo”, descreveu.
“Contudo, o que nos torna verdadeiramente grandes é a nossa diáspora universal, composta por pessoas afáveis e tolerantes, que fazem de Portugal uma ponte única entre oceanos e nações”, considerou.
Neste discurso, o chefe de Estado evocou o antigo Presidente da República Jorge Sampaio, primeiro alto representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, entre 2007 e 2013, homenageado hoje.
Marcelo recordou Jorge Sampaio como “um amigo querido, mas sobretudo um grande lutador pela paz, fraternidade, liberdade e dignidade humana”, que será lembrado “para todo o sempre”.
Conflitos
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, defendeu hoje que a Aliança das Civilizações “é mais útil do que nunca”, num tempo de proliferação de conflitos, bem como o papel da ONU, que deve renovar o Conselho de Segurança.
O chefe da diplomacia portuguesa lembrou os conflitos na Ucrânia, no Médio Oriente, mas também no Sudão, Sahel, Congo, Myanmar e Haiti, “resultantes da incompreensão dos seus autores”, para sustentar que, 20 anos após a sua criação, a Aliança das Civilizações, “mais do que nunca, é necessária, é útil, é amiga da humanidade”.
Paulo Rangel advertiu que, ”numa altura em que a ordem multilateral, baseado em princípios e valores, é atacada e posta em causa”, os “amigos da paz” devem defender a organização, reiterando o apoio ao sistema das Nações Unidas.
“Nada disso quer dizer que não haja lugar para renovação, para modernização das Nações Unidas, desde logo no Conselho de Segurança, cuja composição deve ser mais representativa, cujos trabalhos devem ser mais transparentes e cuja capacidade de execução deve ser bem maior”, observou o governante, recordando que Portugal é candidato a membro não permanente do organismo no biénio 2027-2028.
Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, “não há paz sem direitos humanos, não há paz sem desenvolvimento sustentável”, constituindo três pilares das Nações Unidas “intimamente ligados e que se reforçam mutuamente”, e a Aliança das Civilizações fornece um “instrumento concreto”, apontando o diálogo intercultural e inter-religioso para “combater os extremistas”.
“A Aliança ensina que as diferentes comunidades com fé, as crenças, origens éticas, culturais distintas, mesmo que partilhando um território comum, não têm de levar e não levam necessariamente ao conflito”, disse Rangel, numa alusão ao conflito no Médio Oriente.
Nesse sentido, invocou ainda o ex-presidente português Jorge Sampaio, para defender que a organização “ensina que é possível a coexistência e que o diálogo gera frutos”, tratando-se de uma “urgência humanitária que não pode ser adiada”.
Também o chefe da diplomacia da Turquia criticou a ausência de Israel durante o 10.º Fórum da Aliança das Civilizações, sublinhando não ser por acaso que “os países que querem a paz na Palestina” estão presentes.
“Não é por acaso que os países que querem a paz na Palestina estão hoje nesta sala e aqueles que nem sequer conseguem pronunciar um cessar-fogo estão ausentes. Aqueles que nos dão lições sobre o Direito internacional e os valores universais sem os respeitarem não estão hoje nesta sala, porque esta é uma aliança para a paz. Paz não só no Ocidente, mas também no resto do mundo, incluindo a Palestina”, disse o ministro turco, Hakan Fidan, em Cascais.
E alertou para o crescimento do extremismo, da xenofobia e do racismo em todo o mundo, exacerbados pelo “genocídio de Israel contra os palestinianos”, que “alimenta o ódio crescente no seio das sociedades”.
“Estamos a assistir ao protesto como um grito das sociedades de diferentes países. Nunca estivemos tão perto do choque de civilizações em termos reais. Este é um aviso para a humanidade. Quanto mais ficarmos em silêncio, maior será a fragmentação do sistema internacional”, reiterou.
Até quarta-feira, o Centro de Congressos do Estoril, no concelho de Cascais, acolhe o 10.º Fórum Global da Aliança das Civilizações das Nações Unidas (UNAOC), que conta com a presença do secretário-geral da ONU, e de dezenas de ministros dos Negócios Estrangeiros, altos funcionários de organizações internacionais, bem como de vários ex-chefes de estado e de governo.
A Aliança das Civilizações das Nações Unidas, criada em 2005, tem como missão promover o diálogo e a cooperação interculturais e inter-religiosos contra os extremismos. Tem atualmente como alto representante o espanhol Miguel Ángel Moratinos.
Hoje, ao fim do dia, o Presidente da República oferece um jantar aos chefes de delegação e outros participantes de alto nível desta iniciativa das Nações Unidas, no Palácio da Cidadela de Cascais.