Ministro Moro confirma saída do governo após interferência política na Polícia

[Atualizada às 18h]

Da Redação

Na manhã desta sexta-feira, o ministro da Justiça e Segurança Pública formalizou o seu pedido de demissão da pasta. Moro declarou que ficou sabendo da exoneração do Diretor Geral da PF pelo Diário Oficial. A demissão do ex-chefe da Polícia Federal, Maurício Leite Valeixo, foi publicada nesta manhã no Diário Oficial da União.

O ministro afirmou que não assinou o decreto e que o agora ex-diretor-geral da PF não cogitava deixar o cargo. “Não é absolutamente verdadeiro que Valeixo desejasse sair”. Para o ministro, a substituição do diretor-geral, sem um motivo razoável, afeta a credibilidade não só da PF.

Em seu depoimento, o Sergio Moro confirmou que o presidente Bolsonaro quer interferir na autonomia da Polícia Federal, na troca do diretor-geral e de cargos de superintendentes. “Falei para o presidente que seria uma interferência política. Ele disse que seria mesmo”, disse Moro.

A questão foi debatida anteriormente entre Moro e Bolsonaro, mas o ministro declarou que não existe um motivo real para a troca do comando, sem questionar a pessoa indicada para o cargo, mas o porquê da substituição.

“O grande problema é por que trocar e permitir que seja feita interferência política no âmbito da PF. O presidente me disse que queria colocar uma pessoa dele, que ele pudesse colher informações, relatórios de inteligência. Realmente, não é papel da PF prestar esse tipo de informação”, disse Moro.

“Por todos esses motivos, busquei solução pra evitar crise politica durante a pandemia, mas entendi que não podia deixar de lado um compromisso com Estado de Direito” declarou.

Moro ainda falou sobre o futuro, lamentando o caminho sem volta para a magistratura. Foram 22 anos de trabalho deixados por este projeto de governo, em que tinha “carta branca” para a nomeação de cargos e autonomia no trabalho da Polícia Federal.

“Tenho que preservar minha biografia, mas acima de tudo tenho que preservar o compromisso com o presidente de que seríamos firmes no combate à corrupção, a autonomia da PF contra interferências políticas”, declarou.

Moro foi um dos principais membros do Governo brasileiro e mantinha uma popularidade maior do que a do próprio chefe de Estado, com quem entrou em atrito algumas vezes, incluindo numa tentativa anterior de troca de cargos, desde ano passado.

Oposição no Senado

Os oposicionistas Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Humberto Costa (PT-PE) disseram que o ministro Moro na verdade apresentou uma delação premiada, implicando o presidente em vários crimes. Eles pediram uma investigação urgente e defenderam até um pedido de impeachment contra o chefe do Executivo.

“Ao dizer que o presidente da República quer alguém na PF com quem possa ‘colher relatório de informação’, o ministro acusa formalmente de grave crime de responsabilidade. É uma clara tentativa de obstrução de justiça. É preciso urgente investigação sobre o tema”, opinou Costa.

O senador Angelo Coronel (PSD-BA) levantou uma série de indagações sobre os motivos que levaram o presidente da República a tentar interferir na instituição policial da União:

“Moro sai deixando claro que Bolsonaro quer interferir na PF. Por quê? Será que a equipe atual descobriu algo que está incomodando o governo? E disse que Bolsonaro quer alguém de sua confiança na PF para obter diretamente informações. Qual objetivo disso? Não é papel da PF esse tipo de serviço”, questionou à Agência Senado.

Presidente contesta

Bolsonaro fez um pronunciamento na tarde desta sexta-feira, no Palácio do Planalto, para rebater as acusações feitas por Moro, acompanhado de seus ministros, e negou que tenha pedido para o então ministro interferir em investigações da Polícia Federal (PF).

“Não são verdadeiras as insinuações de que desejaria saber sobre as investigações em andamento. Nos quase 16 meses em que esteve à frente do Ministério da Justiça, o senhor Sergio Moro sabe que jamais lhe procurei para interferir nas investigações que estavam sendo realizadas, a não ser aquelas, não via interferência, mas quase como uma súplica, sobre o Adélio [Bispo], o porteiro, e meu filho 04 [Jair Renan]”, afirmou o presidente, em uma referência às investigações sobre a tentativa de assassinato contra ele na campanha eleitoral de 2018 e às investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco, também em 2018.

Bolsonaro disse, em seu pronunciamento, que, como presidente, tem o direito de se dirigir diretamente a outros funcionários do governo federal, inclusive subordinados de seus ministros. “O dia que eu tiver que me submeter a qualquer funcionário meu, eu deixarei de ser presidente da República. Falei para que ele que quero um delegado […] que eu possa interagir com ele. Por que não? Eu interajo com os órgãos de inteligência das Forças Armadas, eu interajo com a Abin [Agência Brasileira de inteligência], interajo com qualquer um do governo. Sempre procuro o ministro, mas numa necessidade, eu falo diretamente com o primeiro escalão daquele ministro”, afirmou.

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