Da Redação
Com Lusa
Portugal tem um dever histórico para com Timor-Leste e os timorenses por ter sido a sua potência colonial como pelo elevado número de timorenses que morreram, afirmou em Díli o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.
“Há um dever histórico de Portugal para com Timor e os timorenses. Não nos podemos esquecer que tivemos uma administração colonial em Timor durante muitos e muitos anos e morreram aqui mais de 100 mil pessoas em combate pela independência de Timor-Leste e pelo direito à autodeterminação”, diz Eduardo Ferro Rodrigues.
“Portugal nunca poderia ficar de fora deste tipo de partilha e desta necessidade de recompensa histórica em relação aos timorenses”, referiu em entrevista à Lusa em jeito de balanço da visita de três dias.
Ferro Rodrigues partiu neste dia 01 de Díli depois de participar, em representação do Presidente da República português nas comemorações dos 20 anos do referendo de independência em Timor-Leste.
Durante a permanência em Díli recebeu em nome da Assembleia da República e do povo português o Colar da Ordem de Timor-Leste, entregue pelo Presidente timorense em Tasi Tolu, num evento em que foram ainda condecorados o embaixador português Fernando D’Oliveira Neves e o jornalista da Lusa António Sampaio, entre outros.
Considerando o momento “uma jornada inesquecível, tanto em termos pessoais como institucionais”, Ferro Rodrigues disse que o que ocorreu nos últimos dias em Díli confirmou a relação profunda entre Portugal e Timor-Leste.
“Tudo o que se passou ao longo destes dias demonstrou a grande amizade que os timorenses têm por Portugal e pelos portugueses e, por outro lado, a grande solidariedade de Portugal e dos portugueses com Timor e os timorenses”, disse.
“Isso ficou patente naquele momento muito emotivo em que o Presidente da República de Timor-Leste condecorou a Assembleia da República e através da AR o povo português, devido à solidariedade extraordinária que foi manifestada ao longo destes 20 anos e mesmo antes, em relação ao combate pela emancipação de Timor”, afirmou.
Coube também a Ferro Rodrigues entregar, em nome do Presidente português, a Comenda da Ordem da Liberdade a três funcionários das Nações Unidas que mais de perto e durante mais tempo acompanharam a questão de Timor-Leste: Francesc Vendrell, Tamrat Samuel e Ian Martin.
Cidadãos que tiveram um papel “absolutamente essencial” em torno da questão de Timor-Leste, nomeadamente o processo do referendo e a pressão internacional depois do voto, quando o país foi alvo de uma onda massiva de violência e destruição por milícias timorenses com o envolvimento de militares e polícias indonésios.
“São pessoas que importava que Portugal reconhecesse o seu valor e importância, sobretudo num momento em que as Nações Unidas estão sob fogo por haver muitos acordos multilaterais e muitas decisões que não são pura e simplesmente respeitadas”, afirmou.
Cinco anos depois da sua anterior visita a Timor-Leste, Ferro Rodrigues diz que se nota “grande diferença” em Díli — desta vez não houve deslocações a outros locais do país — notando, porém, que muito ainda há para fazer.
“Em matéria de investimento privado e público no sentido de se criar uma dinâmica de melhor alojamento, combate a pobreza, há ainda muito para fazer”, disse.
Nesse sentido recordou o acordo de cooperação de Portugal com Timor-Leste que assenta nas áreas mais importantes, incluindo a “consolidação do Estado democrático” onde, apesar dos avanços há ainda “muitos conflitos institucionais que importa superar”.
O programa abrange ainda o setor de educação, formação, cultura, questões “básicas para qualquer país e também para Timor-Leste que tem uma população muito jovem” e ainda o desenvolvimento econômico, procurando ajudar o país a reduzir a dependência de petróleo e “passar a ter uma vida econômica e financeira mais autossustentável”, afirmou.