Pesquisadores vão divulgar descobertas sobre vírus Zika gratuitamente

Mundo Lusíada
Com agencias

feira_de_saude_001Os pesquisadores e os institutos renomeados comprometeram-se a colocar gratuitamente as suas futuras descobertas sobre o vírus Zika, uma prática não habitual no meio científico, justificada pela urgência em saber mais sobre o vírus e travar a epidemia.

Numa declaração comum, as revistas Nature, Science e The Lancet, a Academia de Ciências Chinesa, o Instituto Pasteur de França, a Fundação Bill e Melinda Gates, assim como a Agência Japonesa de Investigação Médica estimaram que os dados sobre este vírus são “uma ferramenta viral na luta contra essa emergência de saúde”.

“Os signatários colocarão em livre acesso todos os conteúdos sobre o vírus Zika”, segundo essa declaração.

Na maioria dos casos, o vírus Zika provoca uma doença benigna e, por vezes, assintomática. Provoca alguns sintomas leves parecidos com a gripe (febre, dor de cabeça, dores no corpo).

No entanto, quando o vírus afeta mulheres grávidas, poderá provocar graves malformações congénitas dos fetos, em particular a microcefalia, doença que leva ao desenvolvimento anormalmente pequeno do tamanho da cabeça dos bebês, nefasto para o desenvolvimento intelectual e físico das crianças.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a explosão de casos de malformações congénitas constitui “uma urgência de saúde pública a nível mundial”.

Os investigadores assinaram a declaração conjunta enfatizando que compartilharão os dados preliminares dos seus estudos, assim como os seus dados finais “tão rapidamente e tão amplamente quanto possível”.

Normalmente, a publicação de dados científicos ou os resultados de um estudo é realizada ao fim de um longo processo e os resultados não são compartilhados antes da sua publicação numa revista científica.

“No contexto de uma emergência de saúde, é imperativo disponibilizar qualquer informação que possa contribuir para a luta contra a crise”, declararam os signatários, entre os quais estão incluídos ainda os Médicos Sem Fronteiras, a revista The New England Journal of Medicine, a revista científica PLOS, o Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul.

Os especialistas concordam que há mais incógnitas do que informações cientificamente comprovadas que envolvem o vírus Zika, que assola a América Latina, particularmente o Brasil, com cerca de 1,5 milhões de casos, e a Colômbia.

Os investigadores esforçam-se, em particular, em determinar a ligação entre o Zika e a microcefalia e procuram saber em que proporções o vírus afeta o feto. No momento, não existe vacina ou tratamento contra o Zika.

O Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) conseguiu identificar o vírus Zika em amostras de tecido de dois bebês com microcefalia que morreram no Brasil. A informação foi divulgada pelo diretor do instituto, Tom Frieden, durante um painel para membros do Comitê de Assuntos Exteriores do Congresso norte-americano.

A notícia, publicada pelo jornal USA Today e pela Fox News, afirma que Frieden explicou que novos testes ainda precisam ser feitos para que o CDC consiga confirmar a relação do vírus com a doença. Mesmo assim, para o diretor, “essa é a mais forte evidência, até agora, de que o Zika vírus é a causa da microcefalia [nos bebês cujas amostras foram analisadas]”.

Terceira Morte
O Ministério da Saúde confirmou em 11 de fevereiro a terceira morte provocada pelo vírus Zika em adultos no Brasil. O caso ocorreu em abril de 2015, mas os resultados dos exames saíram só agora. A paciente tinha 20 anos e morava no município de Serrinha, no Rio Grande do Norte.

A primeira morte foi confirmada pelo Instituto Evandro Chagas em novembro de 2015. O homem de 35 anos morava em São Luís no Maranhão e tinha histórico de lúpus, tratamento contínuo com corticosteroides, artrite reumatoide e alcoolismo. O lúpus afeta o sistema imunológico e, por isso, ele não resistiu ao vírus Zika. Ele morreu em junho de 2015.

O segundo caso de morte, também confirmado em novembro de 2015, foi de uma paciente que morreu em outubro em Benevides (PA). Uma adolescente de 16 anos, com suspeita inicial de dengue, apresentou dor de cabeça, náuseas e pontos vermelhos na pele e mucosas. A coleta de sangue ocorreu sete dias após o início dos sintomas, em 29 de setembro; a paciente, após a infecção pelo vírus Zika, desenvolveu quadro de púrpura trombocitopênica grave e hemorragias.

A maioria dos casos de morte por vírus Zika ocorreu em bebês com microcefalia. De acordo com o último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, no total, foram notificadas 76 mortes após o parto ou durante a gestação. Destas, 15 foram investigadas e confirmadas para microcefalia e/ou alteração do sistema nervoso central e cinco tiveram identificação do vírus Zika no tecido fetal. Há 56 casos ainda em investigação e cinco foram descartados.

O ministério já confirmou 404 casos de microcefalia e/ou outras alterações do sistema nervoso central, dos quais 17 estão relacionados ao vírus Zika. Foram descartados 709 casos e 3.670 casos suspeitos de microcefalia em todo o país estão sendo investigados, o que representa 76,7% das notificações. O boletim refere-se aos casos registrados até 30 de janeiro.

Vacina
O ministro da Saúde também confirmou hoje que uma vacina contra o vírus Zika pode ser desenvolvida dentro de um ano. O ministro acrescentou que o Brasil investirá, nos próximos cinco anos, 1,9 milhões de dólares (1,67 milhões de euros) no projeto.

Segundo Marcelo Castro, o prazo diz respeito ao projeto que será desenvolvido por uma parceria entre o Instituto Evandro Chagas, no Estado do Pará, e a Universidade do Texas, nos Estados Unidos.

“Poderemos desenvolver a vacina num tempo menor do que o que estava previsto. Em aproximadamente um ano poderemos ter a vacina desenvolvida”, disse o ministro.

Marcelo Castro recordou ainda que a experiência das duas instituições em pesquisas relacionadas com doenças causadas por vírus semelhantes como a Dengue, Chikungunya e Febre Amarela, deve ajudar a reduzir o tempo para a formulação de uma vacina contra o Zika.

O início dos testes não significa que a vacina será usada para imunizar a população naquele período, porque antes precisa de ser testada e aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

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