Estudos de grandes instituições vêm sendo publicados nos últimos dias e eles requerem atenção para as perspectivas do ano. Muitos economistas apontam que a grave crise financeira internacional iniciada em 2008 perdeu seu poder e os países centrais, os mais poderosos do mundo, estariam agora caminhando rumo a um restabelecimento de condições, ou seja, começando a apresentar sinais positivos de crescimento, embora sem grandes euforias.
O Fundo Monetário Internacional – FMI há pouco publicou um relatório que dá elementos para esta abordagem. Faz uma previsão de crescimento da economia global em 2014 apontando para uma alta geral de 3,6%, ainda que um pouco abaixo do que se esperava em janeiro, que era 3,7%. Observando-se, então, apenas as economias desenvolvidas, espera-se um crescimento geral de 2,2%. Especificamente no caso da maior economia do mundo, os EUA, se aposta que cresçam algo em torno de 2,8% neste ano, após o 1,9% de 2013. Para a economia chinesa, o FMI arrisca em uma alta de 7% em 2014, algo ainda baixo perto dos dois dígitos que atingiam antes da crise.
No caso dos países em desenvolvimento, os emergentes, a média atingirá 4,9%. Somente dentro do grupo intitulado Brics (reunindo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a Índia deve crescer 5,4%, a África do Sul, 5,3% e a Rússia deve registrar o pior desempenho, com alta de 1,3% em 2014. O FMI acredita que neste ano o Brasil deve crescer apenas 1,8%, menos ainda que em 2013, quando chegou aos 2,3%. Desempenho fraco. Na América do Sul, a expectativa é que, juntos, os países sul-americanos cresçam 2,3% este ano. Aliás, neste 17 de maio, Portugal concluiu um duro período de três anos sob a tutela do FMI / UE com vistas a sanear suas finanças, através de um resgate de 78 bilhões de euros (R$ 236,3 bilhões) a ser pago nas próximas décadas. Para o FMI, o país deve ter um crescimento em torno de 1,2% e uma ruim taxa de desemprego de 15,7% neste ano.
Outra importante instituição, o Banco Mundial, também apresentou números relativos à economia internacional e qualificou, com base em dados entre 2005-2011, que o Brasil tornou-se a sétima economia do mundo, a Índia desbancou o Japão e chegou na terceira colocação, sendo os nipônicos agora o quarto lugar, depois Alemanha e Rússia. A China é a atual vice-campeã e os EUA permanecem em primeiro. Porém, o crescimento acelerado aponta para a possibilidade de a economia chinesa superar a norte-americana ainda neste ano, o que seria um resultado histórico.
Em meio a estas estatísticas recentemente publicadas, outro estudo ganha destaque. A CEPAL – Comissão Econômica para América Latina e Caribe, no documento “Pactos para a igualdade: em direção a um futuro sustentável”, acaba de alertar para o fato de que o índice de pobreza na América Latina vem diminuindo nos últimos 11 anos. Uma notícia formidável. A taxa de pobreza populacional caiu de 43,9% conforme registrado em 2002, para 27,9% em 2013. Contudo, há preocupação rondando. Isto porque, as taxas de crescimento não estão sendo mantidas, o que pode causar a perda da geração de empregos, fundamental para os bons resultados no ataque à pobreza que vem se dando nestes anos. Está ocorrendo uma desaceleração entre 2012 e 2013. Para a Cepal os países da região deverão crescer em média 2,7% em 2014, número levemente superior ao de 2013, que foi 2,5%. É um dinamismo enfraquecido nas principais economias latino-americanas. Para a Comissão, explica-se que o consumo privado e não o investimento foram os destaques no período e é preciso cuidado, chegando agora a seus limites a estratégia utilizada.
O alerta da CEPAL faz todo sentido. Observando o caso brasileiro, conseguimos durante os últimos anos passar pela grave crise com boa estabilidade. Tivemos crescimento, não tivemos desemprego, inflação alta ou necessidade de buscarmos crédito no sistema financeiro internacional como muitos fizeram. Todavia, aos poucos, itens como a elevação dos preços e o fraco desempenho do PIB já nos preocupam. As taxas de juros sobem para conter a inflação e isto, por tabela, também prejudica investimentos produtivos necessários e os incentivos ao emprego. Não estamos tão ruins como alguns catastrofistas apregoam, mas, também já estivemos bem melhor, isto é verdade. É preciso muito cuidado nesta hora, o que vai ser meio complicado, convenhamos, especialmente em um ano eleitoral onde o tiroteio previsto não será pequeno. Emoções não faltarão.
São Paulo, 16 de maio de 2014.
Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo.