Plano Brasil Maior ainda é mero paliativo

A presidente Dilma Roussef fez alguns movimentos em relação a situação da economia brasileira. Como é sabido, o mundo ainda não conseguiu se safar dos efeitos da crise financeira que estourou em 2008 e isso acaba afetando a todos, afinal, com a globalização, a aproximação entre os mercados internacionais é bastante estreita. Assim, os EUA, maior economia do planeta, vivem uma grande dificuldade para pagar suas dívidas e o seu nível do desemprego permanece em condições bastante preocupantes. Obama até aqui patina em sua administração já no terceiro ano, com uma popularidade abaixo da média e a economia sendo rebaixada pelas agências de crédito. Por sua vez, a Europa também anda mal das pernas, tensa com a situação de países como Grécia, Espanha, Portugal, Itália e Irlanda. O Japão há tempos não vive um momento mais tranqüilizador. Agora mesmo, um grau de radioatividade alto voltou a ser detectado perto do sistema de ventilação entre dois reatores da central nuclear japonesa de Fukushima, que foi violada com o terremoto de 11 de março, segundo a empresa responsável pelo seu funcionamento. Assim, com esses parceiros deixando de comprar, com as bolsas pelo mundo afora com fortes quedas, percebe-se que o Brasil tem muita dificuldade para exportar sua produção e fazer dinheiro. E, para complicar ainda mais, os nossos competidores se utilizam de instrumentos bastante, digamos, ‘malandros’, para alavancarem as suas vendas, isto é, desvalorizam as suas moedas e também subsidiam, desoneram suas empresas, deixando-as mais leves e agressivas, com custos mais baratos e preços atraentes. Tudo isto preocupa governo, empresários e trabalhadores nacionais. Então, medidas precisam ser tomadas.
Dilma lançou o Plano Brasil Maior. Em essência tem a intenção de estimular a produção industrial e combater a chamada ‘desindustrialização’, exatamente por conta do aumento das importações, ou seja, não se produz, compra-se fora. O plano traz a preferência pela compra de produtos e serviços nacionais pelo Estado e também a desoneração da folha de pagamento para alguns ramos, caso de confecções, calçados, móveis e tecnologia da informação. É um começo. Mas, também é algo tímido.
É importante lembrar que uma preocupação, apontada de imediato pelos sindicalistas, é que as medidas de desonerar a folha de contratação podem também refletir em perda de receitas para a Previdência, o que é algo bastante perigoso e fortalece as idéias daqueles que defendem a privatização desse setor. Reclamam que o empresariado está sempre criticando os direitos trabalhistas. Quando a economia está mal eles flexibilizam e precarizam as relações. Quando a economia vai bem querem desonerar os seus custos exatamente mexendo também no no salário do trabalhador. Ora, não custa lembrar que se o Brasil tornou-se uma referência internacional neste momento de crise, somos dos maiores receptores de investimentos atualmente, a força de nossa economia está justamente no mercado interno, no poder de compra de nossa população. Cortar ou reduzir salários não é algo justo. O ímpeto de segurar salários resulta em menos consumo, daí menos emprego e desaceleração.
O fato é que importantes obstáculos ao crescimento mais robusto da economia nacional não foram tocados: as políticas monetária, cambial e fiscal. Somos um país que tem uma alta taxa de juros, isto dificulta o crédito para a indústria e estimula a vida dos especuladores, dos que vivem de renda, de papéis e não da realização de bens, de produção. Este alto juro também dificulta o equilíbrio do pagamento de nossas dividas e ainda atrai o dólar da jogatina estrangeira. Com a chegada dos recursos de fora em alto volume há a valorização de nossa moeda e isto derruba nossas exportações e estimula a importação. Em outras palavras, para sintetizar: a ação do governo foi positiva, porque mexeu-se, mas muito fraca para os reais problemas a serem enfrentados por nossa economia frente aos grandes interesses dos especuladores e de nossos competidores. Foi apenas um paliativo para amenizar a dor de cabeça, mas a causa ainda está lá, firme e forte. São Paulo, 4 de agosto de 2011.

Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *