Da Redação
Com Lusa
O ministro da Agricultura português afirmou, em visita oficial a Luanda, que Portugal e Angola querem criar uma câmara agrícola luso-angolana para fomentar o contato entre empresários do setor dos dois países.
Luís Capoulas Santos falava à Lusa à margem de um encontro do primeiro-ministro António Costa, que cumpre dois dias de uma visita de trabalho a Angola, e esteve com empresários portugueses numa unidade hoteleira de Luanda.
“No plano empresarial, é óbvio que não são os governos que tutelam, e daí o nosso objetivo de criar uma câmara de agricultura luso-angolana para que haja um contacto permanente entre os empresários dos dois países”, afirmou Capoulas Santos, uma vez que Angola quer atrair empresários portugueses para o setor.
Segundo o governante português, não basta vontade política, bons programas e disponibilidade de meios financeiros, pelo que tem de haver uma capacidade de gestão. “Mas tem de ser uma gestão profissional das empresas e dos projetos e esse é um problema com que Angola se confronta. Daí que a capacitação e a formação é uma questão fundamental e a presença de técnicos e empresários portugueses é fundamental para garantir o sucesso dos projetos”, sublinhou.
Para Capoulas Santos, quando se consegue juntar os fatores recursos naturais, bom clima, solo fértil, água em abundância, investimento e capacidade de gestão “estão as condições reunidas para que as empresas tenham sucesso”. “Mas há ainda o problema das infraestruturas, pois há muitos bons locais para produzir em que não há eletricidade, nem acessibilidades, mas essa é uma outra questão, que já transcende o acordo agrícola”, frisou.
No plano institucional, indicou que Portugal vai administrar um fundo de 60 milhões de euros disponibilizados pela União Europeia (UEE), em que 48 milhões são especificamente dirigidos a projetos agrícolas.
“Temos um conjunto de ações e, felizmente, desta vez, algo extremamente muito importante, que é um instrumento financeiro. Angola negociou e procurou um acordo com a União Europeia que irá financiar a agricultura angolana para combater a fome e a subnutrição nalgumas províncias mais afetadas pelas alterações climáticas para garantir o aumento do auto aprovisionamento alimentar”, lembrou. “Temos neste momento circunstâncias muito favoráveis, uma vez que existe vontade política e instrumentos financeiros que queremos agora traduzir em ações concretas em vários aspetos, em que destacaria as questões sanitárias e fitossanitárias”, realçou.
Para Capoulas Santos, um país com as condições climáticas de Angola, existem problemas “enormes” de sanidade animal e vegetal que impedem, por exemplo, o país de exportar, além da salubridade que é necessário garantir aos consumidores angolanos e para aumentar a competitividade e produtividade das explorações. “Dentro de duas semanas, estarão em Angola técnicos do nosso Instituto de Investigação Agrária para iniciar a colaboração concreta com um programa que tem três fases: uma de confirmação das prioridades, outra de discussão com os destinatários e uma terceira de execução física desses projetos”, destacou.
O ministro português lembrou que os efeitos da crise angolana e das relações “irritantes” entre os dois países “não foram muito visíveis” no setor agrícola, uma vez que as duas partes mantiveram sempre a cooperação.
“Mantivemos sempre a cooperação. Eu próprio vim aqui a Angola, o ministro da Agricultura [angolano] foi duas ou três vezes a Portugal, assinamos acordos de cooperação e estamos agora numa fase mais adiantada, o que permite passarmos à fase da concretização”, explicou.
O que vai ser assinado em Luanda, prosseguiu, já não é um protocolo de colaboração, porque existe há quase um ano, mas o plano de ação que dele decorre, para que se possa traduzir em ações calendarizadas e quantificadas a cooperação prática nos planos institucional e empresarial.
FMI aprendeu com Portugal
Nesta terça-feira, o primeiro-ministro português defendeu que o Fundo Monetário Internacional (FMI) que assinou um programa de resgate com Portugal “já não é o de hoje”, pois “aprendeu” com o exemplo português “que há coisas que não devem ser feitas”.
“Angola não é Portugal e é natural que os programas sejam distintos, assim como também o FMI que assinou um acordo com Portugal já não é o FMI que é hoje, porque também aprendeu seguramente com o programa português que há coisas que não devem ser feitas”, afirmou António Costa.
Desta forma, o primeiro-ministro português concluiu uma resposta do Presidente angolano, João Lourenço, que fora interpelado pelos jornalistas sobre se as negociações em curso com o FMI constituem ou não um programa de resgate econômico de Angola.
A questão foi destinada a esclarecer as palavras ditas por João Lourenço durante a visita oficial que efetuou em agosto último à Alemanha, em que afirmou que o pedido de assistência financeira feito por Luanda ao FMI não era igual ao de Portugal. Angola vai discutir com o FMI um programa de financiamento ampliado no valor de 4,5 mil milhões de dólares (3,91 mil milhões de euros), no quadro da assistência financeira solicitada pelo Executivo.