Mundo Lusíada com Lusa
O líder do CDS-PP condenou as declarações do Presidente do Brasil sobre a guerra na Ucrânia e defendeu que a sessão de boas-vindas a Lula da Silva no dia 25 de Abril deve ser cancelada.
“A ideia de liberdade, tal qual o CDS a configura, é incompatível com a posição do Presidente Lula da Silva. Neste momento, o Presidente Lula da Silva seria o pior representante do que se quer quando se celebra o 25 de Abril”, afirmou Nuno Melo.
Em declarações à agência Lusa no final de uma reunião com o Governo sobre a data das próximas eleições europeias, o presidente do CDS-PP defendeu que “seja cancelada a vinda do Presidente Lula ao parlamento, para ser parte dessas celebrações”.
“O que nós condenamos é a associação do Presidente Lula da Silva às comemorações do 25 de Abril quando alinha com ditaduras e ataca os Estados Unidos e a União Europeia, uma vez que o 25 de Abril comemora a liberdade e simboliza a ideia contrária de qualquer ditadura”, apontou o eurodeputado.
Nuno Melo afirmou que as declarações de Lula “vão em contraciclo e mostram perigosamente uma deriva” e considerou que “o Brasil não é isto que Lula da Silva mostrou”.
“O Brasil é um país amigo e irmão, até por isso é muito trágico vermos Lula da Silva alinhar com ditaduras, colocando-se contra os Estados Unidos da América e a União Europeia”, acrescentou.
O presidente do CDS-PP salientou que “é muito importante que o Presidente Lula da Silva perceba que, ao contrário do que diz, quem incentiva a guerra é quem a faz, violando fronteiras internacionais, violando o direito internacional, praticando uma guerra de conquista com violência quase medieval, que destrói cidades e vitima homens, mulheres e crianças”.
O líder do CDS-PP criticou igualmente as declarações do PS sobre este tema, considerando-as “totalmente insuficientes e desadequadas”.
“Qualquer democrata tem de condenar as declarações do Presidente Lula da Silva, a começar pelo PS porque é o partido do Governo”, defendeu, apontando que “quando está em causa a liberdade e a democracia as declarações não podem ser equívocas”.
Nuno Melo disse ainda ver “com preocupação a tendência que se vai instalando nos movimentos mais radicalizados à extrema-esquerda e à extrema-direita no sentido de uma narrativa justificativa da Rússia no que tem que ver com a guerra”, considerando que isso “acontece no plano nacional e europeu”.
O eurodeputado salientou que “o CDS luta pelas democracias e não tem dois discursos”.
Luiz Inácio Lula da Silva defendeu no sábado, no final de uma visita à China, que os Estados Unidos devem parar de “encorajar a guerra” na Ucrânia e a União Europeia deve “começar a falar de paz”.
“Os Estados Unidos devem parar de encorajar a guerra e começar a falar de paz, a União Europeia deve começar a falar de paz”, disse o chefe de Estado brasileiro aos jornalistas, em Pequim, antes de partir para os Emiratos Árabes Unidos.
Também a Comissão Europeia rejeitou hoje as acusações feitas por Lula. “Não é verdade que os EUA e a UE estejam a ajudar a prolongar o conflito. A verdade é que a Ucrânia é a vítima de uma agressão ilegal, uma violação da Carta das Nações Unidas”, sustentou o porta-voz do executivo comunitário para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Peter Stano, em conferência de imprensa, em Bruxelas.
Peter Stano acrescentou que “é verdade que a UE, os EUA e outros parceiros estão a ajudar a Ucrânia na sua legítima defesa”. E reconheceu que desde o início da invasão vários países apresentaram propostas para a paz e houve convites para Moscovo voltar à mesa das negociações, mas, afirmou o representante, “todas as ofertas foram recebidas com uma escalada da guerra” pelo Presidente da Federação Russa.
Também o líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, defendeu que a Assembleia da República “não pode receber um aliado de Putin como Lula no 25 de Abril”, lembrando que no mesmo parlamento discursou, por videoconferência, o Presidente da Ucrânia.
“A Assembleia da República [AR] que convidou Zelensky para discursar em 21 de abril de 2022 não pode receber um aliado de Putin como Lula no 25 de Abril. E o Presidente da República que atribuiu a Ordem da Liberdade a Zelensky não pode estar confortável com a presença de um aliado de Putin como Lula na AR no 25 de Abril”, escreveu Rui Rocha, na rede social Twitter.
Já o presidente do Chega, André Ventura, considerou “ultrajante” que o PSD saúde “a presença de Lula no dia 25 de Abril em Portugal”, e confirmou que o partido vai organizar o que apelida de “maior manifestação de sempre contra um dignitário estrangeiro em Portugal”.
O presidente do Chega defendeu que Lula da Silva deve ser condenado pela “proximidade com a Rússia”, pela “incapacidade de ver o sofrimento do povo ucraniano”, pela “sua proximidade à China”, pela “hesitação em condenar as ditaduras sul-americanas” e pela “corrupção”, apesar das decisões que condenaram o presidente brasileiro nesse âmbito terem sido anuladas devido a erros e irregularidades processuais.
Bem recebido
Já o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, afirmou hoje que a sessão solene dedicada ao Presidente do Brasil “não diminui” a sessão de comemoração do 25 de Abril, destacando que Lula da Silva será “bem recebido” em Portugal.
“É normal que haja uma sessão solene com um presidente de Estado. Quando fomos confrontados com essa questão, o que dissemos é que não seria positivo coincidir com a sessão solene do 25 de Abril e que seria melhor encontrar uma outra sessão para o efeito. O desfecho final foi esse e ainda bem que foi esse. Acho que é preferível e não diminui nem a sessão solene dedicada ao presidente Lula nem diminui a sessão solene dedicada ao 25 de Abril”, afirmou Paulo Raimundo.
O secretário-geral destacou ainda que o presidente brasileiro é “muito bem-vindo” e será “bem recebido” em Portugal.
O presidente do PSD distinguiu hoje as posições do Presidente do Brasil sobre a Ucrânia da relação entre os dois países, considerando que políticos que as confundem “não estão à altura de assumir cargos de responsabilidade na democracia portuguesa”.
Luís Montenegro foi questionado se contava encontrar-se com Lula da Silva na próxima semana, depois de o vice-presidente do PSD Paulo Rangel ter instado no domingo o Governo a demarcar-se das declarações do Presidente brasileiro de que a União Europeia, NATO e EUA estão a estimular a guerra na Ucrânia.
“Vou participar nas sessões solenes na Assembleia da República no 25 de Abril”, respondeu Montenegro, considerando que a posição do PSD “é clara e inequívoca” quanto às duas polêmicas recentes sobre a visita de Lula a Portugal, entre 22 e 25 e Abril.
Por um lado, o presidente do PSD recordou que o partido defendeu que a sessão de boas vindas ao Presidente do Brasil “se deveria realizar num outro dia e que não se devia confundir com a sessão solene evocativa do 25 de Abril, na qual o Presidente da República e os partidos se devem expressar de forma livre e democrática”.
“Relativamente à posição do Presidente Lula da Silva e da política externa do Brasil no que toca à guerra da Ucrânia há uma fronteira que nos separa completamente: nós não temos nenhuma complacência nem nenhuma condescendência com a agressão da Rússia à Ucrânia. Isso deve ficar muito claro, quer do ponto de vista do nosso partido, quer do ponto de vista da relação do Estado português com o Presidente do Brasil”, vincou.
No entanto, questionado se estas posições afetarão de alguma forma a participação do PSD na sessão parlamentar de boas vindas a Lula, Montenegro frisou ser necessário distinguir os dois planos.
“Temos uma divergência profunda, elementar do ponto de vista dos princípios. Isso não significa que desrespeitemos o povo brasileiro que o Presidente do Brasil representa. E mais: não nos podemos esquecer das centenas de milhares de portugueses que vivem no Brasil e de brasileiros em Portugal, somos países com uma cultura e uma história comuns e com uma ligação muito forte diariamente”, frisou.
A este propósito, o presidente do PSD acrescentou ainda um ‘recado’: “Aqueles que não têm capacidade de ver isto não estão à altura de assumir cargos de responsabilidade na democracia portuguesa”, afirmou.
A presença no parlamento do Presidente do Brasil – que visita Portugal entre 22 e 25 de abril – tem estado envolta em polêmica desde que, em fevereiro, o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, falou explicitamente num discurso de Lula da Silva na sessão solene da Revolução de Abril na Assembleia da República, assinalando o seu caráter inédito, o que mereceu a oposição de PSD, IL e Chega.
O parlamento acabou por decidir que, em vez de uma intervenção do Presidente do Brasil na sessão solene anual comemorativa, realizará, no mesmo dia, uma sessão de boas-vindas à parte durante a visita de Estado de Lula a Portugal.
No dia 25 de Abril está marcada na Assembleia da República a sessão de boas vindas a Lula às 10:00, com um discurso do Presidente brasileiro, seguindo-se, às 11:30, a sessão solene que assinala o 49.º Aniversário da Revolução de 1974 em Portugal.