ARQUIVO: Francisco de Lacerda (2E), presidente e CEO dos CTT, Luís Laginha de Sousa, presidente e CEO Euronext Lisbon (E), o ministro da Economia Pires de Lima (2D), o secretário de Estado dos Transportes e Comunicações Sérgio Monteiro (2D) e o secretário de Estado das Finanças, Miguel Rodrigues (D) quando da privatização em 2013. JOSÉ SENA GOULÃO / LUSA
Da Redação
Com Lusa
Dezenas de utentes das freguesias de Aldeia de Paio Pires (Seixal) e de Camarate e Apelação (Loures) manifestaram-se à porta da sede dos CTT, em Lisboa, contra o fecho das respectivas estações dos correios.
Ao mesmo tempo que, no exterior, as cerca de seis dezenas de utentes empunhavam cartazes com palavras de ordem contra o fecho das estações, os autarcas do Seixal, Loures, Odivelas, Alpiarça e Riba de Ave, reuniam-se lá dentro com o administrador executivo dos CTT, António Pedro Silva, responsável pela parte operacional das lojas.
Gritando “Reversão da privatização”, “Só a reversão é a solução” ou “Privatização é roubo à população”, os cerca de 60 utentes esperaram mais de uma hora que os seus representantes autárquicos trouxessem boas novas da reunião.
À saída, o presidente da Câmara Municipal de Loures, Bernardino Soares, adiantou aos jornalistas não ter sido dada “justificação racional” para o fecho das estações, considerando que se tratam “de critérios puramente economicistas”.
“Há uma total insensibilidade para com as populações e para com as empresas”, acusou o autarca, referindo que a administração dos CTT “está completamente alheia às necessidades e longe do interesse público”, além de estar a querer “passar os custos para outras entidades”.
Já o presidente da Câmara do Seixal, Joaquim Santos, frisou que se assiste a um problema de reestruturação da empresa que passa por encerrar estações dos CTT, passando para privados e freguesias, pelo que admitiu sair da reunião com “uma enorme insatisfação” por tudo o que está a acontecer.
“Os correios estão cada vez mais caros, demoram cada vez mais tempo e fecham estações. O serviço público não está a ser bem prestado, logo o Governo tem uma palavra a dizer”, sublinhou.
Em declarações à Lusa, o presidente das coletividades do concelho do Seixal, mais propriamente da Aldeia de Paio Pires, considerou “injustificado este ato criminoso” de fechar a estação dos CTT.
Segundo Hélder Rosa, “grande parte” dos cerca de 15 mil habitantes da freguesia, já tem uma “idade um pouco avançada” e “dificuldades em se deslocar”, considerando não haver “justificação [para o fecho], pois trata-se de uma estação onde a população se desloca abundantemente, assistindo-se a 15/20 minutos do tempo de espera”.
Também Manuel Amaral está contra o fecho da estação de Paio Pires, acrescentando que é “prejudicial à população” que até ela se desloca para “receber as suas pensões e fazer os pagamentos de eletricidade e água”.
“Já se previa que a privatização ia dar este resultado. Só interessa ao capital, a [administração dos CTT] é que está a usufruir dos lucros. Estes estão a ser mal repartidos, só pela administração e não pela população”, acusou.
Pela sua parte, Delfina Vitorino, que utiliza a estação dos CTT de Camarate, uma das 22 previstas para fechar, lembra que a mesma atende “uma média de 200 pessoas por dia”, servindo uma “população idosa que tem de passar a ir à estação mais próxima de Sacavém e não terá mobilidade para se deslocar a pé”.
Neste dia 05, os CTT informaram que vão disponibilizar 19 novos postos, “limitando assim a três a redução” anteriormente anunciada, de 22 lojas.
Em comunicado, os CTT garantem que continuam a “assegurar proximidade às populações, com 2.366 pontos de acesso” e que, no âmbito do plano de “transformação e modernização” da rede, há “já aberto ou assegurado a abertura de 13 novos estabelecimentos postais – postos de correios – nas envolventes das 22 lojas cujo encerramento foi anunciado, encontrando-se ainda em negociação seis adicionais”.
Pedro Silva garantiu ainda que a empresa “não vai abandonar as populações” e sublinhou que esta está “empenhada em encontrar soluções” com autarquias e privados de forma a garantir o serviço.
O responsável garantiu a existência de “algumas negociações” com os autarcas do Seixal, Loures, Odivelas, Alpiarça e Riba de Ave para que seja encontrada uma solução.
Em dezembro passado, os CTT divulgaram um Plano de Transformação Operacional, que previa a redução de cerca de 800 trabalhadores na área das operações ao longo de três anos, em consequência do tráfego do correio, de um total de 6.700, dos quais 6.200 efetivos e perto de 500 contratados a termo.
No final de setembro do ano passado, o grupo CTT contava com 12.843 trabalhadores, enquanto no final de dezembro de 2013 – altura em que a empresa foi privatizada, entrando em bolsa – contabilizava 12.383, ou seja, mais 3,7% (mais 460 trabalhadores em quatro anos).