Portugal como pivot da economia internacional

Por Bruno Bobone

A boa notícia é que 2018 foi o ano mais fértil em captação de investimento directo estrangeiro em Portugal desde que, em 2007, foi formada a AICEP, a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal. O país recebeu mais de 1200 milhões de euros de investimento ao longo do ano.

A notícia menos boa é a de que, apesar desse e de outros sinais de retoma da economia portuguesa nos últimos anos, a Comissão Europeia acaba de sublinhar que permanecem “riscos elevados” para a sustentabilidade das finanças públicas em Portugal no médio prazo, devido à elevada dívida pública do país e à dificuldade na sua redução.

Portugal continua a lutar para contrariar níveis de crescimento económico demasiado anémicos, mesmo nos melhores exercícios, incapazes de serem um amortecedor seguro para eventuais choques negativos no crescimento ou para uma subida das taxas de juro, que terão imediato impacto na estabilidade económica e financeira do país.

As valências distintivas
A questão que se coloca é se terá que ser mesmo assim. Será que os “velhos do Restelo” têm razão? Não haverá alternativa para um pequeno país europeu periférico sem petróleo, ouro ou diamantes nos seus recursos naturais? Não terão Portugal e os portugueses valências próprias que lhes permitam mudar de paradigma e afirmar, de uma vez por todas, uma forte competitividade na União Europeia e no Mundo?

É sabido que sim. Os discursos políticos de todos os quadrantes estão repletos de referências elogiosas à nossa histórica capacidade de diálogo e de estabelecer consensos com povos de todas as latitudes, fruto de um percurso corajoso que nos permitiu, segundo o poeta, “dar novos mundos ao Mundo”, naquela que terá sido a grande operação pioneira da globalização.

Por isso mesmo, também não faltam sistemáticas alusões ao nosso privilegiado relacionamento com povos de todos os continentes reunidos na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP, que nos coloca numa posição de excelência para mediarmos e aprofundarmos, com benefícios para todos, as relações políticas e económicas num vasto mercado lusófono, com quase 300 milhões de consumidores, que pode – e deve – estreitar as ligações da Europa com África, mas também com a América e a Ásia.

Uma capacidade de diálogo e de criação de consensos que nos é reconhecida quando portugueses são escolhidos para cargos de grande destaque a nível internacional, como aconteceu recentemente com António Guterres na ONU, António Vitorino na Organização Internacional das Migrações, Mário Centeno no Eurogrupo, Carlos Moedas como comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação ou, antes disso, Durão Barroso na presidência da Comissão Europeia.

A vocação atlântica
Mas, talvez ainda mais importantes, serão o posicionamento geopolítico e a vocação atlântica de Portugal. Somos um País periférico na Europa, mas central no Atlântico. A nossa História comprova que foram a dimensão marítima e a vocação atlântica que nos permitiram ultrapassar a limitação territorial europeia e ganhar escala enquanto potência marítima mundial.

Tornou-se quase uma moda dizer que o futuro de Portugal se joga no Mar. E percebe-se porquê: a Bacia do Atlântico, ainda mais agora com o alargamento do Canal do Panamá, assume-se como o futuro maior centro comercial e energético do nosso Planeta. Por isso Portugal deve ter aqui, graças à sua localização estratégica e à sua gigantesca Zona Económica Exclusiva, um papel determinante a desempenhar.

Bastará dizer que um navio que saia do Canal do Panamá, se navegar em linha recta, entrará directo no Porto de Sines, o que revela bem todo o potencial para esta plataforma portuária e logística se tornar na principal porta marítima de entrada na Europa, com o significado político e económico que tal representa (desde que convenientemente apetrechada para tal em termos de recursos, designadamente humanos – o que parece não acontecer).

O Mar é, pois, um activo insubstituível para a internacionalização da economia portuguesa e para a captação de investimento estrangeiro. Pensemos na variedade de actividades que proporciona, desde a exploração deep offshore de minerais, passando pela alimentação, energia ou biotecnologia, por exemplo, e verificamos que estamos a falar da economia do século XXI, onde os Oceanos terão um papel decisivo.

O tempo urge
Pergunta-se: por que é que Portugal tarda em aproveitar as competências e factores distintivos para reforçar o seu papel no contexto das Nações e se afirmar como um verdadeiro pivot da economia internacional?

A resposta terá certamente a ver com a nossa proverbial dificuldade para planear, para passar das palavras eloquentes aos actos, quiçá assoberbados pela gestão quotidiana de uma crise persistente que nos mantém num modelo de desenvolvimento sem grande futuro, sempre à mercê de qualquer pequeno desequilíbrio internacional.

Mobilizar os portugueses para a exploração das vantagens competitivas do nosso País é um imperativo urgente. É certo que não temos dimensão para assumir um papel de força na economia e comércio internacionais. No entanto, demitirmo-nos de procurar estar na linha da frente dos negócios do futuro só nos tornará mais periféricos, mais irrelevantes e mais dependentes das decisões tomadas por terceiros.

O diagnóstico está feito há muito. Falta-nos elaborar um plano, traçar um caminho consensual para jogar os trunfos que temos. Para criarmos riqueza de forma mais sustentada, saindo desta cepa torta que nos condena a baixos salários, a uma elevada carga fiscal e a serviços públicos sistematicamente descapitalizados. Ontem, já era tarde para começar.

 

Por Bruno Bobone
Presidente da CCIP – Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
Artigo publicado em www.brunobobone.com

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