Pesquisador alerta para o risco de a dengue chegar a Portugal além dos casos importados

Agentes de saude da cidade de São Paulo em ação com drone em prédios abandonados, à procura de focos do mosquito transmissor. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Da Redação com Lusa

O médico e investigador Marcelo Urbano Ferreira alertou para o risco de aumentar em Portugal o número de casos de dengue importados e da sua introdução em Portugal, uma vez que já existem neste país mosquitos transmissores.

“Se houver seres humanos infectados, potencialmente existe o risco de introdução da dengue em Portugal continental, o que ainda não se registrou”, disse o investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) à Lusa, a propósito do elevado número de infecções que se regista no Brasil, que este ano já ultrapassou os dois milhões de casos, um número recorde.

Marcelo Urbano Ferreira indicou que o número de casos registrados em Portugal continental – todos importados – não ultrapassa uma dúzia por ano e referem-se “a viajantes que, de alguma maneira, se expuseram à transmissão fora do país”.

O risco, contudo, está presente através de “pessoas infectadas e condições climáticas ou ambientais para a proliferação de mosquitos capazes de transmitir o vírus da dengue. Nesse caso, infelizmente não só Portugal, mas vários países do sul da Europa já têm vetores potenciais da dengue adaptados às condições locais”.

“O risco existe e de dois tipos. Temos brasileiros que vivem em Portugal, indo ao Brasil e retornando eventualmente infetados e portugueses que, por turismo ou outros motivos, se deslocam a áreas de alta transmissão”, acrescentou.

O investigador considera que “o que ajuda Portugal e outros países do hemisfério norte é que, no momento em que há os grandes surtos no hemisfério sul, a abundância de mosquitos aqui [em Portugal] – por ser uma época mais fria do ano – é menor. Isso ajuda muito, mas a transmissão de dengue não está restrita ao hemisfério sul, muito pelo contrário; temos vários países da Ásia, no hemisfério norte, com grande quantidade de casos de dengue”.

“Claro que no caso de Portugal chama muito a atenção o que se passa na América latina e particularmente no Brasil por causa dos laços e da mobilidade frequente da população entre estas duas regiões, mas existe uma quantidade relativamente grande de portugueses que vão em negócios ou em turismo para países do sudeste asiático, do sul da Ásia, países onde existe a transmissão de dengue na época correspondente ao verão em Portugal, o verão do hemisfério norte”, acrescentou.

O especialista defende, como prevenção individual, a vacina que já está disponível desde o final do ano passado e que é “a arma mais recente”.

E sugere outras medidas, como o uso de repelentes e de roupas com mangas compridas para evitar as picadas dos mosquitos que, neste caso, têm hábitos diurnos.

Vacinação No Brasil

O Brasil vai reforçar a vacinação e adicionou mais 154 cidades à lista de prioridades para reduzir os impactos da dengue, que em menos de três meses já matou 830 pessoas e infetou 2,3 milhões.

A partir de agora, de acordo com informações divulgadas pelo Ministério da Saúde, em conferência de imprensa em Brasília, serão cerca de 700 cidades espalhadas um pouco por todo o país.

De acordo com o último boletim, até quarta-feira passada, o Brasil registou 2.323.150 casos prováveis de dengue, 830 mortes confirmadas e ainda 1.269 mortes em investigação. “A letalidade de óbito sobre o total de casos prováveis está em 0,04%”, indicaram as autoridades brasileiras.

As autoridades insistem que a primazia do combate deve passar pela prevenção e pela eliminação dos criadouros do mosquito ‘Aedes aegypti’, mas, dado o aumento exponencial e recorde de casos, já foram enviadas para o sistema público 1.235.119 doses da vacina, que necessita de duas doses para ter graus elevados de eficácia.

“Diante da pouca oferta de doses por parte da fabricante, o foco segue na eliminação dos criadouros do mosquito”, reforçaram as autoridades brasileiras.

Do total de vacinas, 534.631 foram registradas como aplicadas, enquanto 700.488 ainda não foram registradas. A acrescentar, serão ainda distribuídas mais 930 mil doses para as cidades incluídas na lista de vacinação.

“Estamos mantendo o público entre 10 e 14 anos, que concentra a maior proporção de hospitalização pela doença e para o qual a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] autorizou a vacina. Lembramos que a vacina é importante, mas o nosso foco ainda é eliminar criadouros do mosquito e cuidar”, escreveu nas redes sociais, na quarta-feira, a ministra da Saúde do Brasil, Nísia Trindade Lima.

As autoridades brasileiras estão também numa corrida contra o tempo, já que existem 668 mil doses cujo prazo de validade está previsto para 30 de abril, 523 mil em junho, e 84 mil em julho.

Em conferência de imprensa, o diretor do Departamento do Programa Nacional de Imunização (DPNI), Eder Gatti, frisou: “Não podemos deixar essas doses vencerem [o prazo de validade]”.

“Diante disso, o Ministério trouxe uma solução: redistribuir, dentro das unidades federadas, ou seja, dentro dos estados, para municípios que ainda não foram contemplados”, detalhou.

No final do primeiro mês do ano, quando ainda estavam registrados apenas 217 mil casos prováveis de dengue, as autoridades de saúde do Brasil estimaram que os casos no país poderão variar entre 1.462.310 e 4.225.885 casos este ano.

“Caminha para o pior cenário”, resumiu na quarta-feira, em conferência de imprensa a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel.

Os estados do Acre, Amapá, Goiás, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e o Distrito Federal decretaram situação de emergência em saúde pública.

Entretanto há relativas boas notícias já que em Acre, Amapá e Amazonas, na Região Norte, Espírito Santo, Minas Gerais e grande parte da região do Centro Oeste brasileiro os casos “já chegaram no pico e estão a descer”, disse Ethel Maciel.

Apesar do município do Rio ter anunciado dia 29 o fim da epidemia de dengue na cidade, a Secretaria de Saúde do Estado decidiu manter o decreto que classifica como epidemia por dengue a evolução de casos da doença no estado do Rio. Segundo a secretaria, “embora municípios tenham autonomia para declarar e revogar os próprios decretos sobre epidemias em seus territórios, os parâmetros epidemiológicos avaliados diariamente pelos técnicos do Centro de Inteligência em Saúde da SES-RJ ainda indicam alto o número de casos e a taxa de incidência da doença, que segue acima de mil casos por 100 mil habitantes na maioria das cidades fluminenses”.

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