Venezuela: Dezenas contestam reeleição de Maduro em manifestação no Funchal

Mundo Lusíada com Lusa

Algumas dezenas de venezuelanos e luso-venezuelanos manifestaram-se hoje no Funchal contra a reeleição de Nicolás Maduro para um terceiro mandato nas presidenciais de domingo, defendendo que a vitória pertence ao candidato da oposição Edmundo Gonzalez Urrutia.

“Podem-nos roubar 1%, podem roubar 2%, não nos podem roubar 40, 50, 60%. Ganhou Edmundo e ganhou com grande resultado”, disse Henrique Vieira, um dos organizadores da manifestação “Pela Democracia na Venezuela”, que decorreu no Largo do Município, no centro da capital madeirense.

Os manifestantes ergueram várias bandeiras da Venezuela e gritaram palavras de ordem como “liberdade”, “Venezuela livre”, “Edmundo presidente”.

“Sabemos quem ganhou as eleições. Agora, o mais importante é que os Presidentes dos países da Europa, da América Latina, da Austrália, todos os países, não reconheçam os resultados eleitorais, até que haja uma contagem transparente”, afirmou Henrique Vieira, destacando a “postura muito sensata” assumida pelo Governo português, que pediu hoje a verificação imparcial dos resultados.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela proclamou hoje oficialmente como Presidente Nicolás Maduro, após ter anunciado no domingo à noite que o líder chavista, no poder desde 2013, venceu as eleições, resultado rejeitado pela oposição.

Durante a cerimônia de proclamação em Caracas, capital do país, o presidente do CNE, Elvis Amoroso, afirmou que “a eleição presidencial decorreu num clima de respeito, paz e participação democrática”.

Isto, ressalvou o representante, “embora alguns tenham tentado gerar violência” e de “muitos ataques” ao sistema eleitoral, que não especificou.

Apesar de tudo, disse, com a “capacidade técnica, moral e ética” da CNE, “todos os obstáculos foram ultrapassados”.

Amoroso insistiu que Maduro obteve a maioria dos votos válidos nas eleições presidenciais, “sendo eleito por um período de mais seis anos”.

O mandato terá início oficialmente em 10 de janeiro de 2025, data marcada para a tomada de posse.

Nas eleições de domingo, Maduro enfrentou o candidato maioritário da oposição, Edmundo González Urrutia, e outros oito candidatos.

Nicolás Maduro alegou hoje estar em curso uma tentativa de golpe de Estado “de natureza fascista”, perante dúvidas sobre o processo da sua reeleição, rejeitada pela oposição e parte da comunidade internacional.

Maduro obteve 5,15 milhões de votos, à frente do candidato da oposição Edmundo Gonzalez Urrutia, que obteve pouco menos de 4,5 milhões de votos (44,2%), de acordo com os números oficiais anunciados.

Países

Vários países já felicitaram Maduro pela vitória, como Rússia, Nicarágua, Cuba, China e Irã, mas outros Estados da comunidade internacional, e reconhecidos como democráticos, demonstraram grande preocupação com a transparência das eleições na Venezuela.

Foi o caso de Portugal, Espanha ou Estados Unidos.

Nove países latino-americanos – Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai – pediram uma “revisão completa” dos resultados eleitorais na Venezuela, país que conta com uma significativa comunidade de portugueses e de lusodescendentes.

Os Estados Unidos anunciaram hoje que vão adiar a tomada de decisões sobre a Venezuela, incluindo a possibilidade de impor novas sanções, até que sejam publicados todos os registos de votação das eleições.

O Governo do Presidente Joe Biden reconheceu “sérias preocupações de que os resultados anunciados não reflitam a vontade do povo venezuelano”, de acordo com as palavras do porta-voz da Segurança Interna da Casa Branca, John Kirby.

O porta-voz defendeu que é “absolutamente essencial que cada voto seja contado de forma justa e transparente, que os responsáveis eleitorais partilhem imediatamente a informação com a oposição e observadores independentes e que as autoridades eleitorais publiquem atas completas e detalhadas dos votos”.

Em Portugal

O presidente do Chega, André Ventura, defendeu hoje que as eleições na Venezuela foram “uma fraude” e criticou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, por uma declaração “vazia e medrosa”, apelando a maior coragem do Estado português.

“Eu vou dizer isto com todos os riscos que acarreta, mas que me parece uma evidência. Eu acho que estas eleições foram uma fraude. Os estudos independentes que tínhamos até ao dia, e que ontem tivemos, nomeadamente à boca da urna, mostravam uma clara tendência de vitória dos movimentos da oposição face ao Presidente Nicolás Maduro e aquilo que tivemos (…) foi precisamente o contrário”, afirmou André Ventura em declarações aos jornalistas à entrada de um encontro com a Ordem dos Advogados, em Lisboa.

O presidente do Chega instou o Governo “como aliás os Estados Unidos já fizeram” a exigir “que a Venezuela divulgue as atas eleitorais integrais de todas as urnas de votos” para haver uma garantia da legitimidade do Governo de Nicolás Maduro.

“A nossa responsabilidade, independentemente de ser Angola, Venezuela, Moçambique, Cabo Verde ou outro país qualquer, é dizer que esta eleição não é aceitável, a Venezuela tem que dar provas de respeitar o seu povo”, acrescentou.

O Governo português pediu hoje a verificação imparcial dos resultados das eleições presidenciais. O Ministério dos Negócios Estrangeiros “saúda a participação popular e considera ser necessária a verificação imparcial dos resultados eleitorais na Venezuela”, lê-se numa mensagem publicada na rede social X.

Já o PCP considerou que as eleições “reafirmaram o apoio popular ao processo bolivariano”, saudando a reeleição de Maduro, e repudiou “manobras de ingerência” que procuram “colocar em causa o processo eleitoral e os seus resultados”.

Em comunicado, os comunistas destacam que as eleições na Venezuela “constituíram uma importante jornada democrática, em que participaram milhões de venezuelanos e cujos resultados reafirmaram o apoio popular ao processo bolivariano”.

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