Portugal em “total sintonia” com Guterres “realista e determinado” – Presidente

Arquivo: Presidente português nos Estados Unidos. Foto Lusa

Mundo Lusíada com Lusa

O Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou neste domingo a “total sintonia” de Portugal com as prioridades e objetivos de António Guterres à frente da ONU, que disse ter encontrado “realista e determinado”.

O chefe de Estado falava aos jornalistas no final de um encontro com o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova Iorque.

“Total sintonia, isto é, concordância entre os apelos, as prioridades, os objetivos do secretário-geral e a posição portuguesa. Em tudo. Do clima à situação vivida no mundo em termos de segurança, passando pelas migrações, continuando nos riscos que há em termos de regulação ou disciplina e de diálogo no comércio, no digital, à escala global”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

Tendo ao seu lado o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, o Presidente da República disse ter encontrado António Guterres “simultaneamente realista e determinado”.

Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que a “total concordância” de posições se verifica também quanto à “importância da conferência dos oceanos a realizar no ano que vem em Lisboa, que tem tudo a ver com as alterações climáticas”.

Segundo o chefe de Estado, o secretário-geral da ONU “está a ver a situação, está a ver o que a pandemia significou e significa ainda e as exigências que coloca para o futuro, está a ver aquilo que é preciso fazer de recuperação econômica e social”.

“Está a ver o que é preciso fazer ainda em termos de alterações climáticas para conseguir uma convergência entre os vários mundos do mundo que todos formamos. Está muito consciente da situação”, prosseguiu.

De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, Guterres está ao mesmo tempo “muito determinado a explicar por que é que as Nações Unidas são fundamentais, outras organizações universais são fundamentais, e como aquilo que defendeu desde o momento em que entrou nesta casa tem mais razão de ser agora, ainda mais, porque aquilo que se passou ainda recentemente só dá razão de ser àquilo que ele vinha dizendo há muito tempo”.

“Isso enche-nos de orgulho”, declarou.

O Presidente da República chegou no sábado aos Estados Unidos da América, onde ficará até quarta-feira, para participar na 76.ª sessão da Assembleia Geral da ONU, onde irá intervir na terça-feira, primeiro dia do debate geral entre chefes de Estado e de Governo dos 193 Estados-membros da organização, a que Portugal aderiu em 1955.

Sobre o seu discurso, o chefe de Estado adiantou no sábado que irá “saudar muito especialmente o secretário-geral reeleito por aclamação” e que irá “apoiar as prioridades dele para os próximos cinco anos”.

Há três meses, quando António Guterres prestou juramento para um segundo mandato de cinco anos como secretário-geral da ONU, em 18 de junho, Marcelo Rebelo de Sousa esteve presente e falou perante a Assembleia Geral elogiando a ação do antigo primeiro-ministro português à frente desta organização e o seu empenho no multilateralismo.

O segundo mandato de António Guterres como secretário-geral da ONU decorrerá do início de 2022 até ao fim de 2026.

Desde que Guterres iniciou o seu mandato à frente da ONU, em 01 de janeiro de 2017, Marcelo Rebelo de Sousa reiterou sucessivas vezes o apoio de Portugal à sua agenda de defesa do multilateralismo, do diálogo e do combate às alterações climáticas – em divergência com as posições do anterior Presidente norte-americano, Donald Trump, que iniciou funções na mesma altura, janeiro de 2017.

Em dezembro de 2020, o Presidente português anteviu “um horizonte de regresso ao multilateralismo” e um “novo tempo” para a ONU liderada por António Guterres, depois de “tempo perdido nos anos recentes”.

Nessa altura, Donald Trump tinha sido derrotado há cerca de um mês, por Joe Biden, atual Presidente dos Estados Unidos da América, nas eleições presidenciais norte-americanas.

11 Setembro

O Presidente homenageou no domingo as vítimas do 11 de Setembro e encontrou-se com portugueses que participaram nas operações de socorro e de reconstrução e com uma sobrevivente portuguesa, em Nova Iorque.

“Não podemos esquecer”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, logo à chegada ao memorial construído no lugar onde se situavam as Torres Gémeas, que visitou juntamente com o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

À sua espera estavam Jimmy Paulo, na ocasião paramédico e estudante de medicina, agora médico, que trouxe os dois filhos, David Simões, bombeiro, Manny Oliveira, presidente de uma organização de bombeiros voluntários de Newark, que o chefe de Estado abraçou um por um, e Elizabeth Alves, que sobreviveu aos atentados de há vinte anos.

De mão dada com Elizabeth, que também veio com o filho, o Presidente da República agradeceu a presença de todos: “Muito obrigado por terem vindo. É uma homenagem que tem de ser feita. Foi feita há dez anos pelo Presidente português [Cavaco Silva]. É feita aos vinte anos”.

Na altura dos atentados terroristas de 2001, que no total mataram quase três mil pessoas, Elizabeth Alves tinha 27 anos e trabalhava no escritório de um restaurante no World Trade Center. Salvou-se porque na manhã de 11 de Setembro decidiu esperar pela carruagem de metro seguinte e à saída, pelas 8:50, deparou-se com a torre norte já em chamas, contou à agência Lusa.

Jimmy Paulo estudava medicina e juntou-se às operações de socorro como paramédico, na organização de bombeiros voluntários presidida por Manny Oliveira. “Naquelas primeiras dez noites estivemos sempre a tentar procurar pessoas vivas e não se conseguiu encontrar ninguém, infelizmente”, recordou, emocionado por regressar a este lugar.

“É um grande trauma. Mesmo hoje de manhã, a sair do metro, eu chego aqui e isto é uma zona sagrada, que nos traz sempre aquela memória e a tristeza de saber o que aconteceu aqui”, disse à Lusa.

Dirigindo-se a este grupo de portugueses emigrantes e alguns já nascidos nos Estados Unidos da América, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou o 11 de Setembro de 2001 como “um momento terrível para a humanidade e para os defensores da liberdade e da democracia e da justiça, que não podem tolerar terrorismos, que ceifaram tantas vidas humanas”.

“Não podemos esquecer, e o vosso papel foi histórico. Ainda bem que trazem os filhos, que devem conhecer a história, para poderem contar aos netos aquilo que viveram os pais há vinte anos. Muito, muito, muito obrigado”, acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa convidou-os a acompanharem-no, “para ser uma homenagem conjunta de Portugal”, no percurso pelo memorial, onde parou junto dos nomes das nove vítimas portuguesas dos atentados de 11 de Setembro gravados em placas de bronze em redor dos dois espelhos de água que agora ocupam os lugares das duas torres.

Os nomes de António José Rodrigues, Manuel João da Mota, António A. Rocha, João Alberto da Fonseca Aguiar Jr., Carlos S. da Costa, Mark Steven Jardim, Christopher D. Mello, Raymond James Rocha e Dennis James Gomes estavam assinalados com pequenas bandeiras de Portugal.

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