Da Redação
Com Lusa
O curador português João Fernandes é, a partir desta semana, o novo diretor artístico do Instituto Moreira Salles, no Brasil, de acordo com a instituição, que “considera um privilégio tê-lo como sucessor [do professor italiano] Lorenzo Mammì”.
“Fernandes projetou-se no cenário internacional das artes como curador (entre 1996 e 2002) e diretor (de 2003 a 2012) do Museu de Serralves, na cidade do Porto, contribuindo decisivamente para transformar o magnífico espaço cultural do norte de Portugal num marcante endereço de arte contemporânea da Europa”, escreveu o instituto brasileiro, no anúncio do novo diretor, publicado no seu sítio, na Internet.
O Instituto Moreira Salles (IMS) recordou igualmente os sete anos de trabalho de João Fernandes como subdiretor do Museu Rainha Sofia, de Madrid, em Espanha, desde 2012 – um museu que privilegiou “uma arte mais criativa e insinuante”, sem ceder “à tentação de realizar grandes exposições ‘blockbusters'” -, e enumerou ainda algumas exposições promovidas pelo curador, como as retrospetivas dedicadas aos artistas Dara Birnbaum, Douglas Gordon, Grazia Toderi, Tacita Dean e Paula Rego, e aos brasileiros Antonio Manuel, Cildo Meireles e Lygia Pape.
Em declarações à Lusa, quando do anúncio do seu novo posto, no passado mês de maio, João Fernandes disse encarar a nova função como “um desafio fascinante”, destacando que, no IMS, está representado “muito do melhor que se fez e faz” em língua portuguesa.
João Fernandes disse então que o Brasil é “um país com formas extraordinárias de relação entre as culturas popular e erudita”, uma dimensão particularmente importante neste momento da sociedade brasileira, “um país muito polarizado”.
“É um lugar onde devo estar”, afirmou na altura João Fernandes, salientando que, no Brasil, é um desafio especial “tornar as coisas acessíveis a pessoas que muitas vezes não têm ideia do seu direito a conhecer a arte do tempo em que vivem”.
O fato de pessoas diferentes “nunca pensarem nem sentirem a arte da mesma maneira” é um dos pontos de partida para o trabalho que João Fernandes assume agora no instituto, cujos acervos e atividade destacou em áreas como a fotografia, o cinema ou a iconografia brasileira.
O novo diretor artístico da instituição com centros em São Paulo, Rio de Janeiro e Poços de Caldas, no Estado de Minas Gerais, considera natural que o conhecimento artístico que tem de Portugal “terá as suas consequências” no trabalho que vai fazer, mas não vê o cargo estritamente como uma missão de diplomacia.
João Fernandes reconhece que há desconhecimento mútuo entre Portugal e Brasil no campo artístico, destacando que “a literatura brasileira é pouco conhecida em Portugal” e que “a arte portuguesa ainda tem muito para se dar a conhecer”.
Salientando a qualidade das equipas do IMS, João Fernandes referiu ainda que, no novo ciclo, se procurará “levar ao mundo” a atividade e o acervo da instituição.
João Fernandes tomou posse como subdiretor do Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia em 2012, depois de nove anos como diretor do Museu de Serralves.
Antes de assumir o cargo de subdiretor do museu espanhol, João Fernandes já tinha colaborado em várias ocasiões com esta instituição, tendo, em 2001, comissariado, juntamente com o diretor do museu, Manuel Borja-Villel, e com François Piron, a exposição “Locus Solus. Impresiones de Raymond Roussel”.
Nascido em 1964, em Bragança, João Fernandes licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tendo, entre 1992 e 1996, organizado, como comissário independente, diversas exposições em Portugal, Espanha e França.
Também foi comissário das representações portuguesas na 1.ª Bienal de Arte de Joanesburgo, em 1995, na 24.ª Bienal de Arte de São Paulo, em 1998, e da 50.ª Bienal de Veneza, juntamente com Vicente Todolí (a quem sucedeu no cargo de diretor do Museu de Serralves).
Em 2018, a Art Review incluiu João Fernandes entre as cem pessoas “mais influentes”, na área da arte, a nível mundial, destacando em particular a exposição “Fernando Pessoa: Toda a arte é uma forma de literatura”, patente na instituição espanhola no primeiro semestre do ano passado, comissariada por Fernandes com a historiadora Ana Ara.
O IMS é uma organização sem fins lucrativos fundada pelo diplomata e banqueiro Walther Moreira Salles. A sua história remonta a 1987, com a criação do Instituto de Artes Moreira Salles, e tem continuidade em 1990 com a Casa de Cultura Poços de Caldas, em Minas Gerais, onde nasceu o IMS, em 1992. Sucederam-se a instalação em São Paulo, em 1996, e em Belo Horizonte, em 1997, antes da abertura no Rio de Janeiro, em 1999.
O instituto tem por objetivo a promoção, a formação e a conservação de acervos, a par do desenvolvimento de programas culturais em particular nas áreas de fotografia, iconografia, artes plásticas, literatura, música e cinema.
De acordo com o seu ‘site’, reúne os “mais importantes testemunhos” de fotografia no Brasil, desde as origens, no século XIX, até à atualidade.
Possui igualmente acervos dos Diários Associados no Rio de Janeiro, um arquivo sonoro que remonta aos “primórdios das gravações” da música brasileira e arquivos pessoais de autores como Otto Lara Resende, Erico Veríssimo, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Rachel de Queiroz, Lygia Fagundes Telles e Paulo Mendes Campos.
“Memória está em quase tudo o que o IMS faz”, lê-se no ‘site’ da instituição. “Ser guardião do passado é missão das mais nobres. De um passado que não fique estagnado, mas que seja também fundamental para entender o presente e enfrentar o futuro”.