Portugal pode se tornar autossuficiente no transplante de córneas

Da Redação
Com Lusa

Portugal pode tornar-se autossuficiente no transplante de córneas em 2018, disse à agência Lusa a presidente do Congresso da Associação Europeia de Bancos de Olhos, que decorre de quinta-feira a sábado, em Coimbra.

Segundo a oftalmologista Maria João Quadrado, ainda este ano vai avançar a criação de uma sala de cultura de córneas no Instituto Português do Sangue e Transplantação, que vai permitir “armazenar células durante mais tempo e de certa forma ajudar a programar as intervenções cirúrgicas”.

“Estou em crer que ao avançarmos para a sala de culturas vai diminuir substancialmente o número de córneas que importamos do estrangeiro e acho que isso é importante”, disse a médica, que é também responsável pelo Banco de Olhos do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, que participa ativamente no projeto de criação da sala de culturas.

Portugal realiza anualmente cerca de 900 transplantes de córneas e, apesar do grande avanço em termos de transplantação, em 2017 foram importadas 270 córneas, “o que em termos económicos é substancial”.

Com a criação de uma sala de cultura de córneas, que “em breve estará em funcionamento”, Portugal tem a capacidade de ser autossuficiente, de forma a suprir as necessidades de transplantes a nível nacional e, eventualmente, ceder tecidos para o exterior.

“É uma sala altamente especializada, com requisitos bastante apertados, que ainda não existe em Portugal. É uma mais-valia em termos nacionais que nos coloca ao lado do que melhor se faz a nível mundial em termos de transplantação córnea”, salientou Maria João Quadrado.

Frisando que Portugal não está atrasado “de maneira nenhuma” em relação à Europa e ao resto do mundo, a presidente da XXX Reunião Anual da Associação Europeia de Bancos de Olhos explicou que as córneas de cultura permitem um armazenamento “durante mais tempo de maneira a se programar de uma forma mais adequada a cirurgia do doente”.

Atualmente, as córneas que estão a ser utilizadas em Portugal são exclusivamente refrigeradas e “têm um tempo curto para serem utilizadas, o que não quer dizer que sejam piores”.

Por outro lado, a especialista Maria João Quadrado adianta que a criação da sala de córneas é mais um passo para “melhorar o que de bom se faz no país”, que vai também permitir aplicar as últimas técnicas de transplantação corneana de forma “mais rotineira”.

A Associação Europeia de Bancos de Olhos abrange 84 bancos de olhos que define critérios de qualidade em tecidos corneanos, “tendo Coimbra e Portugal o privilégio de receber esta reunião, o que também demonstra a importância portuguesa no quadro dos bancos de olhos a nível europeu”.

A trigésima reunião anual leva a Coimbra cerca de 250 especialistas provenientes de 25 países, desde os Estados Unidos à Austrália, países com uma “excecional” rede de bancos de olhos, passando pelo Bangladesh, China e Paquistão, onde se localiza a maior “incidência de cegueira corneana mundial”.

O congresso vai discutir a relação entre os cirurgiões e os Bancos de Olhos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *