Presidente de Cabo Verde pede “forte crescimento espiritual” nos 48 anos da independência

José Maria Pereira Neves, intervém durante a cerimónia da sua tomada de posse no Salão Nobre “Abílio Duarte”, Assembleia Nacional de Cabo Verde, 9 de novembro. ELTON MONTEIRO/LUSA
José Maria Pereira Neves, intervém durante a cerimónia da sua tomada de posse no Salão Nobre “Abílio Duarte”, Assembleia Nacional de Cabo Verde, 9 de novembro. ELTON MONTEIRO/LUSA

Da Redação com Lusa

O Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, apontou hoje um “mar de razões” para o país estar a assinalar 48 anos da independência, como um “crescimento material visível”, mas entendeu que precisa de um “forte crescimento espiritual”.

“As conquistas são inegáveis e o crescimento material é visível. Porém, para que também seja mais inclusivo e durável, terá que ter, como simetria, um forte crescimento espiritual”, afirmou o chefe de Estado, ao discursar na sessão solene da Assembleia Nacional comemorativa do 48.º aniversário da independência de Cabo Verde.

O mais alto magistrado da Nação cabo-verdiana manifestou a sua preocupação pelo aumento da taxa de pobreza extrema, insegurança alimentar, desigualdade social e que 29,2% de jovens entre 15 e 35 anos estejam sem emprego, fora do sistema de ensino ou formação.

“Isso constitui motivo de elevada preocupação, devendo merecer toda a atenção possível de todos os órgãos de soberania, a começar por esta câmara dos representantes do povo, das autoridades competentes e da sociedade civil, sob pena de consequências futuras eventualmente nefastas”, alertou.

Para Maria Neves, os 48 anos de independência e os 32 anos de democracia exigem “um outro patamar de desenvolvimento espiritual” em Cabo Verde, onde espera “outros hábitos mentais, outros costumes”.

O Presidente mostrou-se ainda preocupado com as incivilidades, sobretudo com a destruição do patrimônio público, dizendo que isso “envergonha a todos”.

“O desrespeito pelo que é comum a todos, verifica-se tanto a nível material como espiritual. As pessoas mais velhas, os professores, os vizinhos, os colegas de escola e de trabalho, os outros, afinal, nem sempre têm sido alvo do devido respeito”, constatou, mostrando-se igualmente preocupado com os níveis de violência e insegurança, sobretudo nos maiores centros urbanos.

“Há muita coisa a ser revista para se resgatar aquela sociedade de sã convivência que já tivemos no passado. As práticas que corroem os alicerces da boa convivência e da sanidade da nossa sociedade devem ser eliminadas”, entendeu.

Relativamente à Administração Pública, disse que carece de criação de uma “cultura de radical transformação”, imparcialidade e de universalidade, para que o país possa ser “realmente desenvolvido”.

José Maria Neves chamou a atenção para a necessidade de autonomização e independência de algumas “áreas sensíveis” da Administração Pública, como as inspeções, entendendo que devem ser para melhorar o desempenho do órgão inspecionado.

“Espera-se que este instrumento não seja usado como arma de arremesso político e que, aparentemente, não haja dois pesos e duas medidas”, pediu, sem ser específico, mas poucos dias após polêmica sobre os relatórios dos fundos do Ambiente e do Turismo.

“Assim se defende a credibilidade e a legitimidade de relatórios produzidos, e a sua aceitação por todos, principalmente, se a sua publicação for tempestiva e não deferida no tempo. Com coerência, não se pode embasar práticas que, em circunstâncias anteriores, foram combatidas ou criticadas”, advogou.

O chefe de Estado mostrou-se ainda preocupado pelo facto de, nos últimos anos, o país ter vindo a perder muitos jovens, muitos deles altamente qualificados, que têm optado pela emigração.

“Insto às universidades e aos investigadores a estudarem esse fenômeno e a deslindarem as causas e os impactos na academia, no tecido empresarial, no mercado de trabalho, na produtividade e na competitividade do país e na formação das políticas públicas”, pediu, confiando, ainda assim, que nos próximos 50 anos será possível Cabo Verde “ganhar o futuro”.

Discursaram ainda os representantes dos partidos políticos com assento parlamentar e o presidente da Assembleia Nacional, numa cerimônia assistida por membros do Governos, altas individualidades do Estado, corpo diplomático, empresários, confissões religiosas e sociedade civil.

Governo português

Neste 05 julho, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) português saudou Cabo Verde, que comemora o 48º aniversário da sua independência, sublinhando que as “fortes relações” entre os dois países assentam na “profunda amizade” entre os seus povos.

“Feliz Dia da Independência, Cabo Verde”, começa por saudar o Governo português numa nota publicada na rede social Twitter.

“Assentes numa profunda amizade entre povos, as fortes relações resultam da intensidade das interações políticas e econômicas, do impacto e abrangência da cooperação”, escreve o MNE.

A saudação do Governo português recorda ainda o compromisso de ambos os países “para com a CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] e face aos desafios globais”.

Cabo Verde tornou-se independente de Portugal em 05 de julho de 1975.

 

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