Da Redação
Com Lusa
A vida de Luís Simões vai caber, nos próximos cinco anos, em duas mochilas e numa pilha de blocos para desenho, a sua única bagagem na viagem que acaba de iniciar e durante a qual quer desenhar os quatro cantos do mundo.
Porque “a vida é boa demais para estar sempre no mesmo sítio”, Luís Simões, de 32 anos, deixou tudo o que tinha em Lisboa – um emprego numa empresa de comunicação social, o surf, os amigos, as coisas que vendeu – para realizar um sonho nos próximos cinco anos: desenhar os cinco continentes do mundo, num projeto que denominou “World Sketching Tour”.
“Depois de uma temporada a trabalhar em Nova Iorque, quando voltei a Portugal as coisas ficaram muito iguais e a minha vontade de não querer ficar outra vez estagnado deu aqui um impulso qualquer e fez-me querer mudar daquilo que fazia”, disse quando questionado sobre o “clique” que o fez alterar o rumo da sua vida.
Cabeça feita e projeto delineado, chegou à altura de falar com os pais: “disseram que eu era maluco, que estava completamente errado, que não aprovavam nada a ideia, que não queriam de todo pactuar com isto e que para eu pensar bem no que estava a fazer”.
Mas o tempo passou e a ideia se moldou de tal forma que os pais, ambos aposentados, decidiram se juntar à aventura de Luís e arrancar com ele pela primeira fase no velho continente europeu.
“Eles acabaram por se juntar à montanha, subiram-na e neste momento estamos juntos, lá em cima, e vamos fazer esta primeira parte. Este primeiro ano será uma espécie de encontros e desencontros, em que eu vou estando com eles quando for possível”, relatou.
Com um plafond de 50 mil euros para o projeto – espera não o gastar todo porque prevê encontrar outros meios de subsistência e se garante disposto a fazer tudo, “desde pizzas a vender desenhos” – o designer optou por manter a Europa no roteiro, apesar de ser um continente caro, porque “há muitos urban sketchers” com quem quer “aprender depressa algumas técnicas e outras formações”.
Habituado a lidar com folhas, canetas e aquarelas, as saudades são ainda um elemento que ainda não sabe muito bem como vai arrumar na mochila, elegendo as novas tecnologias como um aliado fundamental para não entrar na espiral da saudade.
Luís Simões ajuda a compreender o que é um “urban sketcher”: “é uma pessoa que anda pela rua, vagueia e passeia por ruas se calhar mais escondidas, observa e captura histórias através do desenho, encontra outros motivos para além do que andar com uma máquina fotográfica, por exemplo, e andar a fotografar só os ex-líbris das cidades”.
“Basicamente anda com um livrinho, um sketchbook pequeno, umas canetas, umas aquarelas e vive um bocado assim, esse espírito de ir andando, desenhando, um bocado sem pressa, exatamente como também o projeto é, de cinco anos”, acrescenta.
Na pilha de folhas brancas que leva consigo há uma palavra que o designer não quer ver escrita nem desenhada nos próximos cinco anos: desistir.