Da Redação
Com Lusa
Portugal e China vão avançar com um grupo de trabalho para desenvolver uma cooperação na área da energia e mobilidade sustentável, segundo o ministro português da Ciência, Manuel Heitor.
A ideia passa por interligar dois projetos: o Centro Internacional de Investigação para o Atlântico, que Portugal quer ver rapidamente implementado e em funcionamento nos Açores, com uma ação também orientada para o estudo das alterações climáticas, e uma “nova rota da seda verde”, um projeto apresentado pela China no decurso de um simpósio das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, EUA, dedicado a questões energéticas e à sua importância para atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável até 2030.
“Penso que Portugal pode ter uma nova centralidade nesta relação entre a China e o Atlântico nomeadamente na área dos temas sustentáveis de energia, nos quais temos instituições líderes e uma capacidade científica em Portugal muito relevante à escala global”, disse à Lusa o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, que participou no simpósio a convite da China.
A sua intervenção pretendia, por um lado, “relatar o esforço de investigação de Portugal nomeadamente na área da integração de energias renováveis e da mobilidade elétrica” e, por outro, “passar a mensagem” da “necessidade de desenvolver e implementar nos próximos anos o Centro Internacional de Investigação para o Atlântico, baseado na cooperação norte-sul/sul-norte no Atlântico”.
O grupo de trabalho que vai ser criado vai juntar a elétrica nacional chinesa, China State Grid, a instituições portuguesas de investigação nas áreas das energias renováveis, como o INESC TEC, ou a mobilidade elétrica sustentável, como o CEiiA, ou ainda a REN — Rede Elétrica Nacional.
Sobre o projeto de uma nova rota da seda — uma rota comercial histórica que durante séculos ligou a Ásia ao Mediterrâneo através de vários interpostos comerciais — Heitor disse que o seu principal objetivo na sua nova versão “verde” é o de estabelecer “ligações energéticas que produzam mais energia, mas energia mais verde” que permitam evitar que até 2030 a temperatura do planeta aumente mais de dois graus.
“O que sabemos é que a utilização crescente de energias renováveis exige novo conhecimento, sobretudo na integração dessas energias, porque quando há sol e vento não é necessariamente quando as pessoas estão a usar a energia”, disse Heitor, destacando a necessidade de desenvolver melhores sistemas de armazenamento da energia produzida.
O ministro recordou que em 2016 Portugal foi notícia por bater o recorde mundial de maior número de dias consecutivos a consumir energia produzida exclusivamente com base em fontes renováveis, um fato que também justifica o convite a Portugal para este simpósio.
A sessão de abertura ficou a cargo do secretário-geral da ONU, António Guterres, que na sua intervenção destacou que “a energia é a ligação entre todos os objetivos de desenvolvimento sustentável” e que os sistemas modernos de energia “são essenciais para reduzir a pobreza e garantir segurança alimentar, saúde pública e uma educação de qualidade para todos”.
“Apesar desta evidência, o mundo está ainda longe de atingir o objetivo de desenvolvimento sustentável de energia limpa e acessível para todos”, disse Guterres, lembrando dados como o facto de ainda haver quase mil milhões de pessoas no mundo sem acesso à eletricidade: 500 milhões em África e 400 milhões na região Ásia-Pacífico.
Guterres apelou a uma cooperação global no combate às alterações climáticas e ao desenvolvimento de tecnologias de energia limpa, lembrando a importância do Acordo de Paris para atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável até 2030, e do qual o presidente norte-americano em exercício, Donald Trump, retirou os EUA.
Ainda que a saída dos EUA do Acordo de Paris não tenha sido discutida no simpósio, Manuel Heitor disse não poder haver já qualquer dúvida do impacto das alterações climáticas.
“Os dados e a evidência que os chineses aqui trouxeram levantam suspeitas sobre como é que hoje ainda há alguém que possa dizer que não há uma evidência clara dos efeitos da mudança climática”, disse o ministro, recordando os recentes fogos em Portugal como exemplo.