Da Redação
Com Lusa
O acordo comercial que está sendo negociado com os Estados Unidos pode representar uma ameaça para o vinho do Porto, inundando o mercado de garrafas de “Port” americano, alertou o presidente do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV).
Frederico Falcão reconheceu, em entrevista à agência Lusa, que este tipo de acordos “são vantajosos em tudo o que tenha a ver com a eliminação de barreiras alfandegárias”, mas podem colocar dificuldades ao setor do vinho.
“Aquilo que nos preocupa neste acordo com os Estados Unidos prende-se precisamente com a questão do vinho do Porto”, disse.
Isto porque os Estados Unidos não reconhecem a Denominação de Origem (DO) portuguesa que protege o vinho do Porto e outros produtos originários de uma determinada região, impedindo utilizações abusivas.
“Nos Estados Unidos, a designação “Port” é considerada semi-genérica (…) e isto é preocupante para Portugal. Simultaneamente, alguns dos nossos designativos de qualidade como “Vintage” ou “Tawny” não são reconhecidos como protegidos”, adiantou o presidente do IVV, mostrando preocupação com a entrada de vinhos norte-americanos rotulados como “Port Vintage” ou “Port Tawny” no mercado europeu.
A União Europeia e os Estados Unidos negociam, desde julho passado, a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (mais conhecida pela sigla inglesa TTIP), que pretende abolir barreiras alfandegárias e regulatórias e facilitar a compra de bens e serviços em ambos os mercados.
Para Frederico Falcão “é difícil prever o que vai acontecer”. “Há muito ‘lobby’ de muitas associações. Isto envolve vários produtos, não é apenas o vinho, há muitas pressões de todo o lado”, indicou.
Se esta barreira comercial for aberta, “as coisas ficarão complicadas”, porque “pode ser difícil” para alguns consumidores distinguir um “Port” de um Porto.
“Seria muito difícil, teria de se investir muito dinheiro para explicar aos consumidores como se distingue um verdadeiro Porto de um produto falsificado ou uma usurpação do nome. Seria um esforço desnecessário, quer em termos comerciais, quer em termos financeiros”, comentou o responsável do IVV.
Mais benéfica para as vendas ao exterior é a descida do euro: “Quem negocia em euros tem de fato, neste momento, uma vantagem competitiva e consegue pôr os vinhos a preços mais baixos [no mercado]”, explicou Frederico Falcão, acrescentando que já há muitos produtores em Portugal a negociarem os seus produtos em dólares, nomeadamente nos Estados Unidos e até no Brasil.