Mundo Lusíada
Com Lusa
O ex-Presidente Cavaco Silva foi condecorado pelo seu sucessor no cargo com o Grande Colar da Ordem da Liberdade, seguindo uma ‘tradição’ iniciada em 1996 pelo então chefe de Estado Jorge Sampaio. Esta foi mais um ato da programação do dia em que se assinalou a tomada de posse do novo presidente.
Numa breve cerimônia sem discursos, no Palácio da Ajuda, Marcelo Rebelo de Sousa impôs as insígnias a Cavaco Silva, que abandonou nesta quarta-feira a chefia do Estado, ao fim de dez anos na Presidência da República.
A cerimônia terminou com um demorado aperto de mão entre o Presidente da República e o seu antecessor, com Marcelo Rebelo de Sousa a deslocar-se depois junto da família de Cavaco Silva, cumprimentando a mulher, os filhos e os netos antes de sair da sala.
Cavaco Silva ficou depois a receber os cumprimentos dos convidados, entre os quais o presidente da Assembleia da República, o primeiro-ministro, o presidente do Tribunal do Tribunal Constitucional, o presidente do Supremo Tribunal de Justiça e o ex-Presidente da República Ramalho Eanes.
A antiga ministra Assunção Cristas, o líder do CDS-PP, Paulo Portas, a ex-ministra da Saúde do Governo de Cavaco Silva Leonor Beleza estavam também entre os convidados. Muitos elementos das Casas Civis e Militares que trabalharam ao longo dos últimos dez anos com Cavaco Silva deslocaram-se também ao Palácio da Ajuda, como o antigo ministro David Justino.
A Ordem da Liberdade destina-se a distinguir serviços relevantes prestados em defesa dos valores da Civilização, em prol da dignificação da Pessoa Humana e à causa da Liberdade.
O Grande-Colar da Ordem da Liberdade é o mais alto grau da Ordem e é concedido pelo Presidente da República a Chefes de Estado estrangeiros. Pode ainda ser concedido a antigos Chefes de Estado e a pessoas cujos feitos, de natureza extraordinária e especial relevância para Portugal, os tornem merecedores dessa distinção.
A Lei das Ordens Honoríficas estipula que os Presidentes da República que concluírem os seus mandatos recebem o Grande Colar da Ordem Militar da Torre e Espada. Tal aconteceu com todos os anteriores chefes de Estado eleitos em democracia.
Contudo, ao tomar posse como Presidente da República, em 1996, Jorge Sampaio decidiu também atribuir ao seu antecessor, Mário Soares, o Grande Colar da Ordem da Liberdade. Gesto que Cavaco Silva repetiu quando chegou a Belém, condecorando Jorge Sampaio também com o Grande Colar da Ordem da Liberdade.
Ramalho Eanes recebeu a mesma insígnia há poucos meses, já atribuída por Cavaco Silva, já que Jorge Sampaio em 2004 apenas o tinha condecorado com o grau de Grã-Cruz, inferior ao Grande Colar.
O ex-presidente Cavaco disse que agora vai descansar e assumiu que a saída de Belém marca o “fim de um ciclo”, agradecendo a generosidade do sucessor Marcelo Rebelo de Sousa na condecoração.
Encontro inter-religioso
Representantes de 17 confissões religiosas rezaram, na mesquita de Lisboa, uma oração ecumênica universal, numa cerimônia inter-religiosa “sem precedente em Portugal”, que assinalou a visita do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Responsáveis da igreja católica e da comunidade islâmica em Portugal destacaram que o encontro é “um bom sinal” e “um exemplo” para o mundo.
Na plateia, entre cerca de 200 pessoas, encontravam-se o ex-Presidente da República Jorge Sampaio, o núncio apostólico, Rino Passigato, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, e a candidata à liderança do CDS-PP, Assunção Cristas.
Em declarações aos jornalistas, o cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, considerou que a celebração é “um bom caminho de contar com as diversas religiões como fatores de paz que elas essencialmente são”.
O representante da igreja católica referiu que “religiões quer dizer ligações ou religações àquilo que é comum na humanidade em geral, como princípio e como fim”. “Então que nos reencontremos para ativar essa mesma realidade é muito bom e que o senhor Presidente da República comece assim o seu mandato também é um bom sinal. Cá estamos”, sublinhou.
Questionado sobre o significado da visita do Presidente ao Vaticano, na próxima semana, Manuel Clemente considerou que “é uma boa maneira de começar o mandato presidencial”, mencionando que, no seu discurso na Assembleia da República, Marcelo Rebelo de Sousa “lembrou que Portugal é uma realidade muito antiga e que o primeiro reconhecimento internacional que teve foi precisamente na Santa Sé, no tempo do papa Alexandre III, quando reconheceu Dom Afonso Henriques como rei em 1179”.
O imã da mesquita de Lisboa, xeque David Munir, afirmou que o encontro inter-religioso “é marcante, é histórico, não é simbólico”. “Esperemos que este exemplo que Portugal está a demonstrar ao mundo sirva para os outros países. É possível juntar e dialogar entre as religiões”, disse o xeque Munir, que acrescentou: “Isto só demonstra que há muçulmanos que têm boa vontade e há muçulmanos que querem mesmo a paz, apesar de haver alguns muçulmanos que não desejam a paz e não respeitam as outras culturas”.
“Nós todos estamos preocupados com a paz e com o bem-estar, independentemente da crença e da cultura que a pessoa possa ter, pode até não ser crente; é ser humano, merece ser respeitado. Estas iniciativas irão continuar. Hoje, Portugal está de parabéns”, salientou.
Durante a cerimônia, que durou cerca de 30 minutos, os representantes de 17 confissões religiosas leram, em conjunto, uma oração ecumênica universal.
“Dai-nos: sabedoria para distinguir o bem do mal; compreensão para acabar com os conflitos; compaixão para apagar o ódio; perdão para superar a vingança; amor para compreender e amar o outro. Faz com que todos os povos vivam de acordo com a Tua Lei de Amor”, dizia a oração ecumênica que terminou com um “Amém” coletivo e um aplauso.
As confissões representadas na cerimônia eram: Aliança Evangélica, Associação Internacional Buddhas Light, comunidades Baha’i, Hindu, Islâmica, Muçulmana Shia Ismaili, Israelita, Religiosa Ciência da Alma, Shiita, Sikh, COPIC, igrejas Adventista, Católica Portuguesa, de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Lusitana Católica Evangélica-Anglicana, Ortodoxa Grega, Vetero Católica, e ainda Templo de Shiva e União Budista.