Da Redação com Lusa
A polícia moçambicana disse neste dia 12 que é preciso um “basta” às manifestações e paralisações, após o candidato presidencial Venâncio Mondlane apelar a novos protestos esta semana, referindo que são “terrorismo urbano” com intenção de “alterar a ordem constitucional”.
“Urge dizer basta às manifestações violentas com tendência de sabotagem de grandes empreendimentos que o país conquistou durante a independência e que são a esperança da geração vindoura”, declarou o comandante da Polícia da República de Moçambique (PRM), Bernardino Rafael, em conferência de imprensa, em Maputo.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou segunda-feira a um novo período de manifestações nacionais em Moçambique, durante três dias, a partir de quarta-feira, em todas as capitais provinciais, contestando o processo eleitoral em que, segundo os resultados oficiais, saiu derrotado.
“Vamos nos manifestar nas fronteiras, nos portos e nas capitais provinciais. Todas as 11 capitais provinciais (…) Vamos paralisar todas as atividades para que percebam que o povo está cansado”, apelou Venâncio Mondlane, numa transmissão em direto na sua conta oficial na rede social Facebook, sobre a “quarta etapa” de contestação ao processo das eleições gerais de 09 de outubro, a qual, afirmou, terá “várias fases” – a anunciar posteriormente -, e que, disse, é também contra os “raptos e sequestros” e “contra o assassinato do povo”.
Em declarações aos jornalistas, o comandante da PRM insistiu no “basta às manifestações violentas”, referindo que os protestos anteriores, de sete dias, culminaram com 46 manifestações que “afetaram gravemente a economia”, incluindo vandalizações de estabelecimentos comerciais e estatais e postos policiais.
“Em nenhum país do mundo se permite um cidadão dizer que quer golpear, nenhum país do mundo, mesmo na democracia mais antiga da Grécia, não há isso. Como é que um cidadão chega a ameaçar? Como é que se pode permitir isso? Ou é desconhecimento ou é excesso de emoção ou não percebe a convivência social”, apontou Bernardino Rafael, em acusações a Venâncio Mondlane, referindo que as marchas por si convocadas são “subversivas”.
“Com intenção clara de alterar a ordem constitucional moçambicana democraticamente instituído. Esta tendência de alterar da ordem e segurança pública com tendência clara de afetar a Constituição constitui uma violação flagrante da lei mãe que norteia a convivência social democrática no nosso país”, acusou o comandante.
Na mesma comunicação, Bernardino Rafael pediu aos moçambicanos para quarta-feira irem para os seus locais de trabalho, assegurando que a polícia moçambicana vai garantir a segurança e tranquilidade pública.
“Estas manifestações deixaram de ser violentas, passaram a ser subversivas, com tendências claras de terrorismo urbano, afetando os setores chaves da economia quando se declara atacar linhas férreas, fronteiras, grandes supermercados, interromper corredores do nosso país”, apontou, insistindo que se trata de terrorismo urbano.
“Porque há violação clara da Constituição da República, uma afronta total do que norteia a convivência social e alteração da ordem gravosa, urge a necessidade de dizer basta às manifestações”, concluiu o comandante da PRM, apelando igualmente à “paz e harmonia” no país.
Prejuízos
Os empresários moçambicanos estimaram hoje em 24,8 mil milhões de meticais (354 milhões de euros) os prejuízos causados em 10 dias de paralisações e manifestações convocadas pelo candidato Mondlane, com 151 unidades empresariais vandalizadas.
“Com estas manifestações acompanhadas pelas paralisações da atividade económica, constatamos que os setores de comércio, logística e transporte foram os mais afetados, sendo que as perdas totais e impacto no PIB (Produto Interno Bruto) totalizaram 24,8 mil milhões de meticais (354 milhões de euros), que são cerca de 2,2% do nosso PIB”, declarou o presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Agostinho Vuma.
As manifestações, maioritariamente violentas, deixaram um rastro de destruição em Maputo, com registo de mortos, feridos, detidos, infraestruturas destruídas e estabelecimentos comerciais saqueados, sobretudo em 07 de novembro.
Em conferência de imprensa, hoje, em Maputo, o líder do setor empresarial moçambicano adiantou que as perdas causadas colocam em risco o alcance de crescimento econômico de 5,5%, referindo que as marchas têm sido caracterizadas por “vandalizações e arrombamento de unidades empresariais”.
“Já foram afetadas cerca de 151 unidades empresariais em todo o país, sendo 80% nas cidades de Maputo e Matola”, declarou Agostinho Vuma, acrescentando que só as vandalizações já causaram custos de cerca de 45,5 milhões de dólares (cerca de 42,4 milhões de euros), colocando em risco mais de 1.200 postos de trabalho.
O presidente do CTA disse ainda que o setor dos transportes foi dos mais afetados, sobretudo na área metropolitana de Maputo, em que se reportou perda de receitas de cerca de 417 milhões de meticais [6 milhões de euros] em 10 dias de paralisações.
“A interrupção do tráfego no corredor de Maputo levou a redução do fluxo normal de camiões, com uma média diária que tem sido de 1.100 a 1.200 camiões e que caiu para cerca de 300 camiões por dia”, referiu Vuma.
Ainda de acordo com dados do setor empresarial privado, o setor financeiro sofreu igualmente com o impacto, com redução da procura de crédito, redução das transações no mercado cambial em 73,3% diários, correspondendo a cerca de 60 milhões de dólares, tendo caído, só nos dias 24 e 25 de outubro, para 14 milhões de dólares/dia.
Mondlane tinha antes convocado paralisações nos dias 21, 24 e 25 de outubro, que se seguiram outras de sete dias, desde 31 de outubro, com protestos nacionais e uma manifestação concentrada em Maputo, a 07 de novembro, que provocou o caos na capital, com diversas barricadas, pneus em chamas e disparos de tiros e gás lacrimogéneo pela polícia, durante todo o dia.