Portugueses estão “mais solitários e deprimidos”, alertam acadêmicos

Da Redação
Com Lusa

A historiadora Raquel Varela e o psiquiatra António Coimbra de Matos alertam no livro “Do Medo à Esperança” que os portugueses estão cada vez mais solitários e deprimidos, sobretudo em virtude de questões laborais.

“Os quadros mais notórios e frequentes são a depressão, a doença psicossomática e os conflitos laborais, com pesados custos para o indivíduo e para a sociedade. Nos dias de hoje, a morbilidade por exaustão no trabalho inunda as consultas médicas e psicológicas”, refere o psiquiatra Coimbra de Matos no livro apresentado dia 20 pela Bertrand Editora.

“Do Medo à Esperança” é transcrição de uma longa conversa, mantida durante os primeiros meses de 2016, entre o psiquiatra António Coimbra de Matos, 87 anos, e a historiadora Raquel Varela, 37 anos, sobre o estado geral em que se encontra a sociedade portuguesa contemporânea.

“Nós constatamos que a sociedade portuguesa é uma sociedade com graves depressões individuais. O número de depressões está a aumentar e o estado de desmoralização nos locais de trabalho, profundamente competitivos e torturadores, está também a aumentar”, disse hoje à Lusa Raquel Varela.

Segundo a historiadora, o livro propõe também uma reflexão sobre a ausência de resistência necessária para inverter as “situações adversas”, propondo como soluções a “construção de relações e o envolvimento em organizações participativas” capazes de reconstruir ligações de afeto entre as pessoas, com o trabalho, com o bairro e com a família.

“É triste constatar que muitas pessoas continuam casadas porque não têm como pagar a casa. Têm uma dívida ao banco e mantêm uma relação que já não é de afeto”, salientou Raquel Varela acrescentando que o livro debate também, entre outros aspetos, o isolamento não só dos mais velhos mas também dos jovens e das crianças.

“As pessoas estão sós e não é por estarem agarradas a uma máquina, a um computador ou a um telemóvel ou à televisão que deixam de estar sós. Por isso, não é nada estranho que as pessoas transfiram os afetos para animais ou coleções. É um afeto reduzido porque o afeto da relação humana é o que nos pode tirar da depressão, ao tirar-nos da solidão”, explicou a historiadora.

Raquel Varela é investigadora do Instituto de História Contemporânea e autora da “História do Povo na Revolução Portuguesa 1974-75” além dos estudos publicados sobre a Segurança Social e Estado Social em Portugal.

António Coimbra de Matos, psiquiatra, pedopsiquiatra, psicanalista e professor na Faculdade de Psicologia de Lisboa durante mais de trinta anos e autor dos livros “A Depressão”, “O Desespero” e “Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica”, entre outros.

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