Presidente da Assembleia pede um minuto de silêncio pelas vítimas da Covid-19

Mundo Lusíada
Com Lusa

O presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, iniciou a sessão comemorativa do 25 de Abril pedindo um minuto de silêncio em memória dos portugueses que morreram devido à Covid-19.

Em seu discurso, Ferro Rodrigues defendeu que Portugal e os portugueses estão vacinados contra a austeridade e pediu unidade no combate às consequências econômicas e sociais resultantes da pandemia.

Ferro Rodrigues referiu que, “contra todas as expectativas, contra muitos que pensavam nunca tal poder acontecer”, os portugueses “foram capazes de ultrapassar bloqueios e encontrar soluções capazes de recuperar o país da profunda crise – até mesmo de identidade e de valores – em que se encontrava, depois de um período tão difícil e complexo como foi o período de assistência financeira, com profundos impactos na pobreza e na exclusão social”.

“De uma coisa estou certo: Portugal e os portugueses estão vacinados contra a austeridade. Resta saber se a vacina tem 100% de eficácia”, apontou.

Segundo o presidente da Assembleia da República, embora a pandemia que Portugal enfrenta “tenha deitado a perder parte daquilo que foi conquistado com tanto esforço e sacrifício, foi no parlamento – que assumiu, também por isso, uma centralidade crescente no funcionamento do sistema político – e em concertação permanente, que foi possível concretizar um programa de recuperação de rendimentos e de alteração de política econômica, sem pôr em causa os compromissos internacionais de Portugal”.

“Num momento em que os portugueses esperam dos seus representantes sentido de responsabilidade, estou certo de que todos os representantes políticos – porque todos contam, porque todos são importantes – darão o seu contributo para um novo presente, para um futuro melhor”, acrescentou.

Um Novo 25 de Abril

Já o deputado único do partido Chega, André Ventura, defendeu na Assembleia da República uma nova revolução, argumentando que Portugal precisa de “uma nova madrugada” que traga um “novo regime” porque “este já não serve”.

“Hoje celebramos o fim de uma ditadura e o início de um regime democrático mas, porque não dizê-lo, precisamos de outro, precisamos de outro”, afirmou o líder demissionário do Chega na sessão solene.

Falando no parlamento, o deputado considerou que o atual regime “já não serve”, apontando várias críticas à corrupção, aos impostos, e à forma como são tratados os “profissionais na linha da frente” do combate à pandemia de covid-19.

“E pelo respeito enorme que temos àqueles que lutaram naquela manhã para fazer um regime diferente, também hoje precisamos que uma nova madrugada venha para nos trazer um novo regime”, apontou.

Assinalando que o fundador do PSD “Francisco Sá Carneiro dizia que naquele dia os militares realizaram um ato heroico de libertação de si mesmos, mas consigo quiseram libertar Portugal inteiro”, André Ventura assinalou que “talvez os militares daquela manhã tenham conseguido libertar-se a si próprios, mas não conseguiram libertar Portugal inteiro”.

“Essa ainda vai ser a nossa missão de o concretizar. Pode não ser correto, pode não ser politicamente aceitável, pode nem ser moralmente viável, mas hoje é o momento em que há uma força política nesta Assembleia que diz o 25 de Abril não esqueceremos, mas queremos outro, queremos outra democracia, e queremos outra república, queremos a quarta República portuguesa”, salientou o dirigente do Chega.

Liberdade condicionada

Rui Rio apontou que, pela primeira vez, esta data é comemorada em Portugal “com a liberdade condicionada”, com reflexos na cerimônia na Assembleia da República, com muito menos pessoas do que o habitual, quer de deputados, quer de convidados.

“Mas aquilo que, à primeira vista, pode parecer negativo, é no fundo um exemplo positivo do próprio regime democrático; que, sem complexos, mostrou ser capaz de responder com a legalidade constitucional, perante uma ameaça séria à nossa saúde coletiva”, afirmou.

O líder do PSD sublinhou que “Portugal não tem a democracia suspensa”, pelo contrário. “Tem a democracia bem presente, ao demonstrar que ela encerra, em si mesma, mecanismos de funcionamento capazes de responder com eficácia a uma circunstância única e absolutamente excecional”, disse, considerando que “teria sido dramático se, por cobardia ou complexos de ordem ideológica”, o estado de emergência não tivesse sido aprovado.

Desigualdades

O partido Verdes defendeu que “o 25 de Abril não está de quarentena”, em tempo de pandemia de covid-19, e que é preciso “achatar a curva” das desigualdades, 46 anos depois da “Revolução dos Cravos”.

José Luís Ferreira, deputado do Partido Ecologista “Os Verdes”, utilizou alguns termos associados à pandemia no seu discurso na sessão solene, e em que justificou a sua realização, num dia em que não se pode esquecer “a importância que a liberdade e a democracia representam para todos, enquanto povo”, e defendeu que o parlamento tem de continuar a trabalhar.

José Luís Ferreira evocou depois o fim da ditadura, os militares do Movimento das Forças Armadas (MFA), e o 25 de abril de 1974, essa “madrugada que semeou esperança, que devolveu dignidade a um povo vigiado, perseguido e silenciado, e que convocou a liberdade e a democracia”.

Depois da crítica à falta de solidariedade, de “conversa fiada” da União Europeia neste momento de crise, José Luís Ferreira disse esperar que o mês de maio seja o “início de uma caminhada de regresso à normalidade”.

Donos da Democracia

A líder parlamentar do PAN, Inês Sousa Real, considerou que “Abril está por cumprir” na saúde, no ambiente e no funcionamento das instituições democráticas e defendeu “uma nova alvorada” com “novas políticas e um novo paradigma”.

“À democracia, de pouco ou nada servirão cerimônias e demais simbologias, que se mostrem alheadas das aspirações e preocupações das pessoas e muito menos das consequências da atual crise sanitária, econômica, social e ambiental, ditada por uma doença silenciosa e desconhecida”, declarou a deputada do PAN.

A deputada advertiu que “não há donos da democracia” e que “só respeitando a pluralidade democrática e as vozes discordantes” é que se trava o “caminho dos populismos e a demagogia crescentes”.

Na opinião do PAN, “Abril está por cumprir”, da igualdade, ao combate à pobreza, ao acesso à justiça, na resposta do Serviço Nacional de Saúde, no direito universal à habitação, na proteção dos cidadãos na doença, velhice e desemprego e no acesso à educação com igualdade.

“Abril está por cumprir no respeito que devemos também para com os animais. No nosso país, os animais continuam a ser votados ao abandono, aos maus tratos, à privação da sua liberdade ou à sujeição a atividades cruéis, que ferem os valores humanitários que nos devem nortear”, lamentou.

Sistema de Saúde

Já o BE considerou que Portugal aprendeu com a pandemia que é o Serviço Nacional de Saúde que “salva e protege” as pessoas e que os profissionais de saúde são imprescindíveis, rejeitando o desenterrar da “velha cartilha” da austeridade.

Foi precisamente o deputado responsável pela área da saúde, Moisés Ferreira, que fez a intervenção pelo Bloco de Esquerda – começando por “lembrar todas as pessoas que sucumbiram ao novo coronavírus” – num 25 de Abril que considerou ser “diferente no modo, mas ainda mais importante no significado”.

“Hoje podemos confirmar que Abril é que combate a epidemia, não é a epidemia que combate Abril”, enfatizou.

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