Portugal e Cabo Verde esperam “boas notícias” na CPLP

Foto: O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa com populares durante as cerimônias comemorativas do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, Mindelo, Cabo Verde, 11 de junho de 2019. ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Da Redação
Com Lusa

O presidente e o primeiro-ministro portugueses declaram que Portugal está ao lado de Cabo Verde na defesa da supressão de vistos no quadro da União Europeia (UE) e da livre circulação de cidadãos na CPLP.

“Estamos juntos”, afirmou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, durante um passeio a pé na cidade cabo-verdiana do Mindelo, na ilha de São Vicente, onde terminam as comemorações do Dia de Portugal. “Estamos totalmente alinhados”, reforçou António Costa.

Por sua vez, o primeiro-ministro de Cabo Verde, país que atualmente tem a presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), manifestou a convicção de que a proposta de mobilidade de cidadãos no espaço lusófono “vai ser realidade em breve”.

“Nós estamos confiantes de que brevemente poderemos ter boas notícias – este ano”, acrescentou Ulisses Correia e Silva, em declarações aos jornalistas junto ao Palácio do Povo, com António Costa ao seu lado.

Marcelo Rebelo de Sousa mencionou que a proposta em cima da mesa na CPLP “prevê várias fases”, permitindo que “quem queira ir mais longe apenas com alguns países, por acordo bilateral, possa ir”.

“Penso que vai ser aprovado na Cimeira da CPLP [de 2020, em Angola]”, disse o chefe de Estado português.

O primeiro-ministro português salientou que estão em causa dois processos, um na CPLP, originalmente proposto por Portugal para que “o reconhecimento da liberdade de residência tornasse desnecessária a existência de vistos” e também houvesse “reconhecimento de competências e de qualificações” e “portabilidade de direitos sociais”.

Segundo António Costa, existe atualmente “uma vontade política muito alargada” na CPLP em relação a esse “acordo de largo espetro de mobilidade”.

“Simultaneamente, há um outro trabalho paralelo, que são as negociações que ao nível da UE têm vindo a ser desenvolvidas por Cabo Verde, com total apoio de Portugal, para a obtenção de um acordo de supressão de vistos – porque relativamente aos vistos de viagem há hoje uma norma europeia: nenhum país da UE já tem liberdade para fixar por si próprio os critérios”, acrescentou.

António Costa referiu que, nesse processo, Cabo Verde “já eliminou unilateralmente os vistos para os cidadãos da UE” e “tem contado com todo o apoio de Portugal nessa pretensão” de supressão de vistos.

“Portanto, aí estamos totalmente alinhados. Foi um dos erros grandes que se cometeu quando nos anos 90 foi negociado o Acordo de Schengen não se ter ressalvado, como alguns países fizeram, as suas relações privilegiadas”, considerou o primeiro-ministro, terminando, contudo, em tom otimista: “Não há mal que não tenha remédio, havemos de ter remédio com certeza”.

Neste percurso pelo centro do Mindelo, em que houve declarações diversas e cruzadas à comunicação social, esteve também o Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, que foi mostrar a Marcelo Rebelo de Sousa a rua onde nasceu.

Os primeiros-ministros e os chefes de Estado dos dois países pararam no Café Lisboa, onde fizeram um brinde com cerveja de Cabo Verde.

Exposição africana

O Presidente anunciou ainda a intenção de Portugal apoiar a exposição de arte africana Akuba, patente no Palácio do Povo, no Mindelo, cidade de Cabo Verde que visitou no âmbito do Dia de Portugal.

Acompanhado do Presidente Jorge Carlos Fonseca, e dos primeiros-ministros de Portugal e de Cabo Verde, Marcelo Rebelo de Sousa chegou ao Palácio do Povo já depois das 13:00, e com mais de uma hora de atraso em relação ao programa.

À sua espera, alguns populares bateram palmas, que os chefes de Estado retribuíram, antes de se dirigirem para o interior do palácio, onde está patente uma exposição composta de peças de várias zonas do continente africano, reunidas mediante a coordenação de Carlos Morbey Silva e Louise Horais, da Galeria Akuaba.

A mostra apresenta várias expressões culturais africanas, como máscaras e esculturas em madeira, elementos arquitetônicos e decorativos, instrumentos musicais, armas e mobiliário.

Visivelmente impressionados com a riqueza da exposição, os chefes de Estado e do Governo dos dois países pararam na sala dos “jogos de guerra e poder”, onde estão patentes “máscaras de guerra”, para falarem com o proprietário da exposição sobre os seus projetos futuros.

Marcelo Rebelo de Sousa quis saber de Carlos Morbey Silva porque não existia um catálogo da exposição e propôs-lhe que digitalizasse a mostra, para assim poder ser admirada por mais pessoas.

O colecionador disse que todo o dinheiro é investido na aquisição de peças, apesar de atualmente apenas uma parte estar exposta.

Tanto o primeiro-ministro português como o de Cabo Verde revelaram interesse na proposta do Presidente português e, mais tarde, em declarações aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou que o Governo português poderá apoiar a digitalização da exposição, assim como a elaboração de um catálogo, para regozijo do colecionador.

Durante a visita, tanto os Presidentes da República como os primeiros-ministros admiraram um uril (jogo tradicional e muito popular em Cabo Verde) em madeira e ricamente ornamentado.

A primeira-dama de Cabo Verde, Lígia Fonseca, não resistiu mesmo a pegar na obra para admirar os pormenores e o chefe do Governo cabo-verdiano identificou prontamente a peça como motivo de diversão popular no país.

No terraço do Palácio do Povo, oferecido pelo chefe do Estado cabo-verdiano ao município do Mindelo, para fins culturais, Lígia Fonseca recordou que o último Presidente português, a pernoitar no palácio, foi Mário Soares.

Marcelo Rebelo de Sousa disse que não se importava de vir a ser o próximo, embora tenha reconhecido que não gostaria de dormir rodeado de uma coleção.

Os visitantes seguiram depois para uma exposição sobre Cesária Évora, com várias peças da rainha da morna, que mereceu a atenção dos Presidentes da República e dos primeiros-ministros de Portugal e de Cabo Verde, bem como dos restantes elementos da comitiva.

No final da visita, Marcelo Rebelo de Sousa classificou a Akuaba como uma “coleção excepcional de arte africana, que tem peças com valor histórico de facto incomensurável”.

“Penso que o Governo português – o senhor primeiro-ministro já mostrou essa disponibilidade – poderá ajudar à digitalização e à catalogação, uma vez que foi uma professora portuguesa que ajudou a arrumar as peças, a organizar as peças. Está de parabéns o colecionador, o Presidente da República que cedeu o espaço e o presidente da câmara [de São Vicente] que tem apoiado”.

Sobre a coleção Cesária Évora, sublinhou a sua importância, afirmando: “Cesária Évora faz parte da nossa memória coletiva e tem peças que não imaginaria reunir de toda uma vida e também de toda uma obra espalhada pelo mundo”.

E referindo-se a Cabo Verde, afirmou que as mostras visitadas são “mais um exemplo da riqueza artística, cultural e, na área da música, do que há de melhor no mundo”.

Marcelo Rebelo de Sousa visitou nesta terça-feira o Mindelo, ilha de São Vicente, depois de na segunda-feira ter convivido com a comunidade portuguesa na cidade da Praia, ilha de Santiago, no âmbito das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, que começaram em Portugal no domingo, em Portalegre.

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