Mundo Lusíada
Com Lusa
O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, declarou dia 30 manter “uma visão preocupada sobre o contexto mundial e europeu, mas espera que o próximo ano “não seja tão complicado” como alguns preveem.
No final de uma visita às instalações do Banco Alimentar contra a Fome, em Lisboa, na véspera do início da campanha de Natal recolha de alimentos em todo o país, o chefe de Estado salientou que a melhor estratégia para a erradicação da pobreza é “crescer mais e sustentadamente”.
Instado a comentar previsões de entidades independentes, que apontam para um abrandamento da economia no próximo ano, o Presidente da República sublinhou que já disse ter “uma visão preocupada sobre a situação no mundo e na Europa”, com as dúvidas sobre a forma de saída do Reino Unido da União Europeia e a guerra comercial entre Estados Unidos e China.
“O contexto mundial e europeu é mais complicado do que era há um, dois ou três anos, isso parece evidente. Quão complicado vai ser? Nós esperamos que não seja tão complicado como alguns preveem, é essa a minha expectativa voluntarista, positiva, mas em larga medida não depende de nós”, afirmou.
Marcelo Rebelo de Sousa escusou-se a responder se considera existirem também perigos nacionais para 2019, limitando-se a lembrar que a economia nacional “é pequena e aberta”. “Deus queira que não haja muitas complicações a nível mundial e europeu para não termos reflexos internos”, afirmou.
Encruzilhada
Marcelo Rebelo de Sousa também descreveu o atual contexto internacional como uma “encruzilhada complexa” marcada por uma “querela entre Ocidente e Oriente” e alertou que os conflitos comerciais podem levar a guerras militares.
“A onda hoje é de depreciação do papel do direito internacional e das organizações internacionais. E essa onda só pode criar conflitos ou guerras, que começam nas guerras comerciais, passam às guerras financeiras, às guerras econômicas globais, e dificilmente deixarão de se converter em guerras políticas ou militares”, afirmou.
Já no 2.º Congresso dos Gestores, na Culturgest, em Lisboa, ele defendeu que, neste quadro, Portugal deve “ter um espírito de diálogo, de entendimento, de consenso, isto é, uma postura multilateral” em termos de política externa, “mantendo embora firmes as alianças que são antigas”.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, há que “manter essas pontes e esse diálogo em todos os azimutes, na procura da paz, da segurança, da salvaguarda possível da democracia e dos direitos humanos, enfrentando por antecipação problemas do ambiente e climáticos e valorizando o direito internacional e as organizações internacionais”.
Apesar de neste congresso estarem em causa “sobretudo matérias nacionais”, o Presidente da República quis chamar a atenção para o contexto internacional.
Marcelo Rebelo de Sousa começou por referir-se à “questão secular” do “confronto entre o Ocidente e o Oriente quanto ao futuro centro do poder econômico, que esteve na Ásia até à revolução industrial, daí passou para a Inglaterra e depois Estados Unidos da América, até hoje”.
Segundo o chefe de Estado, “não é líquido que não regresse à Ásia” e isso explica largamente “o confronto vivido e que é de longo prazo, de longa duração, entre os Estados Unidos da América de um lado e a China do outro”.
Quanto à Rússia, disse que está “convertida agora em potência regional, mas permanece muito forte” e que esse é outro elemento do atual “rearranjo global ainda em curso”.
No plano europeu, sustentou que, por um lado, “várias forças extrínsecas atuam, e atuam por vários meios, por forma a ou debilitar ou tirar proveito das debilidades europeias” e que, por outro, “a Europa está também ela numa encruzilhada” por motivos internos.
Quanto ao primeiro ponto, sem dar exemplos, declarou que “há demasiados poderes” a atuar para dividir ou enfraquecer a Europa, “a Leste, mas também a Oeste, por estranho que pareça, pelos efeitos colaterais na Europa da tensão vivida com o seu aliado secular, e pela querela existente entre Ocidente e Oriente”.
Relativamente aos problemas internos, Marcelo Rebelo de Sousa destacou o ‘Brexit’, considerando que “a União Europeia, contra as previsões de muitos, soube agir unida” e deve agora “levar até às consequências possíveis o passo laboriosamente dado em termos de acordo com o Reino Unido”.
Em seguida, mencionou um conjunto de desafios de curto prazo que tem elencado em várias ocasiões, “a necessidade de definir posição sobre união econômica e monetária, sobre a união bancária, sobre migrações e refugiados, sobre o papel externo do conjunto europeu e o quadro multianual”.
“Tudo, se possível, antes da campanha eleitoral que precede o veredicto de maio do ano que vem. Antes, portanto, de eventual risco de fragmentação maior do Parlamento Europeu e de fragilização mais acentuada da Comissão Europeia”, apelou.
O Presidente reiterou o aviso de que, se estes objetivos forem adiados, “ficarão sujeitos aos imponderáveis dos novos equilíbrios políticos, econômicos e sociais”.
“Esta antecipação é fundamental, num momento em que há uma onda de mudança de lideranças na Europa. Também aqui mais vale prevenir do que remediar”, insistiu.