Mundo Lusíada
Com Lusa
Em 20 de junho, a Câmara da Póvoa de Varzim declarou o concelho “antitouradas”, a partir de janeiro de 2019 serão proibidos corridas de touros ou outros espetáculos “que envolvam violência sobre animais”, anunciou o município.
Em nota publicada na sua página oficial, o município sublinha que a decisão foi aprovada por unanimidade.
Na última semana, o presidente da Câmara, Aires Pereira, já tinha anunciado que a Praça de Touros da cidade vai ser transformada em multiusos e deixará de receber touradas, logo depois de realizadas as duas agendadas para este verão.
Na terça-feira, o concelho foi declarado “antitouradas”, num “corte inevitável com uma tradição que, tendo feito o seu caminho e prosseguido o seu objetivo, não tem, nos nossos dias, razão de ser”.
A nota sublinha que esta medida vem na sequência de outras já tomadas anteriormente em nome da defesa e do bem-estar dos animais.
A Câmara da Póvoa de Varzim já tinha proibido a utilização de animais selvagens em espetáculos de circo, mesmo antes de essa utilização ter ser proibida por lei.
Acrescenta que a Câmara também já criou “mais condições” para a população canina, quer no Centro de Recolha Oficial de Animais de Companhia, onde se não fazem abates, quer nas instalações de “A Cerca”, associação de voluntários com quem foi estabelecido protocolo de suporte à sua atividade.
Alude ainda à criação da Ambulância Animal, para socorro de animais em sofrimento na via pública.
Na terça-feira, a Câmara “aprovou, por unanimidade, a interdição de corridas de touros ou outros espetáculos que envolvam violência sobre animais, a partir de 1 de janeiro de 2019”.
Aires Pereira explicou que “com a progressiva perda de público dos espetáculos tauromáquicos, mais acentuada a norte que a sul, refletida numa queda global de 50% nos últimos 7 anos, as praças de touros do norte passaram a ter um uso residual”.
Disse ainda que, ultimamente, apenas se realizavam duas touradas por ano na praça da Póvoa de Varzim e que a sociedade “se tem vindo a posicionar de forma diferente” em relação a essas corridas.
“Há uma outra sensibilidade em relação às touradas, as novas gerações olham-nas de forma diferente, este ano já não se fizeram garraiadas nas festas acadêmicas e a Câmara decidiu dar um novo uso àquela praça”, referiu.
Esta decisão é contestada pelo Movimento a Favor da Festa dos Toiros na Póvoa de Varzim, que lançou um abaixo-assinado que já reúne mais de 1.600 assinaturas, para tentar reverter a proibição das touradas no concelho.
“Não queremos guerra com ninguém, apenas queremos provar que há muita gente que gosta de touradas e que essa gente também merece ser respeitada, disse à Lusa Rui Porto, daquele movimento.
Também a ProToiro, Federação Portuguesa de Tauromaquia, já se manifestou contra o fim das touradas na Póvoa de Varzim, sublinhando que “seria um enorme contrassenso” uma praça de touros ser reabilitada e passar a ficar indisponível “para aquela que é a sua principal função”.
Já em 2013, também em Viana do Castelo, habitantes entregaram ao presidente da Câmara local, simbolicamente, um abaixo-assinado defendendo a proibição da realização de touradas no concelho.
Defesa
No dia 19, organizações do setor da tauromaquia de Portugal, Espanha e França assinaram em Madrid um protocolo de cooperação em defesa dos valores culturais da tauromaquia e delinear estratégias contra os movimentos opositores de corridas de touros.
O acordo entre a ProToiro (Portugal), a Fundação do Touro de Lide (Espanha) e o Observatório Nacional das Culturas Taurinas (França) criou o Conselho Internacional de Tauromaquia (CIT), que a partir de agora estabelece a cooperação relativa a todos os temas relacionados com a prática, o desenvolvimento, a defesa e a promoção taurina.
O CIT vai dar apoio ao reconhecimento das tradições taurinas como patrimônio cultural imaterial e sensibilizar os atores institucionais e associativos envolvidos e informar as formações políticas e os meios de comunicação social sobre aquilo que as três associações nacionais consideram ser “a realidade de uma cultura identitária e da maior importância”.
A organização também vai exercer pressão na defesa destes valores junto de várias instâncias internacionais, como as Nações Unidas e o Parlamento Europeu.
Mas a queda no setor vem sendo sentida. Em 2017, a associação Animal anunciou uma iniciativa legislativa de cidadãos para pedir o fim da atribuição de subsídios públicos à atividade tauromáquica no parlamento europeu.