Presidenciais: Marcelo consegue a terceira maior porcentagem de sempre

Mundo Lusíada
Com Lusa

Marcelo Rebelo de Sousa foi reeleito Presidente da República no domingo com votação reforçada e a terceira maior porcentagem em eleições presidenciais em democracia, 60,70% dos votos expressos, a segunda maior numa reeleição.

Nas presidenciais com maior abstenção desde o 25 de Abril, realizadas no momento mais grave da propagação da covid-19 em Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa submeteu-se ao voto como “responsável máximo do Estado e, nessa medida, da gestão da pandemia”, como realçou no seu discurso de vitória, feito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde foi aluno e professor.

O professor catedrático de direito jubilado, de 72 anos, que se recandidatou à chefia de Estado apoiado formalmente por PSD e CDS-PP, foi reeleito com 2.533.799 votos, quando faltam apurar apenas os resultados em três consulados.

Ao contrário dos seus antecessores Aníbal Cavaco Silva e Jorge Sampaio, que nas respetivas reeleições, em 2011 e 2001, perderam votantes, Marcelo Rebelo de Sousa superou em quase 120 mil votos os 2.413.956 que tinha obtido em 2016, correspondentes a 52% do total de votos expressos.

Este resultado foi conseguido numas eleições em que o PS, no Governo, optou por não declarar apoio a nenhum candidato, mas aprovou uma moção em que faz uma “avaliação positiva” do primeiro mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, apesar de haver uma socialista na corrida, a diplomata e antiga eurodeputada Ana Gomes.

Por outro lado, pela primeira vez em eleições presidenciais, o vencedor, Marcelo Rebelo de Sousa, foi o candidato mais votado em todos os concelhos do país – Mário Soares ficou perto, em 1991, só não conseguindo ganhar em nove concelhos, em que perdeu para o comunista Carlos Carvalhas.

Na distância entre o primeiro e o segundo candidatos mais votados, o Presidente da República reeleito no domingo teve a terceira maior diferença de votos em dez eleições presidenciais, de perto de dois milhões, atrás das margens de Soares em relação a Basílio Horta em 1991 e de Ramalho Eanes para Otelo Saraiva de Carvalho em 1976.

Marcelo Rebelo de Sousa, que liderou o PSD entre 1996 e 1999 e foi comentador político televisivo durante 15 anos, assumiu a chefia do Estado em 09 de março desse ano, sucedendo a Aníbal Cavaco Silva.

No seu primeiro mandato, conviveu com um quadro inédito de governação minoritária do PS suportada à esquerda no parlamento, com António Costa como primeiro-ministro, e manteve a recandidatura em aberto até ao final do ano passado.

Nestas presidenciais, teve como adversários Ana Gomes, Marisa Matias, João Ferreira, André Ventura, Tiago Mayan Gonçalves e Vitorino Silva.

Derrota da Esquerda

Os três candidatos de esquerda, Ana Gomes, João Ferreira e Marisa Matias, tiveram globalmente o resultado mais baixo de sempre em presidenciais, indiciando que Marcelo Rebelo de Sousa captou largamente o eleitorado de centro-esquerda.

A socialista Ana Gomes ficou com cerca de 13%, o dirigente comunista João Ferreira com 4,27% e a eurodeputada do Bloco de Esquerda Marisa Matias com 3,95%. Há cinco anos os candidatos de esquerda obtiveram em conjunto 41,19%, então, já aí, o pior resultado desde as primeiras eleições presidenciais de 1976.

Das presidenciais de 2016 para 2021, a bloquista Marisa Matias perdeu mais de 300 mil votos, enquanto o dirigente do PCP João Ferreira ficou ligeiramente acima em termos percentuais do comunista Edgar Silva.

Mas o resultado dos três candidatos presidenciais de esquerda é ainda significativamente mais baixo se comparado com a dimensão popular dos partidos que pretenderam representar neste ato eleitoral.

Os resultados destas eleições presidenciais indiciam por isso, em primeiro lugar, que uma larga maioria dos eleitores do PS votou pela reeleição do Presidente da República. Uma circunstância à qual não será estranha o fato de o secretário-geral do PS e primeiro-ministro, António Costa, assim como figuras socialistas como Ferro Rodrigues ou Augusto Santos Silva, terem sido incisivos nos elogios ao primeiro mandato presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa.

Marcelo Rebelo de Sousa teve mesmo o apoio formal de socialistas como o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, dos ex-ministros Vieira da Silva e Adalberto Campos Fernandes, de vários autarcas de peso, casos de Manuel Machado (Coimbra) e Eduardo Vítor Rodrigues (Porto), e do membro da Comissão Política do PS Álvaro Beleza.

Ana Gomes, dentro do PS, teve consigo o apoio de figuras históricas como Manuel Alegre, João Cravinho ou Vera Jardim, e também as chamadas “franjas” do partido: na ala direita, o antigo líder parlamentar Francisco Assis; na ala esquerda o ministro Pedro Nuno Santos e o líder da Federação da Área Urbana de Lisboa e secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro.

Além dos indicadores que revelam que o eleitorado de centro esquerda optou maioritariamente por Marcelo Rebelo de Sousa, houve também perdas relevantes por parte da bloquista Marisa Matias. Perdas que poderão ter beneficiado em parte a socialista Ana Gomes e que acontecem um mês e meio depois de o Bloco de Esquerda ter votado contra no parlamento a proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2021, que foi viabilizado pelo PCP, PAN e PEV.

No PCP, tem-se registado uma perda eleitoral desde 2015 em legislativas e também em autárquicas, sobretudo nas de 2017, em que os comunistas perderam câmaras municipais como Almada, Barreiro ou Alcochete na Área Metropolitana de Lisboa.

Os analistas dividem-se se as mais recentes quedas do PCP em termos de votos são um resultado direto da viabilização dos governos de António Costa no parlamento, ou se, pelo contrário, apresentam uma causa mais estrutural e que estará ligada ao envelhecimento do seu eleitorado.

Já o presidente do Chega, avisou domingo o homólogo do PSD, Rui Rio, sobre o peso eleitoral reforçado do partido, ao ultrapassar as candidaturas comunista e bloquista, assumindo-se já como líder da terceira força política nacional.

Dos 308 concelhos, Ventura estabeleceu-se como segundo em 204, numa campanha eleitoral marcada pelos gritos de manifestantes de “facho”, “racista” e “xenófobo”, além de outros impropérios, em resposta ao seu discurso radical, designadamente contra a comunidade cigana.

Ana Gomes venceu André Ventura nos distritos do litoral continental, com exceção de Leiria, mas o candidato do Chega ganhou o interior. Quanto às ilhas, Ana Gomes conquistou o segundo lugar nos Açores, André Ventura na Madeira.

Foi nos grandes distritos do território continental que Ana Gomes consolidou o segundo lugar, sobretudo no Porto, onde venceu André Ventura com quase 54 mil votos de vantagem: os 116.906 votos corresponderam a 15,58% da votação no distrito, contra os 63.194 de André Ventura que lhe garantiram um resultado de 8,42%.

Ainda na noite de domingo, André Ventura anunciou a demissão de presidente da direção nacional do partido, após ter ficado atrás da sua adversária Ana Gomes e cumprindo assim uma promessa eleitoral.

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