Portuguesa: 92 anos de história

Por Everton Calício

Uma das maiores colônias de imigrantes instalados na cidade de São Paulo sempre teve representações em diversos setores da sociedade. Na década de 1920, os portugueses se faziam representar no comércio, com a Câmara Portuguesa do Comércio, no serviço, com as padarias e em algumas profissões como farmacêuticos, feirantes e outros. Porém a colônia lusitana não tinha uma representatividade expressiva dentro do meio esportivo.

Praticamente todos os times que existiam no início do século XX e que representavam portugueses eram times de várzea ou de segundo escalão. Devido ao sucesso da criação da Associação Atlética Portuguesa, na cidade de Santos, os patrícios paulistanos ficaram entusiasmados em repetir o feito na capital paulista e criar uma sociedade que efetivamente representasse os portugueses no futebol. Após algumas reuniões foi definida a fusão de cinco pequenos clubes da colônia; Portugal Marinhense, A.A.Marques de Pombal, E.C. Lusitano , A.A.Cinco de Outubro e Lusíadas F.C. e em 14 de agosto de 1920 estava definitivamente criada um dos maiores clubes brasileiros, a Associação Portuguesa de Desportos.

O início do clube foi difícil, com passos pequenos, pois para disputar seu primeiro campeonato paulista, a Lusa teve que fazer uma fusão com a Associação Atlética do Mackenzie College, um dos primeiros clubes de futebol no Brasil torneiro e estavaem decadência. Aequipe conhecida como Mackenzie-Portuguesa durou até 1923, quando a rubro- verde decidiu seguir sozinha sua caminhada.  Durante esse período a Lusa teve diversas sedes, como o terceiro andar do prédio da Câmara Portuguesa de Comércio, na rua São Bento, 29B e o campo de futebol na rua Domingos Paiva, no bairro do Brás.

Após a batalha pela casa, o clube consegue adquirir as instalações da União Artística e Recreativa do Cambuci, onde inaugura em Janeiro de 1925, o famoso estádio da Rua Cesário Ramalho, testemunha dos primeiros grandes jogadores do clube, como o fenômeno Filó, primeiro brasileiro campeão mundial de futebol, pela Itália em 1932, ou o grande esquadrão de futebol que o clube teve em 1933, que tinha nas suas fileiras o grande Brandão, que depois foi ídolo no Corinthians.

O primeiro título do clube viria em 1935, contra o Ypiranga, no campeonato da Associação Paulista de Sports Athleticos.  Na época o futebol paulista era dividido em duas entidades, a LPF- Liga Paulista do Futebol, iniciada por Corinthians e Palestra e a velha APEA que continuava a contar com Portuguesa, Ypiranga e outros times de menor expressão. O bicampeonato do paulistão viria novamente sobre o Ypiranga, em uma final que a Lusa aplicou um chocolate de 6 x 1.

A busca pela casa própria seguiria na década seguinte quando a associação lança  um projeto para construção do seu futuro estádio e sede social em um terreno na avenida Tereza Cristina, no bairro do Ipiranga. Porém o sonho não foi adiante, pois o clube não dotava de valores para tal empreitada. Após isto, transfere-se para o Largo de São Bento, mandava seus jogos no Estádio do Pacaembu e treinava onde se localiza hoje o Parque do Ibirapuera ou no Campo da Light da Avenida do Estado.

Mesmo com condições precárias o clube passou nesta época pela sua fase mais célebre. Foi na década de 1950 que a Lusa foi bicampeã do torneio Rio São Paulo (1952-1955), torneio que na época era considerado o maior do país e conquistou por três vezes o título de fita-azul do futebol brasileiro (1951-1953-1954), conquista que era adquirida por um clube brasileiro que voltasse de uma excursão ao estrangeiro com mais de dez jogos invictos e dada pelo jornal A Gazeta Esportiva. Vale lembrar que a este time que contava entre outros com Djalma Santos, Julinho e Pinga foi base da seleção paulista e também alicerce da renovação da seleção brasileira.

Após a conquista de grandes títulos a Lusa voltava-se para conquistar seu antigo sonho de ter a casa própria, um local onde seus apaixonados pudessem se reunir e torcer pelo time do coração.

O clube que tinha sua sede no velho largo de São Bento e treinava no campo da Light, na avenida do Estado ou onde hoje fica o Parque do Ibirapuera vinha a certo tempo procurando um lugar para fixar-se. Após alguns contatos iniciais a diretoria lusitana acerta com Wadi Saddi, proprietário de um grande terreno no bairro do Canindé, a compra da sede atual. O local foi inicialmente sede de um clube da colônia alemã, mas devido ao advento da 2ª guerra mundial, as instalações foram repassadas para o São Paulo F. C. que construiu uma sede e um campo no local.

A partir da ocupação do Canindé pela Portuguesa diversas melhorias foram feitas. Construiu-se diversas arquibancadas de madeiras para o campo oficial, o que rendeu o famoso apelido de “Ilha da Madeira”, estádio inaugurado em 11 de novembro de  1956, em um combinado Palmeiras/ São Paulo x Portuguesa. O estádio permaneceu no local até 1959 quando a diretoria do clube decidiu por em prática o plano de construção da sede social e do estádio de futebol.

A partir daí garra, luta, sagacidade e emoção marcavam a comunidade portuguesa na construção da primeira etapa do estádio, desta vez de concreto. Os pregos que eram usados na construção e que caiam ou ficavam retorcidos eram recolhidos pelos associados, consertados e no dia seguinte utilizados novamente na construção. O presidente da Lusa na época, o Dr. Oswaldo Teixeira Duarte, praticamente um visionário, não descansava enquanto não via o sonho se tornar realidade. Justo ele, que quando criança ficava junto com a mãe em um cesto nas Festas Joaninas que eram celebras no Campo da Cesário Ramalho no Cambuci e que ainda menino tinha prometido a si mesmo que não descansaria em ver o clube do coração com sua casa.

Em 09 de Janeiro de 1972, com um jogo de Portuguesa x Benfica é inaugurada a nova casa, que mais tarde seria ampliada e iluminada. O time luso, que na década de 1960 e início de 1970 freqüentava altos e baixos nas tabelas dos campeonatos que disputava, voltava a sagrar-se campeão paulista, em 1973, junto com o Santos de Pelé, após um erro de contagem de pênaltis do famoso juiz Armando Marques.

O público da partida, de mais de 100 mil pessoas é um dos maiores que até hoje o estádio do Morumbi recebeu. Em1975, aLusa voltaria novamente a uma final de campeonato, mas esbarra no São Paulo, fato que se repetiria em 1985.

Foi ainda na década de 1970, que começaram as obras de ampliação do Estádio do Canindé, onde parcialmente foi erguido o terceiro anel do estádio e as torres de refletores de iluminação, capacitando o estádio para jogos noturnos. Nesta mesma época, o clube vivia uma fase febril em seu campo associativo, chegando a contar com cerca de 100 mil sócios em seu quadro social.

Na década de1990, aLusa consegue aquilo que talvez seja o ponto máximo da sua história, sagra-se vice-campeã brasileira de futebol no ano de 1996 em uma campanha que superou-se pela garra dos seus jogadores.

Recentemente, o clube passou por mais um período de glória, sagrando-se campeão brasileiro da Série B no ano passado, resgatando o orgulho do torcedor lusitano que tem no seu coração a alegria de fazer parte de uma das maiores equipes de futebol do Brasil, seja por sua história, cheia de vitórias e certezas, seja por sua força e tradição, pois com certeza, para nós, a Portuguesa será sempre um time campeão!

 

Por Everton Calício

Securitário, pesquisador, memorialista, historiador e estudante de jornalismo. Participa do Museu Histórico Dr. Eduardo de Campos Rosmaninho da Associação Portuguesa de Desportos.

1 comentário em “Portuguesa: 92 anos de história”

  1. Quero parabenizar o articulista pelo artigo.
    Texto interessante que conta a caminhada de nosso querido clube.
    Isto, aliás, faz ressaltar a necessidade de lembrarmos que a Associação Portuguesa de Desportos precisa ter mais elementos publicados. Especialmente uma obra bem realizada referente a sua trajetória.
    Um livro atento, de pesquisa, que conte sua formação e desenvolvimento. Com as memórias de seus construtores, suas lutas e glórias.
    A comunidade precisa se movimentar nesse sentido e trazer a público um trabalho assim.
    Documentar é preservar, é estimular uma identidade.
    Certamente será um item a ser exibido em uma boa biblioteca por todos que gostam de esporte
    Prof. José Amaral

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