Portugal e UE continuam focados na retirada de europeus e apoio humanitário ao Afeganistão

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, à chegada para a audição na Comissão de Assuntos Europeus na Assembleia da República, Lisboa, 17 de novembro de 2020. MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Da redação com Lusa

A União Europeia (UE) e Portugal continuam “focados” nas operações de retirada de cidadãos europeus do Afeganistão e no apoio humanitário à população local, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros português.

Augusto Santos Silva disse à agência Lusa que a reunião informal de ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, realizada na noite de segunda-feira em Nova Iorque, serviu para um “ponto da situação” sobre a evacuação em curso no Afeganistão e a ajuda humanitária internacional necessária.

“Continuamos focados na operação de evacuação dos cidadãos nacionais europeus que ainda se encontram no Afeganistão e no apoio aos cidadãos afegãos que estão em especial situação de vulnerabilidade e precisam de proteção humanitária internacional”, declarou o ministro.

No encontro informal não foi detalhado o número de cidadãos naturais da Europa que estão no Afeganistão e que precisam de ser retirados, mas segundo o ministro português, “nas últimas avaliações que se fizeram, havia para cima de 1.500 cidadãos nacionais europeus (…) e também para cima de 1.500 cidadãos afegãos que haviam trabalhado com as forças internacionais e as instituições europeias”.

Santos Silva disse que “pode ter havido alguns desenvolvimentos desde essa avaliação, mas nenhuma destas duas operações pode ser dada como completa”.

O chefe da diplomacia portuguesa acrescentou que Portugal tem estado a contribuir de forma consistente no “esforço europeu para a proteção humanitária” e sublinhou que já não se encontram portugueses no Afeganistão, depois de terem sido repatriados 20 cidadãos.

“No domingo passado chegaram mais 80 afegãos em particular mulheres e suas famílias ao abrigo dessa estratégia portuguesa de apoio a cidadãos afegãos”, acrescentou Santos Silva nas declarações à Lusa.

O Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, declarou, em conferência de imprensa em Nova Iorque, após a reunião informal, que a comunidade europeia atribui uma grande importância ao envolvimento e cooperação com parceiros regionais e vizinhos do Afeganistão, através de plataformas regionais e internacionais.

Os motivos de preocupação da UE quanto ao Afeganistão prendem-se com ameaças terroristas, tráfico de drogas e outras atividades criminosas que terão “consequências muito sérias” para a região, segundo Josep Borrell.

Reconhecimento

Nesta terça-feira, os ministros da UE decidiram manter uma “presença mínima” em Cabul, dependente da situação de segurança, para facilitar a mobilização de ajuda humanitária, mas rejeitaram conferir “qualquer legitimidade” ao novo governo afegão liderado pelos talibã.

Numa reunião presencial hoje realizada em Bruxelas, os ministros dos Assuntos Europeus da União aprovaram “conclusões sobre o Afeganistão em que sublinham o empenho da UE na paz e estabilidade no país e no apoio ao povo afegão”, informa o Conselho em comunicado.

Em concreto, ficou assente que “o envolvimento operacional da UE e dos seus Estados-membros será cuidadosamente calibrado em função da política e ações do gabinete de gestão nomeado pelos talibã, não lhe conferirá qualquer legitimidade e será avaliado em relação aos cinco pontos de referência”, de acordo com a nota.

“Neste contexto, os direitos das mulheres e raparigas são motivo de especial preocupação”, acrescenta a estrutura que reúne os países da UE.

Os ministros decidiram, também, manter “uma presença mínima da UE no terreno em Cabul, dependente da situação de segurança”, para assim facilitar “a entrega de ajuda humanitária e o acompanhamento da situação humanitária”, bem como para “coordenar e apoiar a partida segura e ordenada de todos os estrangeiros e afegãos que desejem deixar o país”.

“A UE reconhece que a situação no Afeganistão é um grande desafio para a comunidade internacional como um todo e salienta a necessidade de uma forte coordenação no envolvimento com parceiros internacionais relevantes, nomeadamente as Nações Unidas”, conclui o Conselho.

Após quase duas décadas de presença de forças militares norte-americanas e da NATO, os talibãs tomaram o poder em Cabul a 15 de agosto, culminando uma rápida ofensiva que os levou a controlar as capitais de 33 das 34 províncias afegãs em apenas 10 dias.

Desde então, os combatentes islamitas radicais asseguraram em várias ocasiões a intenção de formar um Governo islâmico “inclusivo”, que representasse todas as tribos e etnias do Afeganistão, mas em 07 de setembro anunciaram um governo totalmente masculino, só com ministros talibãs, incluindo veteranos da sua linha dura, que governou o país entre 1996 e 2001, e da luta de 20 anos contra a coligação internacional liderada pelos Estados Unidos.

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