Primeiro-Ministro diz que legado de Gandhi deve inspirar as relações Portugal-Índia

Foto O primeiro-ministro, António Costa (D), acompanhado pelo primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi (E), durante um encontro em Nova Deli, Índia, 19 de dezembro de 2019. PAULO VAZ HENRIQUES/GABINETE DO PRIMEIRO MINISTRO/LUSA

Da Redação
Com Lusa

Em visita a Índia, o primeiro-ministro português defendeu que o legado de Gandhi deve inspirar as relações de crescente abertura entre Portugal e a Índia, num discurso em que salientou a atualidade da mensagem da tolerância contra fenômenos de xenofobia.

António Costa transmitiu estas mensagens no discurso que proferiu na qualidade de “convidado de honra” das cerimônias de comemoração do 150º aniversário de Mahatma Gandhi, no qual estiveram presentes os chefes de Estado e de Governo da Índia, respectivamente Ram Nath Kovind e Narendra Modi.

A cerimônia teve lugar depois de António Costa ter deposto uma coroa de flores e feito um minuto de silêncio no Memorial Mahatma Ghandi, no Rajghat – num dia que começou com um encontro a sós com o primeiro-ministro da Índia.

Perante cerca de duas centenas de individualidades da comunidade indiana, o primeiro-ministro começou por dizer que, tal como outros participantes na cerimônia, também ele chegou a Nova Deli como “peregrino para celebrar o legado de Gandhi, assim como “para promover as relações entre Portugal e a Índia”.

“Fiquei profundamente honrado quando recebi o convite do primeiro-ministro Modi para ser membro do Comité Gandhi, sendo o único líder de Governo estrangeiro com esta distinção. Como sabem, pelo lado do meu pai, tenho familiares em Goa e estou profundamente orgulhoso das minhas origens indianas”, salientou, numa das notas de caráter pessoal que transmitiu à plateia.

Para o primeiro-ministro, a sua participação no Comité Gandhi tem “uma profunda dimensão política”, já que, em 45 anos de democracia, Portugal está a ser capaz de “utilizar o seu passado – um passado feito de séculos de contatos com outros povos – para se reinventar enquanto país aberto ao mundo”.

“Com uma língua que tem 250 milhões falantes no mundo, Portugal tem uma vocação universalidade e de tolerância, especialmente em matéria de diálogo com outros continentes. Estamos entre aqueles que acreditam em criar sociedades mais iguais e inclusivas, através de uma globalização descentralizada, do desenvolvimento tecnológico, do multilateralismo e da cooperação entre países e continentes”, sustentou o primeiro-ministro português

Após esta introdução, António Costa comparou então o universalismo que tem caracterizado os portugueses ao longo de séculos ao universalismo que também caracterizou o percurso de Mahatma Gandhi, que “viveu em três diferentes continentes em dois diferentes séculos”.

“O legado de Gandhi pode ser usado como base para continuar a construir uma vibrante e moderna relação entre Portugal e a Índia. Os Lusíadas, de Luís de Camões, fazem-nos embarcar numa aventura coletiva tendo a Índia como destino, numa viagem durante a qual Portugal analisa o seu passado e olha para o seu futuro. Deixem-me dizer que estou aqui diante de vós como um produto dessa jornada”, declarou.

De acordo com o primeiro-ministro, “a abertura ao mundo e o aprofundamento das relações entre povos em diferentes continentes continua a ser um modo de estar dos portugueses e a ser um elemento fundamental da sua identidade e prosperidade”.

“No campo das relações bilaterais com a Índia, temos ainda muito para aprofundar no comércio, no investimento, no intercâmbio cultural e científico e da tecnologia. O investimento da Índia em Portugal é bem-vindo, e as empresas portuguesas estão prontas das novas oportunidades geradas pelo rápido crescimento do vasto mercado indiano”, considerou.

Após estas referências à presença dos portugueses em vários pontos do mundo, António Costa salientou que o pensamento e ação de Gandhi têm raízes na Índia, mas as suas influências não se esgotaram naquele subcontinente.

“Gandhi esteve sempre aberto para observar, aprender e para trocar ideias com outros em países distantes com culturas diferentes. Ainda hoje o legado de Gandhi continua a guiar os esforços para combater a discriminação, promover a tolerância religiosa, a coexistência pacífica entre comunidades e o respeito pela natureza. A resposta para alguns dos desafios deste século XXI, sobretudo no que concerne às relações entre povos e países, pode beneficiar muito da visão de Gandhi sobre a dignidades de todo o ser humano”, defendeu António Costa.

Neste contexto, o primeiro-ministro português advertiu depois para os riscos de fenômenos como o “crescimento do exclusivismo, do protecionismo e da xenofobia”.

“Tal como no passado, as ideias de Gandhi continuam a fornecer uma contribuição valiosa para o nosso esforço comum de combate à discriminação e de promoção da tolerância religiosa e cultural. Num período em que nos deparamos com o espetro de uma onda reversiva da democracia e com a ascensão de modelos políticos autoritários, o eco da voz de Gandhi pode voltar a conduzir o nosso pensamento e a nossa ação”, acrescentou António Costa.

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