Da Redação
Com Lusa
O Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra integra um projeto internacional que conseguiu converter células da pele em células do sangue, descoberta com potencial no tratamento de doenças como leucemia.
O projeto de investigação conjunta do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC), com institutos dos EUA (Escola de Medicina Icahn no Monte Sinai), da Suécia (Centro Wallenberg de Medicina Molecular) e da Rússia (Instituto de Ciência e Tecnologia Skolkovo) foi publicado recentemente na revista Cell Reports.
“A descoberta poderá ter um grande potencial na medicina personalizada (com produtos adaptados para o organismo de cada ser humano) para tratamento de doenças como a leucemia”, garante o CNC-UC.
No artigo publicado na Cell Reports é demonstrada a reprogramação direta de células humanas da pele em células estaminais hematopoiéticas.
“Estas células estaminais são as principais precursoras dos componentes do sistema sanguíneo, formando-se num processo designado de hematogênese. Este processo foi alcançado em laboratório com a utilização de três proteínas (GATA2, FOS e GFI1B)”, explica o Centro, em comunicado.
Filipe Pereira, investigador do CNC-UC e coordenador do projeto, refere que “o estudo é o primeiro a demonstrar a reprogramação direta em células hematopoiéticas humanas”, que poderá ser um primeiro passo no caminho de conseguir gerar células estaminais sanguíneas perfeitamente funcionais no laboratório.
“No futuro, estas células reprogramadas poderão ser transplantadas em doentes com doenças no sangue”, explica Filipe Pereira, adiantando que “é extremamente interessante que apenas três proteínas consigam causar uma mudança tão drástica e que sejam conservadas evolutivamente entre ratinhos e humanos”.
Segundo o Centro, o estudo demonstrou que a GATA2 lidera esta combinação de três proteínas, uma vez que recruta as restantes duas para ativar o processo de hematogênese e “desligar” o programa normal das células da pele.
Estes mecanismos foram testados em ratinhos. E, após um período de três meses, comprovou-se que as células convertidas contribuem para a formação de novo sangue humano nestas cobaias.
“Após o transplante das células hematopoiéticas estaminais em ratinhos ter sido bem-sucedido, o próximo passo será aumentar a eficiência e a qualidade das células enxertadas para que contribuam para a formação de sangue durante maiores períodos de tempo”, acrescenta o coordenador do estudo.
Os investigadores pretendem “tornar este processo uma realidade na medicina personalizada, em doenças do sangue como a leucemia”.
Além de Filipe Pereira, o artigo “Cooperative Transcription Factor Induction Mediates Hemogenic Reprogramming” conta igualmente com Andreia Gomes (CNC-UC) como autora principal. O estudo foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (Portugal), pela Fundação Knut e Alice Wallenberg (Suécia), e pelo Instituto Nacional de Saúde (EUA).