PR cabo-verdiano visitou família de imigrante morto em Portugal

Forças policiais acompanham os protestos dos moradores do bairro do Zambujal após um homem ter sido morto por um agente da polícia na segunda-feira, na Amadora, 22 de outubro de 2024. JOÃO RELVAS/LUSA

Da redação com Lusa

O Presidente de Cabo Verde visitou nesta segunda-feira, no Zambujal, Amadora, a família de Odair Moniz, cabo-verdiano de 43 anos baleado mortalmente, há um mês, por um agente da PSP, na Cova da Moura, região metropolitana de Lisboa.

“A iniciar a sua missão a Portugal, o Presidente da República, José Maria Neves, deslocou-se ao Zambujal, à casa de Odair Moniz”, indicou a equipa da presidência numa publicação, na Internet, exprimindo pesar pela vítima cabo-verdiana e solidariedade com a família.

Neves quis “expressar, de viva voz, profundo pesar e apoio neste momento difícil” e inteirar-se “da situação da família enlutada, a viúva Mónica Moniz, os dois filhos, de 20 e de três anos de idade, bem como Sílvia Silva, irmã da viúva”.

Sem registos fotográficos dentro da casa, José Maria Neves foi acompanhado pela secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Cabo Verde, Miryan Vieira, e pelo embaixador cabo-verdiano em Portugal, Eurico Correia Monteiro.

Já na altura, dois dias após a morte, o chefe de Estado tinha expressado “solidariedade” para com a família, considerando “lamentável a forma trágica” da morte e entendendo “o sentimento de revolta e indignação que reina no seio da comunidade cabo-verdiana”.

Todavia, o chefe de Estado apelou à “calma e serenidade”, confiando “nas autoridades do país”, lembrando que o Ministério da Administração Interna de Portugal determinou a abertura de um inquérito “com caráter de urgência” para apurar os factos relacionados com a morte de Odair Moniz.

Odair Moniz, morador no bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado mortalmente por um agente da PSP na Cova da Moura, no mesmo concelho, a 21 de outubro.

O caso desencadeou incidentes em várias comunidades da Área Metropolitana de Lisboa, com autocarros, automóveis, motos e caixotes do lixo incendiados, dos quais resultaram duas dezenas de detidos e pelo menos seis pessoas feridas, umas das quais grave (o motorista de um autocarro).

De acordo com a versão oficial da PSP, Odair ter-se-á posto “em fuga” de carro depois de ver uma viatura policial e despistou-se na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, “terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”.

A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação “séria e isenta” para apurar responsabilidades, considerando que está em causa “uma cultura de impunidade” nas polícias.

As autoridades desencadearam inquéritos, mas ainda não são conhecidas conclusões.

Segundo disse à Lusa o advogado do agente que baleou Odair Moniz, este permanece de baixa médica, aguardando ser chamado para prestar declarações no âmbito dos processos disciplinares a que foi sujeito.

O agente prestou declarações à Polícia Judiciária “logo a seguir aos fatos”, na madrugada de 21 de outubro, mas ainda não o fez perante o Ministério Público, de acordo com a mesma fonte.

A família de Odair Moniz lançou entretanto uma campanha de angariação de fundos (disponível online, no endereço https://www.gofundme.com/f/justica-por-odair-moniz), que já recolheu mais de 29 mil euros.

A família também apresentou na quinta-feira uma queixa contra a Polícia de Segurança Pública (PSP) por abuso de poder, disse à Lusa uma das advogadas de defesa.

Em causa está o que a família considera ter sido a invasão policial de uma casa em luto, uns dias após a morte de Odair Moniz, e da qual diz terem resultado danos psicológicos e materiais.

Logo nessa altura, a família aludiu à possibilidade de apresentar queixa contra a polícia, que foi formalizada na quinta-feira, confirmou à Lusa uma das advogadas de defesa.

A queixa – por crimes de abuso de poder, dano e violação de domicílio por funcionário – foi apresentada no Ministério Público contra o Comando Geral da PSP e também contra desconhecidos, dado que a defesa desconhece a identidade dos agentes alegadamente envolvidos na intervenção.

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