Por Ígor Lopes
Do Rio para Mundo Lusíada
No início de março, a Casa do Minho do Rio de Janeiro perdeu um dos seus grandes nomes. Sócio-benemérito, Plácido Peixoto Fernandes teve boa parte da sua vida ligada à casa, assumindo cargos como diretor e conselheiro. Aos 80 anos de idade, Plácido deixou de luto uma mulher e dois filhos. Perto de completar um mês do seu falecimento, o Mundo Lusíada tentou desvendar a sua vida e a sua história. Tudo isso como forma de resgatar parte da memória de um membro da comunidade portuguesa carioca.
Imagine um homem que, aos 24 anos de idade, deixa a sua terra natal para se aventurar em outro país em busca de uma vida melhor. Agora, imagine essa mesma pessoa encontrando o amor da sua vida do outro lado do atlântico e, ainda, constituindo família, apostando sempre no trabalho e na honestidade.
Essa é uma história comum de milhares de emigrantes portugueses que deixaram para trás o pouco que tinham e conquistaram uma nova vida num país irmão. E essa é a história também de Plácido Peixoto Fernandes.
Plácido, que nasceu em 1931, gostava de ouvir Amália Rodrigues, mas tinha como favorita a canção “Verde Vinho”, de autoria de Paulo Alexandre. No prato, preferia bacalhau. Nos gramados tinha simpatia pelo Clube de Regatas Vasco da Gama, mas não se entusiasmava muito com futebol. Na religião, se amparava na fé em Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora Aparecida.
Freqüentava várias festas da comunidade portuguesa no Rio. Nutria um carinho especial pela Casa do Minho. Entre os amigos e familiares era conhecido também por ser um minhoto e era considerado um homem de forte caráter, que passou aos filhos valores como a importância do trabalho, da honestidade, da amizade, da solidariedade e da fé.
Um Português de Alma Minhota
Natural da freguesia de Alvarães, no concelho de Viana do Castelo, este português de alma minhota chegou ao Brasil em 1955, após cerca de 14 dias de viagem num navio da época, sem muito conforto. Deixar Alvarães foi uma decisão motivada pela carta de chamada do seu tio Abel, que estava na cidade carioca. Por cá, viviam já três irmãos de Plácido.
Em sua chegada ao Rio, Plácido se instalou no bairro da Tijuca. Como atividade profissional, atuou no ramo da panificação, como, aliás, a maioria dos lusitanos que desembarcava em nossa cidade. As padarias onde trabalhou ficavam localizadas nas Zonas Norte e Sul da cidade, além da região do Centro.
De família humilde, Plácido, que tinha nove irmãos, fez do trabalho um alicerce para fazer a vida caminhar e ajudar na formação da sua família.
Um Caso de Amor
Embora vivesse para o trabalho, ainda jovem Plácido se encantou por Maria dos Anjos, que é natural do concelho de Santarém. Maria freqüentava a mercearia onde o seu futuro marido trabalhava, na rua Haddock Lobo, 409, na Tijuca. Após um mês de muita conversa, o local acabou vendo rolar o primeiro beijo do casal: no rosto, claro. E em 8 de abril de 1967, acabaram casando. Essa união gerou frutos: nasceram Marcelo e Maurício. Este ano, o casal celebraria 45 anos de matrimônio.
Ligação Com a Comunidade
Em virtude do trabalho exaustivo e da vida corrida, Plácido foi poucas vezes a Portugal. Mas nem por isso ficava afastado das suas raízes. A porta da sua casa estava sempre aberta a visitantes portugueses.
E para se sentir mais próximo da cultura da sua terra natal, embarcou na vida institucional da Casa do Minho, após um convite de um comerciante vizinho da padaria “Grandela”, na qual Plácido trabalhava, como sócio, na rua Frei Caneca, no Centro.
Saúde Fragilizada
Ao longo do tempo, a sua saúde foi se deteriorando. Sofreu um primeiro Acidente Vascular Cerebral (AVC) em 1980. Mesmo frágil, ainda teve forças para continuar o trabalho, mas, em dezembro do ano passado, teve outro AVC. Tentou se recuperar. Por fim, problemas cardíacos acabaram tirando a sua vida no dia 4 de março.
O funeral reuniu amigos e familiares no cemitério São João Batista, na Zona Sul do Rio. A missa de sétimo dia se realizou no dia 10, na igreja de Nossa Senhora das Dores, no Rio Comprido, Zona Norte.
Segundo Marcelo Fernandes, filho mais velho do casal, o seu pai era um homem que trabalhou incansavelmente para formar sua família e que gostava da vida e do convívio com as pessoas.
“Ele simplesmente adorava estar com os amigos e familiares”, recorda Marcelo, servidor que atua como coordenador-geral de Recursos Humanos no Instituto Nacional de Propriedade Industrial, no Rio.
Aos 73 anos de idade, Maria dos Anjos sublinha que Plácido era “um bom marido, um bom homem e um bom pai”.
Na opinião de Agostinho dos Santos, presidente da Casa do Minho, Plácido era “um minhoto nato”.
“Temos saudade desse amigo que perdemos. Ele foi diretor, conselheiro, parceiro e amigo de todas as horas. A Casa do Minho, especificamente, perdeu uma das suas maiores figuras”, lamenta Agostinho.