Mundo Lusíada
Com Lusa
O ex-primeiro-ministro José Sócrates foi detido na noite de 21 de novembro no âmbito de um processo em que se investigam crimes de fraude fiscal. A detenção foi feita na chegada ao aeroporto de Lisboa.
Além de Sócrates, já tinham sido detidas outras três pessoas, a culminar diligências realizadas nos últimos dias. O inquérito, desenvolvido no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), incide sobre suspeitas de crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção.
Levado a interrogatório, José Sócrates saiu cerca das 22:20 (horário local) do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), em Lisboa, e depois de mais de cinco horas, saiu numa viatura descaracterizada, no banco de trás.
O advogado do ex-primeiro-ministro, João Araújo, disse aos jornalistas à porta do TCIC que fará “uma declaração amanhã [domingo], eventualmente”, sem esclarecer qualquer questão relacionada com o processo, nem sequer se o interrogatório a José Sócrates já tinha sido iniciado ou não. José Sócrates vai passar a segunda noite consecutiva nas instalações do Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) da PSP, em Moscavide.
O inquérito investiga operações bancárias, movimentos e transferências de dinheiro sem justificação conhecida e legalmente admissível. As buscas foram realizadas em vários locais, tendo envolvido quatro magistrados do Ministério Público e 60 elementos da autoridade Tributária e Aduaneira e da PSP – Procuradoria-Geral da República.
PGR informou que além de Sócrates, foram detidos na quinta-feira o empresário Carlos Santos Silva, o advogado Gonçalo Trindade Ferreira e o motorista João Perna. Ao contrário do que disse fonte policial à Lusa, Joaquim Lalanda de Castro, representante da multinacional farmacêutica Octapharma, não faz parte dos detidos.
O ex-primeiro ministro José Sócrates acompanhou neste sábado as buscas realizadas pela polícia na sua residência em Lisboa, que terminaram cerca das 16:30, disse à Lusa fonte policial. Esta é a primeira vez na história da democracia portuguesa que um antigo primeiro-ministro é detido para interrogatório.
Segundo a polícia, trata-se de uma “investigação independente de outros inquéritos em curso, como o Monte Branco ou o Furacão, não tendo origem em nenhum destes processos”, adianta a PGR em nota, depois de na sexta-feira ter já afastado ligações entre esta investigação e o processo Monte Branco.
A PGR esclarece ainda que o “inquérito teve origem numa comunicação bancária efetuada ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) em cumprimento da lei de prevenção e repressão de branqueamento de capitais”.
A detenção do ex-primeiro-ministro José Sócrates é notícia nos mais variados meios internacionais, fazendo destaque entre o espanhol El Mundo, passando pelo francês Le Monde, o britânico Financial Times, o italiano La Stampa e indo até ao brasileiro O Globo.
A RTP suspendeu o espaço de comentário que o ex-primeiro-ministro tem aos domingos na RTP1, na sequência da sua detenção, e não irá ter “plano B”, segundo o diretor de Informação. Sócrates iniciou o comentário político semanal na RTP em abril do ano passado, perante um coro de protestos que incluiu uma petição pública eletrônica, a qual recolheu mais de 100 mil assinaturas, e uma manifestação contra a sua presença na estação pública.