Portugueses e moçambicanos em vigília dizem “basta” a raptos em Moçambique

Cidadãos portugueses e moçambicanos durante uma vigília contra os raptos em Moçambique, apelando ao apoio das autoridades, quando pelo menos duas pessoas permanecem em cativeiro, que decorreu na Praça do Comércio, em Lisboa, 23 de dezembro de 2023. ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Da Redação com Lusa

Cidadãos portugueses e moçambicanos juntaram-se em vigila, dia 23 em Lisboa, afirmando que “basta” de raptos em Moçambique, pedindo ação às autoridades, numa altura em que pelo menos duas pessoas permanecem em cativeiro.

“Chega, basta. Parem com isto por favor”, afirmou à Lusa Sabina Aboobaker, uma das quase duas dezenas que se juntaram ao final da manhã no Terreiro do Paço, capital portuguesa, numa vigila contra com os raptos em Moçambique, que afetam moçambicanos e luso-moçambicanos.

Filha de pais moçambicanos, ela própria viu uma pessoa da família ficar em cativeiro quatro meses: “Foi horrível, foi tortura para toda a gente (…) Está a acontecer cada vez mais. É repugnante”.

Maputo vive há algumas semanas uma nova onda de raptos, sobretudo de empresários, com registo de dois luso-moçambicanos visados desde novembro e suspeitas de envolvimento de agentes ligados à investigação policial neste tipo de crime.

A “vigília contra os raptos em Moçambique” visou apelar “às autoridades de Moçambique para enveredarem todos os esforços na tentativa do resgaste das vítimas”.

Para Sabina, as autoridades “deviam fazer algo” de forma determinada para acabar com o que descreve como “máfia”: “Como nós lemos, na máfia italiana, que raptam a mulher para dar um aviso a quem não pagou, isto é real”.

Luís Fonseca de Sousa, português, também se juntou à vigília, recordando que o viveu com uma pessoa da família em cativeiro durante várias semanas, em Maputo.

“Muita angústia, muito sofrimento, incerteza, de não saber o dia de amanhã, ficar dias, semanas seguidas, sem se saber nada sobre o nosso ente querido”, contou.

“Felizmente tudo correu bem, mas neste momento ainda existem duas pessoas em cativeiro, raptadas, com duas famílias aflitas, desesperadas para que esta situação se resolva”, acrescentou.

O apelo comum na vigília é de que algo deve ser feito para “terminar com estes crimes”.

“Por parte do Governo português tem de haver alguma pressão e alguma ajuda ao Governo moçambicano, para que isto mude de uma vez por todas. Até provavelmente alguma interação e parceria com as polícias dos dois países ou em parceria com polícias de outros países, se calhar mais preparados para lidar com este tipo de problemas, para que isto se resolva de uma vez por todas”, apelou Luís Sousa.

O problema, relatam os participantes nesta vigília, é que os visados nestes raptos já “não são milionários” e sim “pequenos empresários, médios empresários”, entre moçambicanos e luso-moçambicanos.

A Confederação das Associações Econômicas (CTA), a maior associação patronal do país, defendeu no início de novembro, face a esta nova onda de casos, penas de prisão “mais severas” contra raptores e sem possibilidade de pagamento de caução para travar estes crimes.

Uma petição lançada na terça-feira, dirigida aos governos de Moçambique e de Portugal, pede medidas para resgatar os cidadãos em cativeiro, apelando para que “não deixem estas vítimas cair no esquecimento”, tendo reunido já mais de meio milhar de subscritores.

A polícia de Moçambique deteve na madrugada de quinta-feira três pessoas envolvidas no rapto de uma jovem luso-moçambicana de 26 anos, que esteve em cativeiro durante 50 dias.

A vítima foi raptada à porta de casa, no centro de Maputo, no dia 01 de novembro, por três homens armados, tendo o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal confirmado anteriormente que estava a acompanhar este caso e um outro, de outro cidadão também luso-moçambicano, alvo de uma tentativa de rapto também na capital, pouco dias depois.

Segundo o Serviço Nacional de Investigação Criminal de Maputo, já se registraram seis casos de rapto em Maputo, “que foram executados”, e outras cinco tentativas, com duas vítimas a permanecerem em cativeiro.

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