Da Redação
Com Lusa
Portugal caminharia “para um desastre demográfico a médio prazo” caso se tivessem mantido as taxas de emigração dos últimos anos, de acordo com o coordenador do estudo “Migrações e sustentabilidade demográfica”, João Peixoto.
O estudo, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, foi apresentado publicamente mas as conclusões já eram conhecidas desde a semana passada, nomeadamente as de que Portugal sem entrada de pessoas terá 7,8 milhões de habitantes em 2060 e que para manter a atual população precisa de 47 mil entradas de pessoas por ano.
Mas são indicadores, como salientou o geógrafo Jorge Malheiros, um dos responsáveis também pelo trabalho, explicando que “não são precisas 47 mil pessoas por ano, em média, ao longo de 45 anos”.
A incerteza, do estudo e do futuro, marcou o debate sobre o documento, que decorreu na aula magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, com os participantes a darem, porém, como certo que Portugal está cada vez mais envelhecido e tem cada vez menos habitantes.
“Há duas certezas neste estudo, que vamos continuar a envelhecer e que estamos cada vez mais dependentes das migrações. A imigração representa grande parte do oxigénio que este país precisa para não morrer asfixiado”, disse Maria João Valente Rosa, demógrafa e coordenadora da área da população na Fundação.
E as incertezas relacionam-se com a economia, que vai fazer variar as entradas e saídas de pessoas no país, disse João Peixoto, lembrando que a crise dos últimos anos levou milhares de portugueses a abandonar o país, especialmente depois de 2010.
Há ainda pelo menos outras duas certezas, a esperança de vida vai continuar a aumentar e o índice de fecundidade vai subir “um bocadinho” mas sem compensar a trajetória de perda de população, disse.
No debate sobre o estudo, o antigo comissário europeu António Vitorino salientou que não é a entrada de imigrantes que por si só vai resolver o declínio populacional e que “a fecundidade não pode ser ignorada”. E considerou que a Europa não vai ser tão atrativa como foi no passado (para imigrantes) e que a diminuição da população portuguesa pode ser “atenuada” mas não resolvida.
Ainda assim, como salientou a socióloga Margarida Marques, o estudo tem em comum com outros trabalhos do gênero “a positividade da imigração”.
E apesar de todas as incertezas, dizem os autores, os resultados “apontam para determinado tipo de necessidades e respostas, bem sustentadas do ponto de vista dos pressupostos e da metodologia, que são capazes de contribuir para a definição de estratégias de desenvolvimento e para o estabelecimento de metas para o futuro, no quadro de um melhor desenho das políticas públicas”.
Numa frase, Portugal precisa de pessoas, e sobre isso ninguém discordou no debate.
Brasileiros no Porto
A população estrangeira residente do distrito do Porto quase que chega às 23 mil pessoas e a maioria é constituída por cidadãos brasileiros (7.738), ucranianos (2.317) e chineses (2.149), segundo os dados mais recentes do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
Os últimos dados disponíveis pelo órgão sobre a população estrangeira residente do distrito do Porto são de 2015 e indicam que havia nesse ano no distrito 22.972 mil estrangeiros (12.505 mulheres e 10.467 homens), e, desse total, 774 cidadãos tinham vistos de longa duração.
A maioria era de nacionalidade brasileira (7.738), seguida pela ucraniana (2.317), chinesa (2.149), espanhola (1.069), cabo-verdiana (945), angolana (907), italiana (586), francesa (539), romena (531) e alemã (479).
Além de muitas outras comunidades estrangeiras com números menos expressivos, como a russa (387), em 2015 havia registos estarem fixados no distrito do Porto cidadãos de países tão distintos como Andorra, Antígua e Barbuda, Arábia Saudita, Burkina Faso, Chipre, Comores, Eritreia, Gabão, Guiana, Lesoto, Mali, Mauritânia, Mongólia, Montenegro, Namíbia, Nicarágua, Oman, República Centro-Africana, Suazilândia, Togo, Tonga, Trindade e Tobago.