Por falta de recursos, UERJ retira prova discursiva de língua portuguesa do vestibular

Da Redação

Por falta de recursos para pagar professores para corrigir provas, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) decidiu retirar a prova de língua portuguesa discursiva (em que é cobrada análise e interpretação de texto) do vestibular de 2018. A prova, que antes era feita por todos os candidatos, será aplicada apenas aos postulantes a vagas em alguns cursos, como direito, letras e comunicação.

O exame discursivo é a terceira etapa do vestibular da Uerj. Antes disso, os alunos passam por duas provas objetivas, com 60 questões cada, abrangendo todas as disciplinas. A aplicação da redação está mantida para todos os candidatos, e os alunos também farão provas discursivas de disciplinas específicas, de acordo com o curso escolhido.

A Uerj diz que o objetivo da mudança é de viabilizar o vestibular estadual de 2018 “nas condições adversas em que se encontram a nossa universidade e o estado do Rio de Janeiro”.

De acordo com o diretor de vestibular da Uerj, Gustavo Krause, a decisão de retirar o exame discursivo de língua portuguesa foi tomada para viabilizar o vestibular. “É uma medida emergencial. Há prejuízo para a avaliação sim, mas o prejuízo maior era não conseguir fazer o final do exame. Seria um desastre colossal”, disse à Agência Brasil.

Segundo Krause, a redução do número de alunos inscritos para fazer o vestibular neste ano fez cair os recursos arrecadados para custear o concurso. No ano passado, foram cerca de 80 mil alunos prestando o vestibular. Neste ano o número caiu para 33 mil.

A professora de língua portuguesa e produção textual Tatiana Câmara, que dá aula para alunos do 3º ano do ensino médio no Colégio Mopi, no Rio de Janeiro, considera que a decisão de retirar a prova do vestibular foi acertada, porque a Uerj não teria condições de manter as bancas examinadoras. Com essa decisão, segundo a professora, poderá ser mantido o modelo atual do vestibular com duas etapas. “O ideal, claro, é que todas elas [as provas] acontecessem, mas isso não sendo possível, acho que eles tomaram uma decisão sábia, de não tirar a redação. Essa sim, não poderia faltar”, afirma.

E para ela, a mudança não vai reduzir a qualidade do vestibular. “É uma prova que compõe o todo e não chega a esse ponto de comprometer a qualidade do vestibular”, diz.

A aluna do 3º ano do ensino médio Mariana Novello já fez a primeira prova objetiva da Uerj, em julho, e vai fazer as próximas fases, em setembro e dezembro. Ela acha que a prova é importante para todos os cursos. “O português instrumental seria necessário para todos os cursos para mostrar que você sabe bem a língua”, diz. Por outro lado, ela avalia que, no seu caso, a retirada da prova discursiva de língua portuguesa será positiva porque, como vai prestar vestibular para biologia, terá mais tempo para se dedicar às matérias que têm mais peso na prova.

A Uerj informou que a leitura da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, que estava prevista para ser avaliada na prova de língua portuguesa instrumental, será transferida para a prova de redação, que terá como tema uma questão polêmica levantada pelo livro. “A leitura do romance certamente ajudará o candidato a escrever a sua redação”, diz a Uerj.

Por causa da situação financeira da universidade, o início do ano letivo, que começaria no dia 1º de agosto foi adiado por tempo indeterminado. Segundo a reitoria da Uerj, o motivo do adiamento são as condições precárias de manutenção da universidade, com o não pagamento das empresas terceirizadas, contratadas por meio de licitação pública.

Os professores da Uerj estão em greve desde o dia 1º, contra o atraso dos salários e das bolsas acadêmicas e as más condições de trabalho nas unidades e no hospital universitário.

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