Mundo Lusíada
Com agencias
José Eduardo dos Santos anunciou em 15 de outubro em Luanda o fim da parceria estratégica com Portugal, durante o discurso sobre o estado da Nação, na Assembleia Nacional de Angola.
“Só com Portugal, as coisas não estão bem. Têm surgido incompreensões ao nível da cúpula e o clima político atual, reinante nessa relação, não aconselha à construção da parceria estratégica antes anunciada”, disse José Eduardo Santos.
Num longo discurso no Parlamento Angolano, Eduardo dos Santos dedicou apenas um par de frases à relação do país com Portugal, não tendo detalhado o alcance do anúncio do fim da parceria estratégica com Angola.
O ministro das Relações Exteriores de Angola disse, depois do discurso de Eduardo dos Santos, ser necessário que os portugueses façam algum esforço para melhorar as relações com Angola. Georges Chikoti, de acordo com a agência de notícias Angop, adiantou que as relações com Portugal podiam ser melhores, mas têm surgido dificuldades que impedem o estabelecimento de relações estratégicas.
Portugal e Angola têm previsto realizar, em Luanda, em Fevereiro do próximo ano, a primeira cimeira bilateral, que foi anunciada em Fevereiro passado pelo então ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Portas. Segundo a imprensa portuguesa, o evento tem risco de ser cancelada, o governo reafirma que o evento vai acontecer.
As autoridades dos dois países pretendem que a cimeira, sob o lema “Reforço da Cooperação Portugal-Angola – O Crescimento Econômico e o Desenvolvimento Sustentável dos dois países”, “tenha uma densidade e uma característica substantiva muito própria, que trate de assuntos que sejam realidades importantes para os dois povos”.
Críticas da oposição
Os dois principais partidos da oposição angolana, UNITA e CASA-CE, criticaram, em declarações à Lusa, o anúncio feito por José Eduardo dos Santos.
Deputados da oposição, nomeadamente da UNITA e da CASA/CE, referiram que as relações entre Portugal e Angola sempre tiveram altos e baixos, mas sublinham que há uma necessidade de todos se entenderem.
Vitorino Nhany, secretário-geral da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), disse que o anúncio representa uma retaliação contra Portugal. “Acredito que Portugal esteja a denunciar alguns atos de corrupção e para um Estado corrupto isto não cai bem, esta é a única conclusão que posso retirar da reação do Presidente”, disse.
Nhany, que também é deputado, defendeu a realização da primeira cimeira bilateral, que chegou a ser inicialmente prevista para o último trimestre deste ano e foi agora adiada para fevereiro de 2014. “Sim porque temos laços históricos de amizade e cooperação”, considerou.
O secretário-geral da UNITA defendeu que “o mais importante é que sejam dirimidos todos os problemas que afetem as duas partes para que de fato se faça uma cooperação positiva”.
O líder parlamentar do Movimento popular de libertação de Angola (MPLA, no poder) classificou como “realista” e “sensato”. Virgílio de Fontes Pereira, líder parlamentar do MPLA, disse que o anúncio de José Eduardo dos Santos se justifica porque, considerou, “alguns setores das elites portuguesas não têm historicamente compreendido o que se passa em Angola”.
“Nós os angolanos continuamos a considerar Portugal como um país irmão, continuamos a considerar o povo português como irmão, mas não podemos aceitar que algumas vozes pensem que eles é que mandam em Angola, mesmo que tenham sido históricos na política portuguesa”, acrescentou. Virgílio de Fontes Pereira disse ainda à Lusa que, ao contrário do que se passa em Portugal, nunca ninguém viu em Angola quem quer que fosse a questionar a atual situação econômica portuguesa.
Balança comercial
O fim da anunciada “parceria estratégica” entre Lisboa e Luanda surge num contexto de forte aumento das importações por Portugal e de significativo abrandamento das exportações, com a balança comercial portuguesa do primeiro semestre a passar a negativa.
O saldo da balança comercial de bens entre Portugal e Angola passou para 180 milhões de euros negativos no primeiro semestre deste ano, invertendo os 456 milhões positivos conseguidos nos primeiros seis meses de 2012, de acordo com os dados compilados pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), divulgados pela Lusa em agosto.
O principal responsável pela inversão do saldo da balança comercial de bens entre Portugal e Angola foi o volume das importações, que quase duplicaram, passando de 855 milhões de euros para quase 1,6 mil milhões nos primeiros seis meses deste ano, o que revela uma subida de 86,4%.
Por seu lado, as exportações de produtos portugueses para Angola subiram apenas 7,8%, de 1,31 bilhões para 1,41 bilhões de euros, ou seja, cerca de 100 milhões de euros.
Quanto à balança comercial de serviços, o panorama é semelhante: as exportações diminuíram 2,8% nos primeiros seis meses do ano, face ao primeiro semestre de 2012, regredindo de 643,1 milhões para 625 milhões de euros, enquanto as importações subiram 16,1%, de 71,9 para 83,5 milhões de euros.
O saldo, ainda assim, mantém-se positivo para Portugal em 541,4 milhões, ligeiramente menos que o saldo positivo de 571 milhões de euros obtidos no primeiro semestre de 2012.
A estimativa é que 200 mil portugueses vivam em Angola. Portugal é um dos países que mais investem no país, sendo que os angolanos também têm investimentos em Portugal, como a petrolífera estatal angolana Sonangol.