Mundo Lusíada com Lusa
O presidente Jair Bolsonaro ainda não se pronunciou após derrota nas urnas para Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno das eleições. Enquanto isso, autoridades e políticos de partidos portugueses comentam e acompanham a situação no Brasil.
Nesta segunda-feira, o primeiro-ministro português considerou que a eleição de Lula como Presidente do Brasil constitui uma “nova oportunidade” para uma reaproximação entre os dois países, mas rejeitou comentar o silêncio do chefe de Estado cessante, Jair Bolsonaro.
“Já tive oportunidade de falar com o Presidente eleito, Lula da Silva, de o felicitar pessoalmente. Todos nós temos muitas saudades do Brasil e esta é uma nova oportunidade para nos reaproximarmos neste ano em que assinalamos os 200 anos da independência do Brasil”, sustentou António Costa, em Lisboa.
O primeiro-ministro afirmou que o resultado das eleições presidenciais no Brasil “é uma vitória da democracia” e representa uma “esperança nova para o mundo”, uma vez que Lula da Silva, no primeiro discurso que fez depois de conhecidos os resultados, demonstrou que vai haver uma “grande contribuição do Brasil para o combate às alterações climáticas”.
“Foi muito importante as eleições terem sido disputadas, foram renhidas, todos vimos que foi quase contado até ao último voto”, completou o líder do executivo socialista.
Costa manifestou ainda a esperança em que Lula da Silva passe por Portugal no decorrer da sua deslocação à Europa. “As portas de Portugal estão sempre abertas e o desejo que temos é que, havendo uma deslocação do Presidente eleito à Europa ainda antes da posse, se puder vir a Portugal teríamos muito gosto. Temos muitas saudades do Brasil, temos muitas saudades dele”, disse.
Presidente
Marcelo Rebelo de Sousa já telefonou ao eleito no Brasil, e hoje voltou a falar sobre as eleições. O chefe de Estado português afirmou que a comunidade internacional confia que o espírito democrático que caracterizou o processo eleitoral no Brasil irá prevalecer até à posse de Lula como Presidente.
Em conferência de imprensa conjunta com o Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, no Palácio de Belém, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa foi questionado sobre o silêncio de Jair Bolsonaro. O chefe de Estado português respondeu que as eleições de domingo no Brasil “foram claramente democráticas e foram claramente caracterizadas pela sua lisura, pelo seu espírito cívico”.
De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, a vitória de Lula da Silva foi um dos primeiros temas abordados no encontro de hoje com Ramos-Horta, que se encontra em Portugal em visita de Estado.
“Falamos do mundo da lusofonia em particular, para saudar – como já saudamos durante a madrugada os dois – a vitória do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais na pátria irmã de ambos países que é o Brasil, numas eleições caracterizadas pelo espírito democrático, pela lisura de processos”, referiu.
O Presidente português considerou que este processo eleitoral no Brasil significou “a afirmação da pujança da democracia brasileira no mundo”.
Chega
O líder do Chega, André Ventura, apelou hoje a Bolsonaro que aceite a vitória de Lula da Silva, considerando que “é importante saber ganhar mas é também importante saber perder”.
“Queria apelar para que o presidente Jair Bolsonaro reconheça os resultados eleitorais, para que o Brasil possa ser pacificado e para que se evitem atos de violência física e atos de violência contra a ordem constitucional”, afirmou, numa conferência de imprensa na sede nacional do Chega, em Lisboa.
André Ventura apontou que já enviou uma “mensagem pessoal” a Bolsonaro na qual agradeceu “o esforço e a luta que foi feita em prol do Brasil, na muralha que foi criada para evitar que a corrupção voltasse”. “Só há um caminho, aceitar os resultados democráticos, lutar pela ordem constitucional e, eventualmente, voltar a lutar nas urnas para que justiça seja reposta”, defendeu.
“É fundamental para Portugal e para o Brasil que não haja episódios de violência, que não haja alegações não sustentadas de fraude ou que a ordem não seja respeitada”, considerou.
Bloco de Esquerda
A deputada do BE Joana Mortágua considerou hoje o resultado das eleições “uma vitória da democracia” importante “para a paz mundial”, sublinhando o “desafio imenso” que terá Lula da Silva e o “silêncio preocupante” de Bolsonaro.
“Esta vitória de Lula da Silva é uma vitória da democracia. Não apenas no Brasil, mas no mundo, aqueles que apoiaram Trump, aqueles que seguem a linha de Trump, todos os que representam estas correntes ‘trumpistas’ de extrema-direita têm vindo a ser derrotados”, afirmou Joana Mortágua em declarações aos jornalistas.
Apesar deste “silêncio preocupante”, Joana Mortágua mostrou convicção “de que as instituições brasileiras terão força para resistir a qualquer tentativa ou devaneio”, considerando que “a democracia brasileira é forte o suficiente para aceitar este resultado e construir o futuro com prioridades que são muito claras”.
PAN
A líder do PAN considerou hoje que os eleitores brasileiros deixaram claro que não queriam “continuar com o autoritarismo” que “Bolsonaro personifica” ao dar a vitória a Lula nas eleições presidenciais do Brasil.
“Portugal, enquanto país irmão, deve congratular o Brasil por ter feito esta viragem, ainda que nenhum dos candidatos fosse um candidato que apoiássemos e bem sabendo os desafios que o Brasil tem pela frente”, afirmou a porta-voz do PAN.
Inês de Sousa Real defendeu que “é fundamental que Lula da Silva e, tendo em conta também as suas palavras e o compromisso agora firmado, possa comprometer-se com três eixos essenciais”: “a recuperação socioeconômica do povo brasileiro”, “a recuperação da floresta amazônica” e o “combate à corrupção”.
PCP
Também o PCP saudou hoje a eleição de Lula e considerou que a vitória sobre Jair Bolsonaro é um “importante revés para o crescimento da extrema-direita e do fascismo”.
“É uma vitória que significa um importante revés para o crescimento da extrema-direita e do fascismo, nomeadamente nos Estado Unidos da América e na Europa, e que aponta para a recuperação do papel positivo do Brasil nas relações internacionais”, sustenta o PCP.
Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito Presidente do Brasil com 50,90% dos votos e derrotou Jair Bolsonaro que obteve 49,10%. Com 77 anos, Lula vai ser o 39.º Presidente do Brasil, depois de já ter cumprido dois mandatos como chefe de Estado, entre 2003 e 2011.